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Osteodistrofia fibrosa em equinos

Introdução O cavalo é utilizado ao longo dos anos para diversas finalidades como tração, esporte e lazer, apresentando importante destaque econômico. Dessa forma, a preocupação com a saúde desses animais é cada vez maior. Além das enfermidades, os cuidados com a nutrição são de fundamental importância na prevenção de doenças que, futuramente, possam comprometer lhes […]

Introdução

O cavalo é utilizado ao longo dos anos para diversas finalidades como tração, esporte e lazer, apresentando importante destaque econômico. Dessa forma, a preocupação com a saúde desses animais é cada vez maior. Além das enfermidades, os cuidados com a nutrição são de fundamental importância na prevenção de doenças que, futuramente, possam comprometer lhes a performance (CURCIO et al., 2010).

O Hiperparatireoidismo Nutricional Secundário ou Osteodistrofia Fibrosa, ou também conhecido como “Doença Cara Inchada”, é um distúrbio relacionado a manejo nutricional errado em equinos, e ocorre devido ao aumento da liberação do hormônio PTH (paratormônio), o qual atua retirando cálcio dos ossos e liberando-o para a corrente sanguínea.

O excesso do mineral fósforo (P) na dieta faz que o cálcio (Ca) dos ossos seja retirado para que o equilíbrio na relação Ca:P seja mantido. Esta relação deve ser próxima de 2:1, sendo 1,6:1 para potros em crescimento e éguas em lactação; 1,8:1 para cavalos de esporte e em manutenção, de acordo com o NRC (1999). De acordo com Cintra (2009) quando houver um desequilíbrio sanguíneo nesta relação, com aumento da quantidade de fósforo no sangue, o organismo vai tentar reequilibrá-lo retirando cálcio dos ossos. Os primeiros ossos a sofrerem com a remoção do cálcio são os ossos da face. Quando ocorre retirada do cálcio dos ossos da face, o tecido ósseo precisa ser substituído e ocorre uma proliferação de um tecido ósseo sem cálcio (aerado) no local onde seria o osso. Como este tecido possui um volume maior, dando a aparência de que o cavalo está com a cara inchada.

Este artigo de revisão de literatura tem por objetivo caracterizar a osteodistrofia fibrosa, ou “doença da cara inchada” em equinos, comentar as suas causas e os possíveis métodos de prevenção desse distúrbio.

Revisão bibliográfica

Para Cintra (2009) existem 4 fatores que podem causar esta enfermidade, a saber: A deficiência de cálcio na dieta que provoca uma menor absorção deste na corrente sanguínea, diminuindo os níveis e a relação Ca:P; O excesso de fósforo na dieta também causará o desequilíbrio na relação Ca:P. Este excesso de P normalmente está ligado ao consumo excessivo de grãos de milho ou farelo de trigo ou ainda de certas gramíneas, como o capim Napier (Penisetum purpureum).  Também são fatores que desencadeiam a doença da cara inchada a ingestão de oxalato e a deficiência da Vitamina D, a qual é necessária para que o Ca seja absorvido pelo organismo, sendo que na sua ausência, ocorre desequilíbrio na relação Ca:P. Esta causa é rara, pois ocorre apenas em cavalos que não tomam sol.

O cavalo apresenta o trato digestório adaptado para digerir e utilizar dietas com altos níveis de fibra, portanto utiliza pastagens como principal fonte de alimentação. Porém, existe compostos nas pastagens que indisponibilizam certos nutrientes, como é o caso do oxalato presente em algumas forrageiras (PAGAN, 1998). Para Méndez e Riet-Correa (2007), o oxalato é uma substância presente em algumas forragens que, ao ser absorvido pelo organismo, se une ao Ca formando o composto oxalato de cálcio, impedindo a metabolização desse mineral pelo organismo. Em consequência da baixa absorção do Ca, ocorre aumento na secreção do paratormônio pelas células da paratireóide, o que ocasiona hiperparatireoidismo e aumento da reabsorção óssea, com consequente substituição do tecido ósseo por tecido fibroso, caracterizando a Osteodistrofia Fibrosa. Dentre as pastagens tropicais que podem produzir esse quadro, estão a Setaria anceps, Panicum maximum (cultivar Aruana var. trichoglume), Pennisetum clandestinum e algumas espécies do gêmero Brachiaria.

Os sinais clínicos da doença são menos evidentes nos animais adultos do que em animais mais jovens. Os ossos apresentam um aspecto “mole”, por causa da perda da matriz óssea, ficam tumefeitos e deformados dando o aspecto de “cara inchada”. Devido a essas deformações, podem ocorrer obstruções da passagem nasal, resultando em um ruído das vias aéreas superiores. Os animais afetados tendem a emagrecer por causa da absorção óssea que ocorreu nos alvéolos dentares, afrouxando os dentes ou até mesmo levando à queda deles, resultando em uma mastigação anormal e queda no consumo alimentar (MELDAU, 2010).

De acordo com o mesmo autor, há uma queda do desempenho do trabalho devido à dor que sentem, apresentando claudicação, alternante e insidiosa, apresentando exostose em pontos de periostite, deformação da coluna, fratura e encurvamento dos membros devido à desmineralização óssea. Conforme Meldau (2010) éguas gestantes ficam em decúbito permanente, tendo em vista que em éguas lactantes e nos potros em desmame, a severidade desta enfermidade é muito alta, por causa da grande demanda de Ca.

O diagnóstico, além de clínico, deve estar voltado para a descoberta da causa primária do distúrbio e para um diagnóstico conclusivo pode ser realizado exames de sangue, onde são observados os níveis de fosfatase alcalina e a concentração plasmática de paratormônio. Pode ser feito o clearance fracional de fósforo que indica o volume de plasma que a cada minuto fornecerá a quantidade da substância presente na urina (ml/min). Quando a proporção for maior que 0,5, indica que está havendo uma excreção excessiva de P na urina. O exame de raio-X indica deficiência de Ca ou de outra causa de osteodistrofia fibrosa, mas para isso, a densidade óssea deve reduzir-se em 30% antes de ficar radiograficamente evidente (MELDAU, 2010).

O principal tratamento é a correção da causa primária, como aumentar a administração de cálcio, diminuir o fósforo e evitar pastagens ricas em oxalato. Em estágios iniciais pode ser suficiente corrigir a causa primária. Nos estágios mais avançados, deve-se proceder a uma administração maciça de Ca, além de medicamentos que auxiliem na absorção deste mineral, nem sempre alcançando êxito (CINTRA, 2009). É fundamental iniciar o tratamento nos estágios iniciais, pois, em casos graves, a cara inchada pode levar o animal à morte por obstrução dos seios nasais impedindo a respiração.

Conforme Cintra (2009) o melhor tratamento é a prevenção, que deve ser feito alimentando-se adequadamente o animal, com rações balanceadas de boa procedência, e devem ser corrigidos os excessos de P proveniente dos grãos de cereais, capim ou feno de boa qualidade e sal mineral à vontade fornecido em cocho separado. Ressaltando aqui que o sal mineral deve fazer parte da dieta normal do cavalo, diariamente, e não só quando se observar uma deficiência.

Também é importante que o animal tome sol algumas horas por dia para que ele sintetize a vitamina D, necessária para a absorção do cálcio. O tratamento da “cara inchada” vai depender da causa. Quando for devido a deficiência de Ca ou excesso de P, deve ser feita uma correção destes minerais na ração, aumentando o Ca e/ou reduzindo o P (CINTRA, 2009). De acordo com Meldau (2010) nos primeiros 2 a 3 meses, estes minerais devem ser o dobro do necessário exigido para preencher as exigências dos equinos, sendo reduzidos para o exigido posteriormente. O consumo excessivo prolongado de Ca deve ser evitado, pois durante a recuperação isso pode resultar em densidade óssea excessiva e remodelação não adequada dos ossos. Deve-se deixar os animais afetados confinados durante os primeiros meses da doença até que a densidade radiográfica das regiões afetadas retornem ao normal. De preferência, sempre oferecer alimentos pobres em oxalato, principalmente quando esta for a causa da desmineralização óssea. Quando não for possível, os níveis de Ca e P devem ser aumentados acima das exigências normais. (MELDAU, 2010). Conforme Thomassian (2005), em fêmeas, o desequilíbrio de Ca:P ocorre principalmente no final da gestação e início de lactação.

Considerações finais

A “doença da cara inchada” ou osteodistrofia fibrosa é uma enfermidade que pode acometer equinos em todas as idades e pode ser prevenida com manejo nutricional adequado dos animais. Deve-se buscar a correta mineralização dos animais e ter cuidado no fornecimento de alimentos concentrados, em função da grande desproporção Ca:P que estes apresentam.

Referências

CINTRA, A. G. Hiperparatireoidismo Nutricional Secundário
Osteodistrofia Fibrosa / “Cara Inchada”. 2009. Disponível em: <http://www.endurancebrasil.com.br/port/tecnicas/cara_inchada.php> Acesso em 15 set 2010

CURCIO, B. R.; LINS, L. A.; BOFF. A. L. N.; RIBAS, L. M.; NOGUEIRA, C. E. W. Osteodistrofia fibrosa em equinos criados em pastagem de Panicum maximum cultivar Aruana: relato de casos. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec. vol.62 n.1 Belo Horizonte, Feb. 2010

MELDAU, D. C. Osteodistrofia Fibrosa em Equinos. 2010. Disponível em: <http://www.infoescola.com/doencas/osteodistrofia-fibrosa-em-equinos> Acesso em 17 set 2010

MÉNDEZ, M. C.; RIET-CORREA, F. Osteodistrofia Fibrosa. In: RIET-CORREA, F.; SCHILD, A.L.; LEMOS, R.A.A. et al. (Ed.) Doenças de Ruminantes e Equídeos. Santa Maria: Pallotti, 2007. v.2, p.289-293.         

NATIONAL RESEARCH COUNCIL / NUTRIENTS REQUERIMENTS OF DOMESTIC ANIMALS. Nutrient requeriments of horses. Fifth revised edition, 1999. Washington, D. C.: National Academy Press, 1999.

PUOLI FILHO, J. N.; COSTA, C.; ARRIGONI, M.; SILVEIRA, A. C. Suplementação mineral e mobilização de cálcio nos ossos de eqüinos em pastagem de Brachiaria humidicola Pesq. Agropec. Bras., Brasília, v.34, n.5, p.873-878, maio 1999.

THOMASSIAN, A. Enfermidades de Cavalos. 4. ed., Botucatu: Varela, 2005.

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