Adubação, Solos e Pastagem

Silagem de Girassol

Compreende-se como silagem, o produto resultante da fermentação de plantas forrageiras contendo adequadas quantidades de água e de matéria seca, que preserva, parcial ou totalmente, o valor nutritivo do material vegetal que lhe deu origem. Compreende-se como ensilagem, o processo empregado para obtenção da silagem.

O objetivo principal da silagem consiste na conservação da qualidade nutritiva de um alimento (planta forrageira), que deverá ser fornecido aos animais no período em que o volume de forragem é menor, em função da ocorrência de adversidades climáticas no ambiente de produção da planta forrageira. Portanto, a qualidade nutritiva do alimento é obtida no campo de produção vegetal. Na melhor das hipóteses, a ensilagem conserva a qualidade do produto colhido.

A produção de silagem é diretamente dependente de microorganismos, que são responsáveis pelo processo fermentativo e a consequente produção de ácidos orgânicos, os quais estão diretamente envolvidos com a conservação do valor nutritivo do alimento.

Segunda Silva (1.997), o processo de conservação do alimento fundamenta-se na eliminação do ar da massa vegetal a ser ensilada, propiciando a formação de um ambiente anaeróbico, no qual desenvolve-se o processo fermentativo, conforme as seguinte etapas:

1) produção de CO2 e geração de calor, proveniente da respiração celular. Dessa forma, ocorre a ruptura das células vegetais, possibilitando o rápido início do processo de produção de ácidos;

2) no início da produção de ácidos,  principalmente ácido acético, responsável pela queda inicial do pH. Nesta fase encontram-se envolvidos os microorganismos coliformes (enterobactérias) presentes como contaminantes de solo aderido às máquinas agrícolas e às próprias plantas por ocasião da colheita;

3) início da produção de ácidos lático, estimulada pela presença de bactérias láticas pertencentes ao gênero Lactobacillus, Pediococcus, Streptococcus e Leuconostoc. Estas três primeiras etapas duram de 3 a 4 dias;

4) intensa produção de ácido láctico, com duração aproximada de 15 dias.

5) fase dependente da anterior: caso a produção de ácido láctico tenha sido suficiente, a silagem permanece estável; caso a produção de ácido láctico tenha sido insuficiente, inicia-se a produção de ácido butírico, seguida da degradação de proteínas, perda de qualidade nutritiva e desperdício da silagem. Neste caso, normalmente observa-se a presença de microorganismos causadores de podridões, bolores, mofos e degradação de proteína, pertencentes ao gênero Clostridium, podendo resultar na produção e acúmulo de toxinas como cadaverina e putrescina, que podem causar a morte dos animais consumidores da silagem estragada.

Como padrões de qualidade de uma silagem e/ou de um processo de ensilagem, pode-se citar os seguintes índices técnicos: a)mínimo de 2,0% a 3,0% de carboidratos solúveis à base de massa úmida (verde) na planta ou massa a ser ensilada; b) pH abaixo de 4,0 para inibição do desenvolvimento de microorganismos do gênero Clostridium: c) teor de matéria seca entre 30% e 35% para inibição de microorganismos pertencentes ao gênero Clostridium, facilitar a  compactação da massa, impedir a formação de efluentes, impedir excessiva acidificação da silagem e aumentar o consumo voluntário da silagem pelos animais; d) presença de anaerobiose na massa ensilada para permitir a rápida acidificação do meio e impedir o desenvolvimento de microorganismos causadores de podridões e bolores; e) temperatura ambiente da massa ensilada entre 26ºC e 32ºC pois, valores muito altos indicam excessiva fermentação e má compactação do material, resultando em silagem de pior qualidade nutritiva.

Como o material a ser ensilado é proveniente da cultura de campo, tem-se que a qualidade nutritiva da planta forrageira depende da própria espécie cultivada, da idade da planta ou época fenológica de sua colheita, das condições de clima, de solo e do próprio manejo ou sistema de produção adotado. Por sua vez, a qualidade da silagem obtida depende dos fatores anteriores e do próprio processo de ensilagem.

A planta ideal para produção de silagem caracteriza-se pelos seguintes quesitos: a) alta produtividade de matéria seca (matéria seca/unidade de área) possibilitando a redução do custo do alimento, preferencialmente com teor de matéria seca superior a 30% no momento da colheita; b) elevado valor nutritivo e qualidade; c) apresentar teor mínimo de carboidratos solúveis igual a 2,0% a 3,0% à base de massa úmida (verde); d) apresentar baixo poder tampão, isto é, baixa resistência ao abaixamento de pH.

Os teores de água e de matéria seca são fatores determinantes para o sucesso do processo de ensilagem e dependem da idade de corte da planta forrageira. Para o girassol, como para a maioria das plantas forrageiras, o teor de matéria seca deve ser superior a 30%, porém, não deve exceder a 35% para não dificultar o processo de expulsão do ar por meio da compactação da massa a ser ensilada.

A quantidade de água, também depende da idade da planta forrageira, não deve ser excessiva pois, caso contrário, dificultará a acidificação da massa e possibilitará a perda de nutrientes devido à produção de efluentes que serão lixiviados do silo.

Quanto à melhor idade de corte das plantas de girassol para ensilagem, existem controvérsias a nível nacional, motivo pelo qual algumas pesquisas vêm-se desenvolvendo sobre esse assunto.

Quando jovem, isto é, antes da antese ou por ocasião do início da antese de seus capítulos, o girassol apresenta elevado valor nutritivo, porém, com insuficiente teor de matéria seca. Quando mais maduro, após a antese e em processo de enchimento dos aquênios e maturação dos capítulos, apresenta-se com maior teor de matéria seca, porém, passa a ser discutível o seu valor nutritivo, quando comparada a outras plantas forrageiras.

Comparado à planta de milho, o girassol chega a produzir maior quantidade de massa vegetal úmida por unidade de área. Entretanto, dificilmente supera essa gramínea em quantidade de matéria seca/área. Porém, quando bem feita, a silagem de girassol pode superar em qualidade as silagens de milho e sorgo, com vantagens econômicas sobre o milho, principalmente quando o mercado desse cereal apresenta-se fortemente competitivo.

Recentemente, Almeida et al. (1995) estudando a nutrição de ruminantes com fornecimento de silagens de girassol colhidos aos 90 dias de idade, milho cultivar AG-303 colhido aos 113 dias e sorgo cultivar AG-2002 colhido aos 104 (grãos leitoso) e aos 113 dias (grãos semi-duros), obtiveram os seguintes resultados para girassol, milho, sorgo (104 dias) e sorgo (113 dias), respectivamente: a) 30,1%, 32,8%, 29,6% e 30,7% de matéria seca; b) 11,7%, 8,7%, 7,2% e 8,0% de proteína bruta; c) 7,3%, 4,6%, 3,5% e 4,7% de proteína digestível; d) 3.107 Kcal/Kg, 2.914 Kcal/Kg, 2.587 Kcal/Kg e 2.714 Kcal/Kg de energia digestível; e) 2.548 Kcal/Kg, 2.390 Kcal/Kg, 2.121 Kcal/Kg e 2.226 Kcal/Kg de energia metabolizável; f) 61,0 g/UTM/dia, 61,0 g/UTM/dia, 49,5 g/UTM/dia e 56,7 g/UTM/dia para consumo voluntário de matéria seca; g) 4,4 g/UTM/dia, 2,7 g/UTM/dia, 1,7 g/UTM/dia e 2,8 g/UTM/dia para consumo voluntário de proteína digestível; h) 198,9 Kcal/UTM/dia, 199,7 Kcal/UTM/dia, 139,3 Kcal/UTM/dia e 178,3 Kcal/UTM/dia. Os autores concluíram que as silagens de girassol e de milho foram as melhores.

Referências Bibliográficas

ALMEIDA, M.F. de; TIESENHAUSEN, I.M.E.V. von; AQUINO, L.H. de; CARVALHO, V.D. de; ROCHA, G.P.; SILVA, M. das G.C.M. Composição química e consumo voluntário das silagens de sorgo, em dois estádios de corte, girassol e milho para ruminantes. Ciência e Prática v.19, n.3, p.315-321, jul./set 1.995.

SILVA, S.C. da. Ensilagem. Pecuária de Corte. v.7, n.65, p. 93-97, abril/1.997.

Clique aqui para Comentar

Você precisa fazer o login para publicar um comentário. Logar

Deixe sua Resposta

Mais Lidas

Topo