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Perdas por Estrés

O estrés nos bovinos ocorre quando se modificam as condições normais de seu habitat, no manejo alimentar a que estão acostumados. Os fatores que influem são vários e podem ser de origem psicológica ou física, o que deriva a diferentes tipos de estrés.

O manejo e o Estrés
Durante o manejo dos animais, as respostas ao medo em situações particulares são difíceis de prever porque depende de quanto percebe o animal dessa experiência. Estas reações podem ser devido a interações complexas de fatores genéticos ou experiências prévias.
Por exemplo, um vacuno com experiências de maltrato no manejo o levará a recordar no futuro e ficará mais estressado que outros que tiveram bom tratamento ao repetir uma situação similar.
A experiência prévia pode interagir com fatores genéticos relacionados com o caráter. Um manejo brusco pode causar um estrés maior em animais com temperamento nervoso, comparado com animais de temperamento tranqüilo.
Índicos e cruzas índicas apresentam maiores índices de cortisol que os britânicos, (principalmente o Hereford) quando estão encerrados na mangueira.
O condicionamento ao medo tem lugar na "perenquina subcortical". Eliminar a resposta ao medo não é fácil porque requer que o animal suprima a experiência da memória através de um processo ativo de aprendizado.
Para prevenir a aversão ao fechamento na mangueira ou curral, devem-se minimizar os manejos agressivos, especialmente na primeira experiência, facilitando sua entrada sem o uso de relhos, paleteadas, gritos exagerados e cachorros.

O novo e o Estrés
A novidade é outro fator extremamente estressante. Isso ocorre quando o animal se encontra repentinamente com um fato novo. O gado acostumado pode aceitar modificações na rotina de manejo que causariam alterações fisiológicas significativas em animais não habituado.
O gado pode acostumar-se por repetição da experiência a procedimentos inquietantes, como quando submetidos a pesagem ou a extração de sangue.

O transporte e o Estrés
O transporte também causa grande estrés aos animais e o tempo em trânsito é o fator mais crítico de toda a operação.  A medida que as distâncias são maiores, a resposta ao estrés produzido pelas horas de viagem geram um maior grau de desgaste e, por conseguinte, o tempo de recuperação é maior, conforme demonstrado por Fox/1989.

Tratar bem os animais é rentável
Muitas vezes o produtor é propenso a gastar uma soma importante em tecnologia para aumentar a produtividade e rentabilidade de sua produção, descuidando a existência de  técnicas de "custo zero" que não só evitam perdas de produção como aumentam a própria rentabilidade.
O manejo adequado dos animais é exatamente um exemplo dessa referência, porque impede o estrés ao tempo em que também evita acidentes, quebras e machucado dos animais, com a resultante desvalorização ocasionada por tais circunstâncias.
A isto ainda se devem somar eventuais estragos ás instalações ou que uma "rodada" ou "aperto" ponha em risco a vida de um empregado.

O Feed-lot e o Estrés
No Feed-lot (confinamento) os fatores que produzem o estrés são inúmeros e geralmente interagem entre eles. Entre os terneiros recém desmamados o estrés é ainda maior porque devem enfrentar alem da separação, o transporte até o Feed-lot em caminhão sem alimento e sem água, geralmente por um período prolongado, sujeira, fumaça de descarga, adaptação a novos piquetes, mudança de hábitos alimentares, presença de maquinas e equipamentos de abastecimento, etc.
A nova fonte de alimentos e água também são desafios que o animal deve superar, já que tem que aprender a alimentar-se no comedouro e a beber no bebedouro, cujos desenhos e situação geralmente são diferentes dos que estava acostumado.
Dentro dos piquetes se impõem uma nova ordem social, a que nenhuma categoria que havia sido manejada a pasto estava acostumada. Tanto no que se refere ao acesso aos comedores e bebedores, onde tem prioridade os animais maiores e que impõem seu temperamento.
A participação em remates, feiras e exposições e o conseqüente deslocamento, o ambiente inadequado do Feed-lot com umidade, variações de temperatura, vento, o pouco espaço por animal, novos patógenos, barulho de tratores, máquinas, veículos servidores são fatores que aumentam ainda mais o estrés.

A idade e o Estrés
Ainda em relação ao ponto anterior, Alfredo Di Constanzo, do Departamento de Ciência Animal da Universidade de Minnesota (USA), explicou que todo animal que ingressa a um Feed-lot experimenta uma série de transformações em seus hábitos o que desencadeia um estrés em diferentes graus.
A categoria animal que mais sofre é a dos terneiros desmamados a campo, que não conhecem piquetes, alimentos de Feed-lot, viagens e clima.
Durante os primeiros 28 dias o estrés se manifesta de forma intensa, mas os efeitos perduram por todo o período de confinamento.
O resultado as vezes é uma alta mortalidade ou animais que nunca chegam a recuperar-se do estrés inicial, afetando seu desempenho e rentabilidade no período confinado.

Fatores Genéticos
O temperamento dos animais é uma das características hereditárias que pode afetar sua reação a certos procedimentos de manejo. Existem diferenças de caráter entre e dentro das raças bovinas.  
Entre as raças Índicas como o Brahman e Nelore ou cruzas Brangus e Braford constatou-se que o temperamento é hereditário e portanto existe um fator genético que afeta a resposta animal ao estrés.
A raça Brahman e suas cruzas tem apresentado altos níveis de cortisol quando confinadas em piquetes em comparação com as raças britânicas. Entres estas, a raça Hereford tem um temperamento mais dócil que o Angus.
Existem traços fenótipos que denotam o caráter de um animal. A presença do pelo "crespo" em volta dos olhos e na testa em machos é indicador de temperamento nervoso. Animais com estas características se mostraram mais nervosos quando encerrados em mangueira ou piquete, comparados ao que apresentavam "pelo liso" nas áreas indicadas.
O temperamento é uma característica que se mantém estável ao longo do tempo e, em alguns casos, pode ser controlado.  Em cruzas continentais alguns indivíduos se mostram mais agitados que outros quando encerrados em mangueira, enquanto outros se mantiveram calmos.
Os animais que mais se movimentavam não se adaptaram ao confinamento em piquete, mesmo após período de adaptação de 30 dias. Animais com temperamento melhor se adaptaram melhor as diversas situações do manejo, e menos estressados que aqueles de caráter agitado, devido as reações fisiológicas e comportamento diferente.
Certas linhas genéticas de bovinos tem comportamento muito agressivo ao chegar a instalações de abate, ficando muito difícil seu manejo.
Estes animais mostram uma reação muito forte frente a novidade e se assustam diante de pequenas ocorrências, sombras e reflexos.

O estrés final
Até agora comentamos fundamentalmente o estrés que sofre um animal que vai ser engordado em outro meio diferente ao qual estava acostumado, como por exemplo um confinamento
Mas que conseqüência tem o estrés sobre a carne de um animal destinado ao abate ?
Em uma palestra sobre "bem estar animal e certificação com valor agregado" promovido pela Fundação CRA, o Dr. Facundo Gómez Pizarro, especialista em bem estar animal, comentou: "Dentro do músculo a reserva energética é o glucógeno. A adrenalina atua para degrada-lo e liberar energia rapidamente. Se o animal esgota essa energia e se cansa, o músculo fica em mau estado e no caso de não chegar a recuperação terá graves conseqüências após o abate. Uma delas, talvez a mais importante está vinculada a um menor declínio do pH e por conseqüência a menor vida útil do produto. Esta situação de estrés e de esgotamento físico impede que a carne baixe seu pH a menos de 6, quando o normal seria chegar a níveis entre 5.4 e 5.8. A carne se mantém escura, com menor sangramento e a carga bacteriana aumenta porque com um pH nestes níveis é mais fácil o desenvolvimento de microorganismos".    

Medidas para atenuar o estrés
O conhecimento dos fatores desencadeantes do estrés no gado, conduz a proposta de um manejo mais racional, diminuindo as perdas na produtividade animal individual e portanto o comprometimento da rentabilidade afetada por esta patologia.

Pauta de recomendações que podem ser aplicadas:

  1. Evitar o movimento e embarque de animais durante inclemências climáticas;
  2. Realizar práticas de manejo cuidadoso durante o embarque e desembarque, sem o uso do relho, picanhas, paleteadas e cachorros;
  3. Agilizar o transporte ao máximo, abreviando a chegada dos animais ao destino;
  4. Confirmar que os caminhões, currais e demais equipamentos se encontrem em bom estado e adequados dimensionalmente para o número e tamanho dos animais a transportar;
  5. Proteger os animais em trânsito contra as inclemências climáticas;
  6. Fornecer alimentos secos (feno) antes do embarque, mais apropriados que os úmidos, para evitar um desgaste e debilidade dos animais;
  7. Cuidar para que o transporte seja feito considerando as necessidades adequadas de espaço por animal no veículo, evitando assim quedas e que sejam pisoteados pelos demais;
  8. Fornecer eletrólitos na água fornecida na chegada dos animais, permitindo assim uma rápida rehidratação;
  9. Aplicar Mg injetável um ou dois dias antes do embarque, já que esta atua como fator anti-estressante;      

    
     
 

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