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Programa de seis pontos – ferramenta para aumentar a qualidade do leite produzido.

A mastite é fator determinante na qualidade do leite e muito importante sob o ponto de vista econômico, sendo responsável por grandes prejuízos, seja pelo descarte e tratamento de animais ou pela reduzida bonificação do leite junto aos laticínios que já instituíram o pagamento baseado em parâmetros de qualidade e/ou composição, como o teor de proteína, gordura, CCS e UFC (Unidade formadora de colônia). Devido à relevância destas afecções, é fundamental o estabelecimento de programas de controle para melhoria e manutenção da qualidade do leite.

Segundo pesquisadores, um programa de controle de mastite, para que seja aceito, deve ser econômico, prático e de fácil aplicação em qualquer sistema de manejo. E acima de tudo deve ser efetivo para reduzir a prevalência da enfermidade no rebanho, não bastando evitar novas infecções, mas sim eliminar as preexistentes ou, no mínimo, encurtar sua duração. Para que isso seja possível, muitos estudos foram realizados envolvendo práticas de manejo, higiene e terapia. Baseado em tais trabalhos elaborou-se um Programa Básico de Controle de Mastite que convencionou-se chamar de Programa dos 6 Pontos.

O Programa abrange os seguintes pontos:

1 – Higiene e Conforto dos animais

A correta rotina de ordenha inicia-se antes dos animais chegarem à sala de ordenha, sendo importante que as vacas permaneçam em local limpo, seco, tranqüilo, confortável, com boa disponibilidade de água e área de cocho adequada.

A ordenha deve ser um processo rotineiro, para evitar os fatores que podem interferir com o sistema imune e os mecanismos de defesa da glândula mamária, aumentando o risco de infecções intramamárias. A intranqüilidade dos animais antes e durante a ordenha ocasionada por ruídos estranhos, mudanças de rotina, introdução e separação de grupos de animais, troca de pessoal, presença de pessoas estranhas na sala, discussões e maus tratos das vacas pelos ordenhadores, podem interferir na adequada ordenha dos animais. A reduzida eficiência se dá devido à liberação de adrenalina provocada no animal, quando esse passa por momentos estressantes, impedindo atuação da ocitocina e causando inadequada ejeção do leite, aumentando a quantidade de leite residual e predispondo a mastite.

2 – Bom funcionamento dos equipamentos de ordenha

O aumento da ocorrência de mastite pode estar associado diretamente ao mau funcionamento do equipamento de ordenha e ao desrespeito aos procedimentos básicos na rotina da ordenha.

O equipamento de ordenha pode estar associado à ocorrência de mastite devido aos seguintes motivos: facilidade de transferência de bactérias entre as vacas durante a ordenha, principalmente em teteiras velhas e desgastadas, que desenvolvem rachaduras, facilitando a colonização e manutenção de patógenos; aumento de lesões na pele e extremidade do teto por sobreordenha ou má regulagem do nível de vácuo; aumento da entrada de bactérias no teto pelo refluxo de leite em casos de flutuações intensas de vácuo.

3 – Adequada rotina de ordenha

O primeiro passo para iniciar a ordenha é a higienização das mãos dos operadores, que devem ser lavadas com sabão e sanitizadas com solução a base de cloro, clorexidine ou iodo. Recomenda–se ainda o uso de luvas descartáveis. As mãos dos ordenhadores constituem importante veículo de transmissão de mastites, em especial as contagiosas, pois funcionam como ponte entre tetas de vacas doentes e sadias.

O procedimento a partir deste ponto segue uma seqüência lógica que se inicia no teste da caneca de fundo escuro, objetivando a observação de grumos no leite, possibilitando o diagnóstico precoce de mastite clínica. O passo seguinte é a imersão dos tetos em solução desinfetante (Pré-dipping) seguida de secagem dos tetos com papel toalha descartável. Este passo visa reduzir a incidência de patógenos ambientais que estão aderidos à parte externa do teto e que poderiam penetrar na glândula durante a ordenha. As teteiras são acopladas e, após a ordenha completa, devem ser retiradas e os tetos passarão por uma nova imersão em solução desinfetante (Pós-dipping). Essa última etapa visa eliminar agentes de mastite contagiosa que são transmitidos de animais infectados para sadios durante a ordenha, através do equipamento e das mãos dos ordenhadores.

4 – Tratamento imediato de casos clínicos

O tratamento dos casos visa curar casos de mastite clínica de maneira rápida e eficiente, diminuindo o desconforto e assegurando o bem estar animal; eliminar a infecção, prevenir sua recorrência e diminuir sua disseminação para quartos sadios; restaurar a qualidade do leite de quartos infectados e retomar a produção leiteira normal; evitar a morte de animais em quadros agudos e prevenir novas infecções no período seco.

5 – Tratamento preventivo de vacas secas

O objetivo da terapia de vaca seca é prevenir novas infecções durante o período seco e curar as infecções existentes, já que neste período há possibilidade de utilizar antibióticos com maior tempo de ação, ou seja, que permanecem maior tempo com concentração inibitória mínima.

6 – Segregação e Descarte

O descarte dos animais com mastite crônica é uma das práticas mais importantes de controle de mastite contagiosa, no entanto, é muito pouco adotada nas fazendas brasileiras. A segregação ou separação de animais com mastite para que estes sejam ordenhados por último, também é uma prática bastante importante, principalmente em rebanhos com alta prevalência de infecções causadas por agentes contagiosos. Obviamente o descarte deverá considerar outros fatores como idade, estágio de lactação, valor zootécnico etc.

Hoje, deveríamos considerar ainda um sétimo ponto no programa, correspondente ao treinamento de mão de obra, que é cada vez mais crucial na atividade leiteira. Os funcionários, gerentes e proprietários devem estar cientes da importância de seguir os protocolos, garantindo que o programa funcione e que seja corrigido o mais rápido possível caso algum ponto venha a falhar.

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