Agronegócio

Reaproveitamento de Resíduos: Atrás das soluções

A escassez crônica de recursos para pesquisa e desenvolvimento de tecnologia no Brasil e para implementação de projetos inovadores no setor produtivo afeta o ritmo das iniciativas de reaproveitamento de resíduos do agronegócio, mas segundo os pesquisadores e o poder público, há soluções simples e de baixo custo que têm sido adotadas. Por meio dos bancos federais, o Programa para Redução da Emissão de Gases de Efeito Estufa na Agricultura (Programa ABC) é uma das fontes de recurso que financia investimentos destinados à recuperação de pastagens degradadas, sistemas orgânicos de produção agropecuária, implantação e melhoramento de planos de manejo florestal sustentável e sistemas de tratamento de dejetos e resíduos oriundos da produção animal para geração de energia e compostagem, entre outros empreendimentos.

Na safra de julho de 2012 a maio deste ano, os desembolsos somaram R$ 2,736 bilhões em 9.473 contratos no país, de acordo com informações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Banco do Brasil. Minas Gerais foi o estado que mais demandou financiamento, por meio de 2.146 contratos, somando R$ 527,4 milhões. A linha de crédito financia até 100% do projeto, com o limite de empréstimo de R$ 1 milhão por ano-safra e R$ 3 milhões por safra para a implantação de florestas comerciais. A taxa de juros é de 5% ao ano e o prazo de pagamento varia de cinco a 15 anos, com carência de dois a seis anos, dependendo do projeto e da finalidade do recurso.

O pesquisador Sammy Fernandes Soares, da Embrapa Café, chama a atenção dos produtores para a possibilidade de uso de material da própria fazenda nesses emprrendimentos, barateando projetos como o de implantação dos sistemas de limpeza de águas residuárias da produção do café. O programa foi desenvolvido em parceria pela Epamig, Embrapa Café e Incaper, instituições fundadoras do Consórcio Pesquisa Café. “Os gastos são acessíveis e o produtor pode usar materiais disponíveis na propriedade. O sistema representa avanço para a qualidade do produto, que não se restringe apenas ao sabor da bebida”, afirma.

A configuração mais simples do sistema, constituído de caixas e peneiras que associam os processos de decantação e peneiramento, acopladas a uma bomba, pode custar de R$ 1,2 mil a R$ 1,5 mil, nas contas de Sammy Soares, coordenador da pesquisa. O sistema padrão que está sendo testado pelos pesquisadores das instituições processa cerca de 10 mil litros de frutos por vez, o que equivale a 20 sacas de café beneficiado. A economia, com a implantação das unidades de reutilização da água, alcança 40%, algo em torno de 5 litros de água por litro de frutos descascados.

A nova tecnologia tem sido aprovada pelos cafeicultores da Cooxupé, informa o coordenador de desenvolvimento técnico da cooperativa, Mário Ferraz de Araújo. “É um sistema muito eficiente para o aproveitamento da água e acessível a pequenos produtores em razão do baixo custo de implantação, além de ser de fácil execução”, diz.

NOVIDADES

Definir o tipo de tecnologia e a escala adequada à produção da fazenda é o passo inicial para se chegar ao valor dos investimentos, mas ainda assim o pressuposto de todo o projeto está numa pergunta básica: o produtor tem condições de usar os resíduos?, alerta o pesquisador Airton Kunz, da área de meio ambiente da Embrapa Suínos e Aves, que desenvolve projetos para geração de biogás. “Tecnicamente, pode-se gerar biogás com os dejetos de um único animal, mas há limites no processo, de acordo com a capacidade do biodigestor. Trata-se de algo novo no Brasil e que está se estruturando”, afirma.

Kunz observa que a própria lógica da geração do insumo mudou de uma estratégia antes restrita ao universo das fazendas para processos que podem ser coletivos e gerar negócio complementar à propriedade rural, ultrapassando as porteiras.

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