Adubação, Solos e Pastagem

Renovação e Manutenção de Pastagens

1 – Introdução

Por definição, renovação de pastagem se refere à técnica ou conjunto de técnicas que se aplicam a uma pastagem cultivada em certo estado de degradação. Esta degradação está associada a um ou vários fatores determinantes. Os principais fatores são: manejo inadequado, invasão de plantas indesejáveis, falta de adaptação da espécie forrageira, baixa fertilidade do solo e incompatibilidade entre as espécies associadas etc.

Grande parte da área de pastagem no Brasil se encontra em algum estádio de degradação. Nos cerrados, por exemplo, é estimado que 80% dos 50 milhões de hectares apresentam sinais de degradação (Kitchel, 1997). Pode haver situações em que o estado de degradação da pastagem está caracterizado por apresentar apenas redução na produção de forragem, o que pode ser ajustado pela adubação de correção e de formação. Um dos problemas nesta prática é definir os nutrientes limitantes para sua correção e formação.

2 – Adubações Corretivas e de Formação

Assim sendo, estudou-se (Townsend et al, 2001) (Figura 1) em uma pastagem de Brachiaria brizantha, com oito anos de uso, os efeitos de uma adubação completa com 120kg de N, 100kg de P2O5, 100kg de K2O, 50kg de S, 30kg de FTE-BR 12 e 2t/ha de calcário dolomítico, acompanhada do uso de um elemento faltante (diagnose por subtração). Os tratamentos estudados foram adubação completa (T1), completa menos nitrogênio (T2), completa menos fósforo (T3), completa menos potássio (T4), completa menos enxofre (T5), completa menos calagem (T6), completa menos microelementos (T7) e controle.  Pode-se notar que o elemento faltante mais importante neste Latossolo foi o potássio (1.348kg), seguido pelo nitrogênio (1.411kg MS/ha) (Figura 1). A maior produção de forragem foi 2.574, no tratamento com adubação completa e a menor foi 1.185 kg/ha de MS, no tratamento controle.

A renovação de pastagem pode consistir, como foi citado, de somente adubação de correção e de formação, até preparo completo do solo consistindo de destoca, aração, gradagem e plantio da forrageira, dependendo do nível de degradação da pastagem, podendo passar pelo plantio direto com uso de correntões no plantio. Esta degradação segundo seu nível pode ser não muito intensa, caracterizada pela redução na produtividade de forragem (qualidade e quantidade), de média intensidade, mostrada pela menor área coberta por vegetação com pequeno número de plantas invasoras e alta intensidade, revelada pela presença de alto número de plantas invasoras e surgimento de processos erosivos.

Convém salientar que na renovação de pastagem, quando for necessário o preparo do solo ou não, todas as recomendações conservacionistas de solo devem ser observadas.

3 – Adubação de Manutenção

Caracterizando a adubação de manutenção como sendo a quantidade de nutrientes que é devolvido ao solo pela extração da planta cultivada, tem-se que ela será em função do potencial genético em produção de matéria seca da espécie forrageira e de sua composição bromatológica. Portanto, a adubação de manutenção tem que ser anual devido o ciclo vegetativo das espécies forrageiras, desde que devidamente exploradas.

A adubação de manutenção está relacionada com aspectos importantes de produção e produtividade tais como:

  1. maior rendimento em carne e leite por hectare
  2. melhor valor nutritivo da forragem
  3. composição botânica desejada
  4. maior sustentabilidade

A primeira característica se refere ao número de animais por hectare e com a produção animal. O número de animais por unidade de área está correlacionado com a disponibilidade de forragem (altura da planta, densidade do dossel foliar etc) no período considerado, enquanto o desempenho do animal com a composição bromatológica, com a digestibilidade, com a acessibilidade a forragem, etc.

A segunda está vinculada a composição botânica da pastagem e a quantidade de fertilizante aplicada. Para se conseguir alteração no valor nutritivo da forragem com fertilizações elevadas é impossível pelo aspecto financeiro, donde se conclui que o único  caminho é através de leguminosas.

A alteração na composição botânica de uma pastagem é o resultado principalmente da competição entre plantas, tem-se também a interação  de vários fatores relacionados ao manejo. Como um exemplo, as leguminosas que tem um sistema radicular menos efetivo do que as gramíneas, respondem mais eficientemente a uma adubação fosfatada, nas condições dos solos brasileiros, do que as gramíneas. Por outro lado, uma adubação nitrogenada favorece as gramíneas e deprime as leguminosas.

Em relação a sustentabilidade da pastagem esta está relacionada a várias ações antróficas, sendo o nível de fertilidade do solo o preponderante. As recomendações de correção da acidez e da adubação para a manutenção, ou seja, após estabelecimento da pastagem, devem ser baseadas na análise de solo de amostras coletadas nos 10cm superficiais. No cálculo da calagem é importante levar em consideração uma profundidade efetiva de incorporação natural de até 5cm. Para incorporação às camadas mais profundas, quando detectado acidez ou deficiência de cálcio nestas camadas, deve-se associar a aplicação de silicato de cálcio e magnésio, e de gesso a estas áreas com pastagens.

Verifica-se pelo Quadro 1 que o fósforo de manutenção pode ser fornecido ao solo em função da quantidade de argila ou do fósforo remanescente.

Quadro 1 – Recomendação de adubação fosfatada para a manutenção de pastagens considerando a disponibilidade de fósforo de acordo com a textura do solo ou valor do fósforo remanescente (P-rem).

ARGILA % P-rem1 mg/L DISPONIBILIDADE DE FÓSFORO1 – mg/dm3
 Baixa Média SATISFATÓRIA
Kg/ha de P2O5                    
< 60 < 9 60 40 0
35-60  09-19 50 30 0
15-35 19-33 40 20 0
 <15  >33 30 15 0

1 P-rem = Fósforo remanescente.  2 Método Mehlich – 1.

Em pastagens já formadas é aconselhável aplicar o fósforo, menos solúvel em água (fosfatos naturais reativos) e em cobertura, embora o seu aproveitamento  esteja em função da textura do solo (da ordem de 15%, em solos argilosos). Portanto, seria aconselhável usar doses maiores de fósforo como corretivo e como formação no plantio e renovar a pastagem de 5 em 5 anos.

Esta renovação far-se-ia mediante o uso de um termofosfato ou de um corretivo de acidez e de fertilizantes, segundo a análise do solo. Esta operação deve ser feita em novembro, quando o regime chuvoso estiver estabelecido. Em se tratando de forrageiras que multiplicam por sementes, recomenda-se proceder a um re-semeio quando o "stand" estiver precário. Caso esta situação não ocorra, não deve haver preocupação com a recuperação do relvado. O mesmo deve ser levado em consideração quando a forrageira se multiplica vegetativamente.

O ponto importante a ser considerado neste  contexto é a incorporação  do fósforo nas camadas sub-superficiais do solo. Isto porque  o fósforo e o cálcio,  e este na forma de CaCO3 (calcário), não descem no solo ou seja da camada superficial para as camadas sub superficiais. Exceção feita ao cálcio na forma Ca (S04)2, (gesso) (SOUSA, 2001),  ou na forma de silicato (KONDORFER et al 2004). Não havendo descida do fósforo e do cálcio para as camadas sub superficiais, ter-se-á um crescimento direcionado das raízes das plantas forrageiras, para a camada superficial do solo.

Como conseqüência, haverá crescimento radicular irregular  no perfil deste solo e estas plantas estarão sujeitas a manifestarem ressecamento da parte aérea, até em  pequenos "déficit" hídricos.
Em relação ao nitrogênio, deve ser aplicada em 4 vezes a quantidade de fósforo recomendada (Quadro 1), ou seja, variação de 60 a 240kg de N por ano, independente da análise do solo.

Entretanto, muito pouco se sabe sobre a sua recuperação, podendo ser esta quantidade diferente da real. Outro aspecto a respeito da adubação de manutenção com nitrogênio diz respeito à sua economicidade. Portanto, a sua viabilização está em função do tempo e do espaço. O tempo conjuntural é que determina o preço da carne, do leite, do adubo, etc. O espaço o viabiliza, à medida que se encontra próximo a grandes centros urbanos, onde se pratíca uma agricultura mais intensiva.

Quanto ao potássio de manutenção (Quadro2) este é fornecido ao solo, em função da análise do solo isso porque ele é reciclado em grande intensidade, ou seja, do total extraído mediante pastejo, 99% é devolvido ao solo. Isto se prende ao fato do potássio não ser um elemento que faz parte de estruturas, ou seja, não é um elemento estrutural.

Quadro 2 – Quantidades e freqüências de aplicação de potássio, enxofre e nitrogênio a serem usadas nas adubações de manutenção (CFCEMG, 1999).

Elementos e Quantidades no Solo Freqüência Quantidade (Kg/ha)
K       < 60 *mg/dm3 40  –  K2O
K       =  60 – 80*mg/dm3 20  –  K2O
K       >  80*mg/dm3
N* Anual 60 -240 –  N
S** Trianual 20  –  S

* Independente da análise do solo.    
** Depende da análise do solo

Contudo, é questionável a reciclagem de nutrientes no ecossistema de uma pastagem. Entretanto, se sabe que doses mais elevadas de nitrogênio requerem doses mais elevadas de potássio e ainda correções da acidez do solo.

VILELA et al (2004) em estudo de adubação de manutenção em pastagem de Panicum maximum sob pastejo verificaram que nas condições do trabalho a adubação de manutenção mostrou-se importante a partir do terceiro ano de utilização da pastagem e que o nível de 20kg de P2O5 e K2O por hectare mostrou-se suficiente para manter a pastagem, ao longo do tempo, com aproximadamente a mesma composição botânica e o mesmo rendimento em peso vivo por hectare. Entretanto, o nível de 40kg de P2O5 e K2O por hectare apresentou aumentos progressivos (P<0,05) nos rendimentos em peso vivo por hectare, ao longo do tempo.

Por outro lado, alguns cuidados devem ser observados, quando se pratica uma adubação de manutenção. O primeiro deles seria o fracionamento das quantidades aplicadas, com objetivos de melhorar a recuperação do adubo aplicado e prevenir absorção de luxo. Contudo, com estas quantidades recomendadas, não é necessário este cuidado especial, exceto para o nitrogênio. Outro cuidado a ser tomado é permitir que o adubo entre em contato imediato com o solo, e isso se consegue com um pastejo intenso da área após aplicação do fertilizante.

Em relação aos micronutrientes (Zn, B, Cu, Fe, Mo, Co e Mn), uma prática recomendada é seu monitoramento até a camada sub superficial (15cm) a cada dois anos.

4 – Referências

1. CFSEMG, 1999.Recomendações para uso de corretivos e Fertilizantes em Minas Gerais 5ª Aproximação.Viçosa, 1999.359p.

1. KITCHEL, et al. Reforma ou recuperação de pastagem. 1997 In: www.milkpoint.com.br/radares técnicos/artigo. São Paulo, 07-2004

KONDORFER, G. H., PEREIRA, H. S., CAMARGO, M.S. 2004. Silicatos de cálcio e magnésio na agricultura. Boletim Técnico N° 01- 3ª Edição..  Instituto de Ciências  Agrárias. UFU. 28p.

1. SOUSA, D. M. G. et al. Uso de gesso, calcário e adubos para pastagens no cerrado. 2001. 22p. (EMBRAPA CERRADOS – CIRCULAR TÉCNICA, 12)

1. TOWNSEND, C. R. et al. Nutrientes limitantes em solos de pastagens degradadas de Brachiaria brizantha cv Marandu em Porto Velho(RO).In: REUNIÃO ANUAL DA SBZ, 37, Viçosa, 2000, Anais… Viçosa: 2000. p.158-159.

VILELA, H., DUARTE VILELA, FABIANO ALVIM BARBOSA, EDMUNDO BENEDETTI. Efeito de níveis de adubação de manutenção sobre a produção de pastagem  de Panicum maximum e leguminosas em pastejo. Aspectos agronômicos. In: ZOOTEC2004. Brasília. 2004. Anais…Brasília, 2004. CD.

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