Os estudos relacionados às cigarrinhas das pastagens vêm sendo intensificados nos últimos anos. Uma solução realmente eficiente e econômica para seu controle ainda está sendo perseguida. Na realidade, o que se tem buscado é o controle integrado baseado no nível de dano causado. O controle integrado é uma estratégia constituída por várias medidas técnicas, entre as quais se destacam: o controle biológico, o controle cultural, o controle químico e o uso de espécies resistentes. Recorre-se aos produtos químicos somente em casos extremos, quando a população de ninfas da cigarrinha ultrapassa o número de 15 por metro quadrado.
Sabe-se que os danos são provocados pela ação das ninfas (formas jovens da cigarrinha) que, principalmente, sugam a seiva das plantas, tornando-as debilitadas. A forma adulta do inseto, além de sugar a seiva, também injeta, em maior quantidade, uma substância fitotóxica que pode causar o bloqueio do sistema vascular (floema e xilema), seguido de morte daqueles tecidos. Dependendo do nível populacional do inseto, pode ocorrer, como conseqüência, a morte dos rebentos emitidos pelas gramíneas.
Formação e recuperação
O preparo e as correções do solo, bem como a técnica de plantio, dependem da declividade da gleba, a saber: áreas com declividade até 20% – Para o preparo do solo nas áreas com declividade até 20% pode-se realizar, sem restrições, aradura e gradagem do solo, precedidas pela destoca quando necessária. Até 8% de declividade não se fazem necessárias quaisquer medidas de conservação do solo. Considera-se, neste caso, que a própria vegetação que constitui a pastagem é suficiente para controlar a erosão.
Para as glebas com declividade entre 8 e 20% recomenda-se a construção de cordões em contorno. As aplicações de calcário e fósforo deverão ser feitas de acordo com os procedimentos tradicionais, juntamente com as operações de aração e gradagem, três a quatro meses antes do plantio, não se dispensando os resultados de análise de solo para o cálculo do corretivo e dos fertilizantes necessários. As aplicações de N e K deverão ser feitas após o plantio.
Declives entre 20 e 35%
Para a formação de pastagens em áreas com declividade superior a 20% são exigidos cuidados especiais e a declividade máxima de 35% é o limite tecnicamente recomendado para a utilização de áreas em pastejo. Nas áreas com declividade entre 20 e 35% a pastagem deverá ficar restrita aos 2/3 inferiores da encosta. O terço superior deverá permanecer protegido contra a entrada de animais e reves-tido com vegetação arbórea, seja natural ou reflorestada. O povoamento artificial desse terço superior da encosta poderá ser feito com Leucena, com frutíferas silvestres ou mesmo com eucalipto. Na pastagem assim protegida, resultará um aumento de até 60% da capacidade de suporte, em decorrência da maior penetração da água de chuva, proporcionada pela vegetação arbórea do terço superior da encosta.
O preparo do solo deve ser feito de modo especial. Para evitar riscos de erosão não se realiza a operação de ardura. Sobre o solo em seu estado natural e utilizando-se um arado de aiveca de tração animal, procede-se à abertura de sulcos em nível, distanciados de um metro, com cerca de 0,15 metro de profundidade. Depois de abertos, faz-se aplicação de calcário e de adubo fosfatado no fundo do sulco e plantio da gramínea. Aplicações de K serão feitas posteriormente em cobertura. Não é recomendável nas áreas com declividade acima de 20% a construção de terraços. Em tais condições, o patamar atinge altura excessiva podendo transformar-se em causa de acidentes com o gado.
A escolha do capim depende da fertilidade do solo, da declividade da área e da ocorrência de cigarrinhas nas pastagens. Os capins mais atacados pelas cigarrinhas são as braquiárias, principalmente, Brachiaria decumbens, Brachiaria ruzizienses e Brachiaria himidicola. Em relação às outras brachiarias, a Brachiaria decumbens apresenta a vantagem de tolerar solos fracos e com alto teor de alumínio.
Portanto, para solos mais fracos e com declividade maior que 20%, poder-se-ia usar a Brachiaria decumbens. Entretanto, nunca se deve esquecer que ela não deve ultrapassar 60% da área em pastagens da propriedade. Convém aqui lembrar que o capim gordura é resistente à cigarrinha e tolera solos de baixa fertilidade, como o capim Andropogon e o capim B. brizantha cv MG 4, sendo que este último já foi testado com bons resultados em regiões com temperaturas médias mais elevadas. A área de 40%, plantada com plantas forrageiras resistentes, poderá suportar maior carga animal no período crítico (novembro a março), para que outra área de 60% das pastagens, caso seja formada por plantas sensíveis à cigarrinha, seja poupada.
Para solos de média fertilidade e com menos de 20% de declividade, tem-se o capim Setaria, variedade Kazungula que, além de ser resistente à cigarrinha, ainda tolera inundação. Ainda para estes tipos de solo, tem-se o capim jaraguá, que é também resistente à cigarrinha.
Para os solos de fertilidade média a alta, há uma série de capins: capim-colonião, capim-guiné (ou Coloninho), que são resistentes à cigarrinha; e os capins Makueni, Colonião folha larga e B. brizantha cv MG 4, que são capins resistentes à cigarrinha. Portanto, para solos de fertilidade média a alta pode-se recomendar esses capins, desde que a declividade seja menor do que 20%. Na situação de alta declividade e, ainda, de solos férteis, recomenda-se o capim B. brizantha cv MG4 e o Capim-Estrela Africana. Este último é extremamente exigente em fertilidade de solo. Caso não se consigam mudas, sugere-se o uso da Brachiaria humidicola ou brizantha cv MG4, nas áreas sujeitas à erosão.
Manejo da pastagem
Há poucos anos, as pastagens do Brasil Central eram mais produtivas e mantinham os animais em boas condições durante todo o ano. A cada ano que passa, mais intensos se mostram os efeitos da seca sobre os animais, e as pastagens vão gradativamente diminuindo a capacidade de suporte. O inverno, com ausência de calor e umidade, limita a produção forrageira pela paralisação parcial da atividade fisiológica. No crescimento das plantas perenes, passou-se a distinguir duas épocas bem definidas: a) Crescimento crítico ou período de translocação; b) Crescimento ativo.
O crescimento crítico tem lugar dias após a germinação das sementes ou quando, na primavera, a planta rebrota através das reservas das raízes. No inverno, somente as partes subterrâneas das plantas (raízes e rizomas) estão ativas e na primavera, as primeiras rebrotas (folhas) são produzidas às expensas das reservas acumuladas nas partes subterrâneas durante o outono.
Assim que as folhas aumentam em número e tamanho, começam a elaborar alimentos para sua própria manutenção e, mais tarde, o excesso é aproveitado para refazer as reservas esgotadas das raízes. Nessa época, o crescimento ativo tem lugar, pois a parte aérea e a subterrânea crescem concomitantemente. No fim do ciclo evolutivo, as plantas mantêm-se verdes ainda por algum tempo e produzem alimento para ser acumulado nas raízes, voltando, assim, à fase de translocação.
Dessa forma, o pastejo intenso, durante o crescimento crítico na primavera, impede as novas folhas de se desenvolverem, de elaborarem seu próprio alimento e refazerem as reservas das raízes. É uma condição prejudicial à planta, pois produz exaustão completa das raízes. Durante o verão, período de crescimento ativo, o pastejo intenso não é prejudicial. Um pastejo intenso no outono, antes que as plantas tenham tempo para acumular reservas, determinará enfraquecimento das pastagens. Elas não resistirão ao inverno e não rebrotarão com vigor na primavera.
As plantas estoloníferas resistem mais ao pastejo de primavera, visto que os animais não conseguem apreender as folhas, pois estas se acham protegidas pelos estolões e ainda estão muito rentes ao solo. Nas plantas cespitosas, cujo caule cresce ereto, as folhas estão bem distantes do solo e desprotegidas. Por isso, são as que mais sofrem devido à maior facilidade de serem apreendidas pelos animais.
O ponto fundamental no manejo das pastagens, com vistas ao controle de cigarrinha, é a altura em que a planta deve ser mantida durante o período de novembro a março, no qual ocorre o ataque das cigarrinhas. Nessa época, os capins sensíveis ao ataque, como o capim-colonião comum e o capim-guiné, devem ser mantidos a uma altura de 0,40m a 0,45m e as braquiárias a uma altura de 0,25m a 0,30m. Essa medida faz com que haja um maior sombreamento nas áreas onde estão as espumas das cigarrinhas, evitando, assim, menor evaporação da espuma e, conseqüentemente, menos sucção de seiva da planta pelas cigarrinhas.
Portanto, o que se recomenda é controlar o pastejo nos pastos sensíveis à cigarrinha, deslocando o excesso de animais para pastos formados com capins mais resistentes, de modo a manter, nas pastagens sensíveis, o porte da vegetação nas alturas recomendadas no período de novembro a março. Poupar não significa vedar o pasto, mas manter uma carga animal que permita a manutenção das gramíneas sensíveis nas alturas recomendadas. A partir de março, quando a cigarrinha deixa de constituir problema sério, pode-se iniciar o rebaixamento gradativo dos pastos formados por plantas sensíveis, até o ponto mínimo, que deve acontecer no mês de setembro.