Adubação, Solos e Pastagem

Transgênicos: Razões e Emoções em debate

A produção de OGMs (organismos geneticamente modificados) consiste na manipulação do DNA, o código genético de qualquer ser vivo. Os genes, transferidos para o novo organismo, integram-se a ele, dando-lhe características que não tinham originalmente. Experimentos com transgênicos vêm sendo desenvolvidos em países como Estados Unidos, Argentina, Canadá, Austrália, México, Espanha, entre outros. Tal produto despertou o interesse de empresas, centros de pesquisas e produtores, devido a várias vantagens, como alta lucratividade, redução de custos e pela possibilidade de se oferecer alimentos mais resistentes a pragas, herbicidas, com qualidades nutricionais e/ou terapêuticas acentuadas. Esta última caracteriza-se como a terceira onda dos alimentos transgênicos quando, por exemplo, uma banana geneticamente manipulada poderá ser empregada amplamente para o combate da diarréia infantil.

O debate atual sobre o uso de plantas geneticamente modificadas está demasiadamente concentrado em alguns poucos produtos que chegaram ao mercado nos últimos três anos, frutos da chamada primeira onda da engenharia genética, caracterizada pela manutenção das características do produto convencional, em relação aos produtos geneticamente modificados e seus derivados. Enquanto em países do Primeiro Mundo já há pesquisas na terceira onda de transgênicos, no Brasil ainda discute-se se vale ou não a pena aceitar os derivados da primeira onda. Muitos têm se utilizado de argumentos emocionais, em detrimento de afirmações com base científica. No fundo, uma discussão apaixonada tem permeado o debate, servindo mais para confundir do que para explicar com clareza os fatos ao consumidor brasileiro.

Os produtos geneticamente modificados são uma evolução natural da engenharia genética, e a Embrapa tem se preparado para isso há 15 anos, pois acreditamos que o uso seguro da engenharia genética desempenhará papel de alta relevância no desenvolvimento sustentável da economia nacional, pelas possibilidades que traz de redução de custos de produção e de impactos ambientais no meio rural. É preciso que se diga que qualquer produto transgênico, antes de chegar ao mercado, passa por uma rigorosa análise da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). Esta comissão – formada por representantes da sociedade civil, Ministério da Agricultura, Saúde e Justiça – exige cumprimento de normas que vão desde o início de pesquisas em laboratório, até o consumidor final, passando por testes de campo e todas as fases de manipulação genética. Vejamos resumidamente, quais são os passos para a produção de um alimento geneticamente modificado:

  • A empresa forma uma comissão interna de biossegurança;
  • Esta comissão interna deve garantir que a empresa atenda a uma série de exigências para obter o Certificado de Qualidade de Biossegurança, emitido pela CTNBio e que libera para pesquisas na fase chamada de Risco 1, considerado baixo.
  • A partir da fase de Risco 2, quando o projeto começa a chegar em casas de vegetação e laboratórios, há necessidade de autorização da CTNBio para cada etapa de avanço. Apenas um dos questionários exige 40 respostas, que são analisadas pelos integrantes da Comissão.
  • A CTNBio passa a acompanhar toda a pesquisa, realizando monitoramento, inclusive da última etapa, os testes de segurança alimentar, realizados em laboratórios especializados.
  • Quando todos os testes são concluídos, relatório final é encaminhado a CTNBio, que emite parecer conclusivo sobre a liberação do produto para comercialização, e envia este parecer para os Ministérios da Saúde, da Agricultura e Abastecimento e do Meio Ambiente, que irão finalmente autorizar o consumo do alimento geneticamente modificado. Mesmo com todas as preocupações de segurança de OGMs, há aqueles que temem os produtos transgênicos. Uma das razões alegadas é que haveria risco de os vegetais geneticamente modificados possam ter seus gentes transpostos e acabem em outros seres vivos. Ou seja, um gene que faz a laranja ficar mais resistente a pragas, por exemplo, chegue, de maneira indesejável a outros tipos de laranja. No Brasil, as instruções em vigor não permitem que se manipule geneticamente vegetais em que o país é centro de origem, sob pena de alteração na planta original.

Outra característica dos mais temerosos é sobre a falta de testes suficientes em seres vivos para verificar a implicação de um alimento deste tipo na saúde. Neste caso, países com tecnologias mais avançadas já fizeram os testes necessários, e não identificaram qualquer indício de perigo à saúde humana e muitos produtos geneticamente modificados, como a soja e o milho por exemplo, vêm sendo consumidos desde 1997 nos Estados Unidos, aprovados pelo FDA, USDA e EPA. Será que estas renomadas instituições não merecem o nosso crédito?

Outro ponto bastante polêmico é o fato do consumidor desconhecer quando está ingerindo um alimento com algum tipo de transformação genética. Esta discussão ainda é forte na Europa e já chegou ao Brasil, que já se posicionou pela rotulagem obrigatória dos alimentos geneticamente modificados e uma proposta de portaria sobre este assunto está em consulta pública. Deve-se deixar bem claro, por fim, que há mercado para produtos tradicionais e transgênicos. Não se está propondo aqui o predomínio absoluto dos OGMs. No final das contas, assim como nos ditames da economia, é o mercado quem decidirá o destino de organismos geneticamente modificados.

Processo para detecção de planta transgênica

A Embrapa Hortaliças acaba de criar um processo de detecção de planta transgênica. O método, desenvolvido pelo pesquisador Antônio Carlos Torres, é extremamente simples e barato, podendo ser utilizado por qualquer pessoa. Desenvolvido inicialmente para detecção de alface com resistência ao glisofato, revelou-se eficiente também para soja.

O resultado sai em 5 dias e o custo é de menos de cinquenta centavos por planta pesquisada.

Há atualmente no mercado dois métodos para detecção de material transgênico: o de uma firma norte-americana, com custo de mil dólares e capacidade de testar 100 plantas por kit. O outro método é o de exame de DNA da planta, também com alto custo e necessidade de pessoal especializado.

Numa mistura de água e glifosato (herbicida utilizado nas lavouras de soja), uma semente de soja é colocada em um tubo de ensaio por cinco dias. Aquelas que desenvolverem raízes possuem modificação transgênica. "Esse é um método rápido, eficiente e simples, acessível a qualquer um, o que vai facilitar muito a descoberta de material transgênico", afirma Torres.

A detecção de sementes transgênicas tem sido uma questão importante para a agricultura e indústria brasileiras. Há hoje no país a entrada de sementes transgênicas de soja, pela fronteira sul do país, sem que haja ainda autorização para o cultivo de transgênicos por parte do governo brasileiro.

Com esse método, o pequeno produtor que estiver inseguro da procedência do material a ser plantado em sua propriedade e o pequeno empresário de uma indústria de processamento de soja, por exemplo, podem ter, de forma barata e rápida, certeza de que o material que adquiriram não é transgênico. Há ainda a questão da certificação de material não-transgênico, uma exigência de mercados europeus e asiáticos, que vai ficar extremamente facilitada.

Clique aqui para Comentar

Você precisa fazer o login para publicar um comentário. Logar

Deixe sua Resposta

Mais Lidas

Topo