A mosca Stomoxys calcitrans, popularmente conhecida por mosca-dos-estábulos ou por mosca-do-bagaço, ocorre em diversos países do mundo, principalmente em áreas ao redor de estábulos e confinamentos. É um inseto hematófago, ataca preferencialmente equinos e bovinos, e pode atacar outros animais domésticos e o homem.
A mosca-dos-estábulos realiza a postura e se desenvolve em resíduos orgânicos de origem vegetal ou animal, em processo de decomposição ou de fermentação. A sobrevivência das larvas é favorecida na presença de umidade elevada e temperatura entre 15ºC e 30ºC. Restos de culturas ou de alimentos (feno, silagem, material verde picado, palha de forrageiras, palha de cana-de-açúcar) e outros tipos de material orgânico, como cama de aviários, fezes de animais domésticos, especialmente, de bovinos e suínos, dentre outras, também podem servir como substrato para o desenvolvimento das larvas desta mosca.
No ano de 2009, especialmente no segundo semestre, foram verificados surtos com grande infestação de mosca-dos-estábulos em usinas sucroalcooleiras e em fazendas de produção pecuária circunvizinhas ao raio de até 11 quilômetros das usinas, na região sul de Mato Grosso do Sul. Esse tipo de surto não é um fato novo no Brasil, tendo já sido reportado nos estados de Mato Grosso, Minas Gerais e São Paulo, ocorrendo próximo a áreas canavieiras e/ou em confinamento de bovinos, associados ou não às usinas alcooleiras ou sucroalcooleiras.
Neste ano situações climáticas atípicas ocorreram na maior parte do Brasil Central, com registro de altas temperaturas médias e elevados índices pluviométricos em diferentes épocas, inclusive durante o que deveria ser o período seco do ano, o que pode ter favorecido o aparecimento dos surtos.
O período de desenvolvimento, ou ciclo evolutivo dessa mosca (ovo até adulto), é completo em torno de duas a três semanas em climas quentes, podendo durar mais de dois meses em climas temperados. O período de vida de uma mosca adulta é de 15 a 30 dias.
Além da perda de sangue provocada por esta mosca, as suas picadas são muito doloridas e, dependendo da infestação, provoca estresse com alterações no comportamento dos animais, o que contribui para a redução de ganho de peso e da produção de leite. Esse inseto é capaz de atuar na transmissão de vários patógenos de bovinos e eqüinos.
ALTERNATIVAS DE CONTROLE
De acordo com as orientações e recomendações contidas na série Documentos 175, publicado pela Embrapa Gado de Corte e disponível no site http://www.cnpgc.embrapa.br/publicacoes/doc/DOC175.pdf, nos casos de surtos desta mosca, recomendam-se as seguintes providências:
• Manter a higiene das instalações, limpando sistematicamente fezes e restos alimentares, principalmente naquelas propriedades com sistema de confinamento ou leiterias.
• Remover e dar destino adequado (espalhamento ou compostagem) dos resíduos alimentares de animais, bem como de dejetos e matéria orgânica acumulados, pois representam fontes de criação de larvas de moscas.
• Revolver o material de compostagem completamente duas vezes por semana e drenar a água da chuva.
• O uso de produtos químicos, visando o controle da mosca, deve ser precedido pela avaliação da eficácia dos diferentes princípios ativos inseticidas antes de sua aplicação.
• Usar, quando necessário, inseticidas que sabidamente funcionam, na dose correta e com origem reconhecida e registro para uso em animais.
• Procurar a assistência técnica, sempre, e, especialmente, quando for percebido que os produtos de controle não estão fazendo o efeito desejado por mais que sigam corretamente as indicações contidas nos respectivos rótulos.
• Realizar o controle químico, quando necessário, apenas nos dias previamente programados de forma coordenada. Assim, assegura-se o controle efetivo e duradouro, pois o repovoamento da área tratada. Essa programação deve incluir todas as propriedades envolvidas e adjacentes ao problema. Salienta-se que o uso de inseticidas de maneira generalizada e repetida pode trazer desequilíbrios ambientais. O uso frequente de inseticidas nos animais não é sustentável, por não ser eficiente quando utilizado isoladamente, e propiciar seleção e desenvolvimento de populações de moscas resistentes.
• Esforços devem ser direcionados na busca de medidas preventivas ao desenvolvimento de moscas, tanto na usina como nas propriedades de produção pecuária. Com o objetivo de diminuir uma possível contribuição da vinhaça para a multiplicação da mosca sugere-se:
• Distribuição fracionada em duas etapas com intervalo entre aplicações, suficiente para que seja rapidamente absorvida pelo solo.
• Realizar a incorporação da palha de cana pós-colheita ao solo após a primeira aplicação de vinhaça.
• Se possível, não distribuir quando o solo ainda estiver encharcado com água de chuvas.
Pastagens vedadas, com abundância de forragem seca e palhada, também podem, em condições de muita umidade, permitir o desenvolvimento de moscas. Assim, o manejo da pastagem torna-se importante estratégia auxiliar no controle da mosca-dosestábulos.
Fonte:
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Corte
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento