Agronegócio

Vacinação: Vacina engatilhada

A vacinação contra a aftosa ainda é obrigatória no estado e a próxima temporada terá início em 1º de maio. A doença está sob total controle no território mineiro. E é por isso que os pecuaristas defendem um passo à frente no status: de livre da febre sem a necessidade da aplicação da vacina. Neste cenário, os criadores teriam custos menores e animais sem o sofrimento da aplicação. Para conquistar mercados, a brucelose e a tuberculose também estão na mira. Nos dois casos ainda há uma incidência pequena em Minas, que pode ser extinta se o programa de erradicação deixar de ser voluntário e passar a ser obrigatório.

Saúde dentro dos conformes

Pecuaristas mineiros querem ver o estado como livre da aftosa sem vacinação. Certificado para confirmar ausência de brucelose e tuberculose nas propriedades rurais também é bem-vindo

O controle da sanidade animal é capaz de declarar que territórios estão livres de doenças como a febre aftosa, brucelose e tuberculose, mas também é decisivo para garantir a saúde do rebanho e a qualidade dos alimentos que chegam à mesa do consumidor brasileiro. Além dessas fronteiras, a boa saúde animal é a chave para abrir novos mercados ao produto nacional. No momento em que o país assume a posição de primeiro exportador mundial de carne bovina, os produtores de Minas esperam ver o estado livre da vacinação obrigatória contra a febre aftosa e ainda engrossam o pleito nacional para tornar regra o registro que certifica as propriedades rurais como livres da brucelose e tuberculose.

O território mineiro foi declarado isento da febre aftosa com vacinação pela Organização Internacional de Saúde Animal (OIE, na sigla em inglês) em 2010. O último foco da doença foi registrado em Oliveira, Região Centro-Oeste, em 1996. O controle sanitário feito pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) garante a vacinação do rebanho, atingindo percentuais que variam entre 97,5% e 99%. Após a retomada do status de área livre de aftosa com vacinação, Minas Gerais busca agora um novo reconhecimento: o de área livre de febre aftosa sem vacinação, como ocorre em Santa Catarina, no Sul do país. O status tem relevância econômica, já que permite acesso a mercados internacionais com restrições para compra de carne fresca.

Em maio, o rebanho do estado começa novo ciclo de vacinação contra a aftosa, obrigatória para todos os bovinos, bubalinos, ovinos e caprinos. Sérgio Luiz Monteiro, gerente de Defesa Sanitária do IMA, explica que a maior dificuldade enfrentada para não ser mais necessário o uso da vacina em Minas Gerais é que a medida não pode ser tomada de forma isolada. Tem que ser feita em bloco. Como o estado registra grande trânsito de animais, vindos de norte a sul do país, é importante que outros estados também participem da medida. “A área livre da vacinação deve atingir também os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, o que é um processo de médio a longo prazo.”

Custo Elevado

Rivaldo Borges Júnior, pecuarista em Uberaba, Triângulo Mineiro, e diretor da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), reforça que o calendário de vacinação é cumprido à risca. “Há mais de 15 anos não temos um caso da doença em Minas. Nos estados vizinhos o controle também é bom.” Com o argumento sanitário, o pecuarista defende a liberação da vacina por dois motivos. O primeiro, segundo ele, é o custo do produto, que ficou cerca de 70% mais caro nos últimos dois anos , variando entre R$ 1,80 e R$ 1,90 a dose, pressionando, principalmente, as despesas do pequeno produtor. “Não é apenas a vacina, existe todo um empenho para o manejo do gado que será vacinado.”

Rivaldo diz que o processo também penaliza os animais, provocando efeitos colaterais. “Muitos têm tumores na região do pescoço que podem demorar até seis meses para ser curados, o que incomoda o animal.” Este seria o outro motivo para a liberação da vacina contra a aftosa no estado.

O presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Rodrigo Alvim, também produtor em Minas Gerais, diz que os animais mais velhos, que já foram vacinados por várias vezes contra aftosa, poderiam ser isentos do processo. Para o pecuarista Rivaldo Borges, a vacina deveria ser subsidiada. “Como o estado já está isento de focos da doença e o produtor tem cumprido á risca suas obrigações, ela agora deveria ser custeada pelo gestor público.”

Produtor em Santa Vitória, no Triângulo Mineiro, Ubaldo Severino Franco tem um rebanho de pouco mais de 1 mil cabeças. Ele diz que na sua região o controle sanitário é rigoroso e tem garantido a boa aceitação da carne. A fazenda de Ubaldo é credenciada para vendas para a União Europeia, o que confirma as condições adequadas da saúde dos animais.

Erradicação abre mercados

Reformular programa que controla o fim das doenças poderia melhorar as condições de venda da carne bovina produzida em todo o país. Criação de fundos para ressarcir perdas é outro ponto em discussão

Proteger os animais contra doenças como a brucelose e a tuberculose também está no foco do produtor rural. Do sucesso da medida depende a abertura de mercados como da União Aduaneira, que reúne o da Rússia, Bielorússia e Cazaquistão, grandes importadores de leite, mas que não compram o alimento de países onde as doenças não foram erradicadas.

Entidades ligadas ao setor agropecuário defendem a reformulação do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal (PNCEBT). “Esse programa não avança no país porque é voluntário e não obrigatório”, diz Rodrigo Alvim, presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Segundo ele, deveria ser criado um fundo para ressarcir o produtor por animal sacrificado em virtude de uma das doenças. Programa semelhante existe no Rio Grande do Sul, com adesão de pelo menos 14 municípios. “Com a certificação sanitária, o Brasil pode atingir mercados como o russo, que é o segundo maior importador mundial de leite”, defende Alvim.

Contra a brucelose, Minas Gerais é um dos estados que saiu na frente na vacinação de bezerras. Sérgio Luiz Monteiro, gerente de defesa sanitária do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), explica que a doença provoca o aborto no animal e muitas perdas econômicas, por isso existe o fomento da vacinação em fêmeas de três a oito meses de vida. Também há o trabalho com veterinários credenciados, que identificam a doença. Segundo o IMA, das 340 mil propriedades rurais registradas no estado, apenas 60, ou 0,01% do total, são certificadas como livres da brucelose ou tuberculose.

Mesmo o percentual de certificação sendo ainda inexpressivo, os índices são positivos. Trabalho que será divulgado em breve pelo IMA mostra que a prevalência da brucelose hoje atinge 3% das propriedades. Em 2000, esse percentual era de 6,4%. Já nos animais, a doença atinge 0,6% do rebanho. Em 2000, a prevalência nos animais era de 1,6%.

Os números da tuberculose ainda estão sendo fechados. A esperança é que as taxas sejam menores que as observadas em 1999, quando a doença atingia 5% das propriedades rurais e 0,85% dos animais.

Sacrifício

Procurado pela reportagem, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) ressalta que não tem a intenção de tornar a certificação de propriedades obrigatória no país. O ministério reforça que todos os animais diagnosticados positivos, tanto para brucelose quanto para tuberculose, são obrigatoriamente sacrificados, como forma de evitar a disseminação das doenças. Para o sacrifício executado por causa do diagnóstico de tuberculose, está prevista a indenização em um quarto do valor de avaliação dos animais.

Já para a brucelose não está prevista indenização. O Mapa informa que estimula a criação de fundos de indenização estaduais para amparar o controle dessas doenças. Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e o Distrito Federal já contam com fundos de indenização para brucelose e tuberculose, e o Paraná apenas para tuberculose.
 

Preços firmes no horizonte
 
Minas Gerais atingiu o posto de maior exportador de carne bovina e este ano a demanda do mercado internacional, associada à seca que castiga diversas regiões do estado e do país, sinaliza preços melhores pagos pela arroba do boi ao produtor. No Norte de Minas, a arroba está sendo comercializada a R$ 100,50 e no Triângulo Mineiro atinge R$ 117. Para dezembro, apesar do período de safra, o mercado futuro aponta para a manuteção do cenário.

João Gustavo de Paula, presidente da Associação dos Criadores de Gado de Corte do Norte de Minas, lembra que no ano passado, nessa mesma época do ano, a arroba do boi na região era comercializada próximo a R$ 90. “Enfrentamos uma seca forte no estado, o que aumenta os custos com a alimentação do rebanho. Apesar da influência do clima, não deve faltar produto no mercado, mas os preços devem continuar atrativos para o produtor, que teve nos últimos anos forte reajuste dos custos.”

José Alberto de Ávila Pires, coordenador de pecuária de corte da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), diz que a escassez de chuva faz crescer a prática do confinamento no estado, sensível aos preços do milho. Ávila conta que em março a saca de 60 quilos do grão chegou a ser comercializada por R$ 30, quando há um ano custava entre R$ 23 e R$ 25. “Tudo vai depender também da colheita da safrinha de milho, que começou a ser plantada em fevereiro e março, e em algumas regiões, como o Mato Grosso, desde janeiro.” Segundo ele, se o resultado da safrinha for satisfatório, pode segurar o encarecimento do produto, aliviando os custos para a pecuária. (MC)

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