Agricultura

NIM: um novo bioinseticida

Dentro deste contexto, o trabalho do entomologista Belmiro Pereira das Neves, pesquisador da EMBRAPA – Arroz e Feijão, que está estudando a formulação de inseticidas naturais a partir de uma árvore indiana, denominada Nim (Azadirachta indica A. juss), tem se caracterizado como um dos trabalhos mais promissores que a EMBRAPA- Arroz e Feijão vem desenvolvendo na área de controle biológico desde 1993.

Originária das regiões de Burma e do subcontinente indiano, o Nim foi introduzido no Brasil pelo pesquisador da EMBRAPA, no ano de 1993, quando através de intercâmbio científico, importou cerca de 10 Kg de semente de Nim indiana, da Fábrica de Inseticidas Naturais, hoje denominada de Fundacion Agricultura y Médio Ambiente da Província de San Cristobal, na República Dominicana. "Infelizmente não tivemos sensibilidade para descobrir há mais tempo a importância econômica do produto, seus benefícios para o meio ambiente e para a agricultura brasileira, já que em seu país de origem, a planta vem sendo pesquisada desde o início do século", lamentou Belmiro.

Na década passada, pesquisadores alemães difundiram as qualidades do Nim para outros países, principalmente na América Central. Os jesuítas foram os precursores a introduzir o plantio do Nim na República Dominicana. Depois veio a Venezuela e, agora, o Brasil. Devido às suas características de não ser exigente quanto ao tipo de solo e preferência por clima quente e seco de regiões áridas, sua adaptação aos países da América Central e Goiás tem sido muito boa. Há grande possibilidade de se tornar realidade, caso o seu plantio seja expandido para a região nordeste do País, por se constituir numa zona ecológica favorável para o desenvolvimento normal da planta.

De crescimento rápido e produtividade atraente, o Nim indiano tem tudo para dar certo no País. Comercialmente, a sua semente está custando, hoje, no mercado internacional, entre 10 e 20 dólares o quilo. Como cada árvore produz, em média, 30 quilos de frutos e 30 quilos de sementes, tem-se um rendimento de 6 quilos de óleo e 24 quilos de pasta por árvore cultivada. Isso possibilita um bom lucro ao produtor rural que optar por essa cultura.

Para Belmiro Pereira, a planta (Azadirachta indica) é um poderoso inseticida natural, que se constitui num grande aliado o produtor rural, pois protege, dá sombra, fornece madeira e matéria-prima abundante para ser comercializada. Seus derivados, como inseticida, combatem cascudinho, percevejos e as lagartas, além do controle de nematóides e de mais de 200 espécies diferentes de insetos. O princípio ativo da planta (Azadiractina), extraído sobretudo dos frutos, causa alterações fisiológicas nos insetos, levando-os à morte.

Devido ao seu múltiplo campo de atuação, a planta que dá origem ao Nim indiano, tem-se mostrado como uma árvore realmente extraordinária. Suas propriedades, praticamente infindáveis, são aplicadas em diversos campos, como o da medicina, indústria de cosméticos, construção civil, reflorestamento, recuperação de áreas degradadas, plantio agrícola e muito especialmente, no combate as pragas agrícolas. "No campo da medicina", explica Belmiro, "é utilizado como antimicrobiano, no combate a distúrbios urinários, diarréias e doenças do couro cabeludo, com o óleo evitando o desenvolvimento de fungos. O Nim tem ainda ação antimalárica e é usado até no combate à malária crônica, além de ter efeito positivo no controle da Doença de Chagas. Já o suco de suas folhas elimina também vermes intestinais, sendo de excelente uso na medicina caseira rural".

A indústria de comésticos vem descobrindo o Nim, cada vez mais em todo mundo. Hoje, ele é largamente empregado na fabricação de shampoos, por exemplo. O óleo é ótimo para o couro cabeludo, atuando como tônico capilar e seu uso auxilia também o fortalecimento das unhas. Pode ser empregado na fabricação de sabonetes e até de cremes dentais. Uma vez extraído o óleo da semente, a pasta que sobra pode ser adicionada nos sulcos e covas de plantio agrícola, servindo como fixadora do nitrogênio. Pode servir também como biomassa, junto com as folhas, sendo uma fonte energética excelente para os animais.

A produção madeireira com as árvores do Nim, pode-se chegar a 40 toneladas de madeira de ótima qualidade por hectare plantado, "desde que se tenha um bom manejo com a planta", lembra Belmiro. Além de madeira destinada à fabricação de móveis, o Nim pode ainda ser utilizado para fabricação de mourões, esticadores, estacas, esteios, ripas e caibros, por ser uma madeira muito resistente e imune ao ataque dos cupins. Como fonte calorífica tem grande utilidade para a siderurgia, por isso é bastante procurada por este tipo de indústria.

No controle de pragas agrícolas, o inseticida natural tem se mostrado muito eficiente, principalmente na cultura do feijoeiro, que é uma cultura atacada por inúmeras pragas. As que causam maiores prejuízos econômicos são a mosca branca, as vaquinha e a lagarta desfolhadeira. Segundo Belmiro, todas elas podem ser controladas satisfatoriamente com produtos a base de Nim. Como exemplo, ele cita o índice de 62,8% no controle da vaquinha do feijoeiro, considerado um resultado muito bom no emprego de produtos naturais. "O inseto que se alimenta do Nim", explica o pesquisador, "vai ter sérios problemas de distorção das asas, vai nascer bem menor e com peso inferior ao normal, perdendo sua força destruidora". E com uma vantagem para o meio ambiente, a planta só age contra as pragas, preservando seus predadores naturais, aqueles insetos que se alimentam dos insetos inimigos.

No estado de Goiás, produtores rurais estão obtendo muito sucesso no combate do carrapato, através da utilização de folhas da planta (Azadirachta indica). O inseticida natural é obtido a partir da trituração das folhas, e em infusão, o produto é aplicado no rebanho bovino com a mortalidade total do carrapato, sem trazer qualquer risco para o animal. Não há, portanto, preocupação de toxidade, explica Belmiro, "se a pessoa aplicadora inalar o produto e tiver algum verme intestinal, por exemplo, ele poderá combater a sua própria doença". Nesse mesmo sentido, o Nim indiano "pode ser aplicado normalmente em hortaliças, sem oferecer nenhum risco à planta ou ao consumo humano. É ótimo para aplicação na lavoura de milho, combatendo de maneira eficaz a lagarta do cartucho. Do mesmo modo, é muito eficaz nas lavouras de arroz e feijão".

Por enquanto a EMBRAPA não dispõe de mudas ou sementes de Nim, para atender aos agricultores interessados na cultura.Toda a produção é destinada à pesquisa e a um convênio feito com a Secretaria de Agricultura do Estado do Tocantins, onde já foram plantadas mais de 250 mil mudas. Elas serão utilizadas na recuperação de áreas degradadas e também para atender pequenos produtores da região. Entretanto, caso algum agricultor esteja interessado na cultura, pode procurar Célio Gomes Freitas, na Cooperativa de Bela Vista, fone (062) 261-1870 ou 261-3311 que, através dele, poderá contactar com produtores rurais da região interessados em fazer um intercâmbio entre produtores de Nim indiano no Estado. Ou na EMBRAPA-Arroz e Feijão, caixa postal 179, fone: (062) 212-1999 ramal 150 com Belmiro Neves, cep 74.001-970, Goiânia-GO.

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