Sistema de irrigação de baixo custo, em que não há necessidade de energia eletrica para puxar a agua do ribeirão
As inovações assinadas pelos próprios produtores têm grande potencial para impactar, de forma positiva, as áreas social, econômica, cultural e ambiental do meio rural. Para Waldir Pascoal Filho, coordenador técnico estadual de cultura da Emater-MG, o conhecimento aplicado na criação de equipamentos e sistemas serve para driblar as dificuldades que surgem cotidianamente nas atividades agrícolas. “Muitos materiais em desuso, considerados obsoletos e por isso descartados, têm outro destino nas mãos dos agricultores. Somos surpreendidos com as invenções que encontramos nas visitas às propriedades. É o uso da inteligência e da criatividade para superar a falta de recursos financeiros.”
As criações surgem de forma espontânea, movidas pela necessidade. O produtor Érick Antônio Aguiar do Santos, de 26 anos, desenvolveu um fatiador de açafrão para facilitar o trabalho em sua propriedade, localizada a 30 quilômetros de Unaí, Noroeste de Minas. A ferramenta elétrica é capaz de cortar os rizomas em fatias bem finas, ideais para o processo de beneficiamento (polimento, fatiamento, cozimento e secagem). A extensionista Marionice Faria da Costa Rosa, do escritório da Emater em Unaí, explica que as plantações de açafrão são bastante difundidas no município, com cultivo em quase todas as comunidades rurais. “O plantio e a colheita são feitos manualmente em áreas inferiores a meio hectare por família. A colheita é feita entre sete e oito meses depois do plantio, quando os rizomas passam por uma limpeza, são imersos em vasilhas com água e levados ao sol para secar. Depois de beneficiado, o açafrão é socado em pilão, peneirado e transformado em pó.”
Para tudo isso ser possível, antes do fatiador elétrico criado por Érick, era preciso usar a força. “Era a parte mais difícil, feita com faca mesmo, de raiz em raiz. O risco de machucar era muito grande.” Com a lâmina de um multiprocessador, motor de tanquinho e outras peças sucateadas espalhadas pelo quintal da casa dos pais, o produtor criou a ferramenta, que possibilitou o fatiamento do equivalente a 16 sacos de açafrão – com 24 litros cada – em duas horas, trabalho que antes demandaria mais de duas semanas. “Conseguimos vender o litro por valores entre R$ 13 e R$ 15, quando antes a média era de R$ 8. Fico orgulhoso por ter feito tudo com minha experiência mesmo. Sempre fui mexedor.”
Agricultores de comunidades vizinhas se interessaram em criar um grupo para o cultivo e a venda de açafrão, um primeiro passo para a montagem de uma agroindústria. Além disso, o projeto foi premiado no concurso Criatividade Rural do ano passado, em que conquistou a terceira posição. O coordenador da premiação, Waldir Pascoal, explica que na última edição houve 108 criações inscritas, avaliadas em critérios como criatividade, exequibilidade, sustentabilidade, potencial de inclusão social e mérito. “Trata-se de uma ferramenta estratégica de incentivo aos produtores rurais e extensionistas ligados às instituições públicas e privadas de assistência técnica e extensão rural.”
Iniciativas como essa são importantes para mostrar ao agricultor que sua atividade pode, e deve, estar envolvida em inovações. O paranaense Eloi Zanetti, co-fundador da Escola de Criatividade, de Curitiba, instigou essa discussão em um encontro com mais de cinco mil empreendedores e líderes rurais, em parceria com a Federação de Agricultura do Estado do Paraná (Faep). “A ideia foi mostrar que os inventos no meio rural foram determinantes para a evolução da sociedade de forma geral. O agricultor ainda não percebe que é criativo, porque suas invenções vêm da necessidade.” Para Eloi, é possível estimular hábitos importantes para o processo criativo, como tomar notas. “A inspiração pode surgir e ir embora em segundo. Além disso, é importante perder o medo de tentar.”
GRANDES descobertas
Há quem garanta que foram as invenções agrícolas que tornaram os humanos mais criativos. Eloi Zanetti, cofundador da Escola de Criatividade, listou alguns dos destaques no meio rural:
>> Arado (5.500 a.C)
O arado de madeira inventado no Sudeste da Ásia revolucionou a agricultura. Puxado por bois domesticados, era uma vara de madeira presa a uma estrutura que arejava o solo e fazia uma fenda para inserção das sementes. Muito tempo depois surgiram o arado de ferro fundido (1797) e o de aço (1837).
>> Peitoral para cavalos (500)
O peitoral para cavalos acolchoado, criado por um tratador de camelos chinês, deu mais força ao animal e possibilitou o deslocamento de cargas mais pesadas. O cavalo substituiu o boi puxando arados, grades, colheitadeiras e outros implementos agrícolas, além das carroças e carruagens.
>> Semeadeira (1701)
A semeadeira de madeira puxada a cavalo foi inventada pelo fazendeiro inglês Jethro Tull para evitar o desperdício de sementes, devido ao plantio disperso. As sementes caíam uma perto das outras, em solo rochoso e em profundidades diferentes. O fazendeiro chegou a colocar três semeadeiras, uma ao lado da outra, semeando três fileiras ao mesmo tempo.
>> Moinho automático de trigo (1785)
Foi o americano Oliver Evans quem revolucionou o processo da moagem de trigo, organizando a produção de forma automática com correias transportadoras, esteiras e o revolvedor mecânico, usado para espalhar e resfriar a farinha.
>> Ceifadeira mecânica (1831)
Antes que o americano Cyrus McCormick inventasse a ceifadeira mecânica, os grãos eram colhidos manualmente. Os proprietários ficavam limitados pelo que podiam colher no outono e não pelo tamanho da propriedade ou pela quantidade de sementes plantadas na primavera.
>> Colheitadeira agrícola (1834)
O americano Hiram Moore criou a colheitadeira com o objetivo de acelerar a produção de grãos nas grandes plantações de trigo dos Estados Unidos. Milho e trigo eram sinônimos de fortuna no início do século 19, mas os fazendeiros tinham que empregar dezenas de camponeses.
>> Elevador de grãos (1842)
O primeiro elevador de grãos foi construído em Nova York por Joseph Dart. A princípio, os grãos eram carregados e descarregados manualmente, num trabalho cansativo que levava dias. O elevador consistia em uma estrutura de madeira em que se prendia uma esteira com baldes movidos a vapor. A esteira era levada ao porão dos navios e ligada. Assim, os baldes recolhiam os grãos e os jogavam em locais de armazenamento.