Agricultura

Os cuidados que se deve ter ao consorciar plantas medicinais e hortaliças

O interesse pelo plantio de plantas medicinais cresce tanto regionalmente, como no Brasil e no mundo. A Embrapa Tabuleiros Costeiros, Unidade da Embrapa sediada em Aracaju-SE, está pesquisando os efeitos e vantagens do cultivo consorciado de plantas medicinais com hortaliças. As pesquisas têm se concentrado principalmente  em área experimental da Emdagro (Empresa do Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe), no município de Itabaiana (SE), particularmente com capim santo, hortelã-pimenta, hortelã-graúda, coentro e arruda em consórcio com alface e repolho.

O cultivo dessas plantas deve ser realizado no sistema orgânico de produção, especialmente em função do risco de acúmulo de resíduos tóxicos de pesticidas químicos nas plantas e do potencial efeito prejudicial resultante.

Mas “fazer um cultivo orgânico” não significa apenas utilizar fontes de adubação orgânica. É necessário o desenvolvimento e adoção de tecnologias de produção específicas, como consorciação e rotação de culturas, proteção do solo, barreira de vento, adubação verde, compostagem, controle alternativo e natural de pragas e doenças, entre outros.

É importante ainda considerar os possíveis efeitos das condições de crescimento das plantas no teor dos princípios ativos presentes, ou seja, dos componentes químicos responsáveis pelo efeito terapêutico. Fatores ambientais ou abióticos (como clima e precipitação), fatores bióticos (como interação com outras plantas, insetos e fungos) e técnicos (relativos à época e horário de colheita, secagem, embalagem e armazenamento) podem alterar o teor e composição dos princípios ativos.

Cuidados também são necessários na escolha do órgão da planta a ser utilizado. Caso se utilize um órgão – folhas, flores, frutos, raízes- que não tenha o princípio ativo responsável pelo efeito pretendido, o efeito esperado pode não ser obtido. Além disso, o teor desses componentes pode variar com o local e forma de obtenção, condições da colheita, processamento pós-colheita (ou seja, forma e tempo de secagem, e posterior armazenamento), forma de utilização, entre outros fatores.

Enquanto nos medicamentos quimio-sintéticos há um ou poucos componentes químicos, com ações similares e ou sinérgicas, nas plantas há muitos metabólitos quimicamente ativos distribuídos nos órgãos. Metabólitos ou componentes químicos vegetais diferentes e consequentemente com efeitos diversos ocorrem numa mesma planta. Esse é um dos motivos pelo qual uma planta pode ser utilizada no tratamento de mais de um sintoma. Isso também justifica a necessidade de atenção na seleção e definição de qual parte ou órgão da planta é indicado no tratamento de um sintoma, assim como qual a forma de preparo é mais adequada, ao tipo de princípio ativo presente na referida planta.

As plantas medicinais vêm sendo utilizadas como opção terapêutica em todo o mundo há séculos, em função dos efeitos benéficos obtidos. Com o advento da síntese química, medicamentos quimio-sintéticos foram desenvolvidos a partir das plantas já conhecidas e utilizadas pela população, de seus componentes químicos e dos efeitos associados. E assim conseguiu-se o alívio e controle de muitas doenças que afligem a humanidade.

Na busca por novos medicamentos, muito recurso financeiro e estudo têm sido dispensados ao desenvolvimento de medicamentos. Infelizmente a pesquisa com plantas medicinais historicamente não tem recebido proporcionalmente tantos investimentos. Considerando a riqueza da nossa diversidade vegetal e potencial terapêutico das plantas, é necessário incentivar e investir recursos financeiros para que a cada dia mais e mais plantas sejam estudadas, por profissionais de diferentes áreas, visando obtenção de mais conhecimento.

Autor:
Luciana Marques de Carvalho é pesquisadora da Embrapa Tabuleiros Costeiros, Aracaju (SE)

Clique aqui para Comentar

Você precisa fazer o login para publicar um comentário. Logar

Deixe sua Resposta

Mais Lidas

Topo