Agronegócio

Maritacas: Santinhas do pau oco

Milho e frutas são alvos das cocotas

Aves que atacam plantações geram perdas de até 40% da safra para produtores do Campo das Vertentes. Sindicato traça plano e encomenda estudo para buscar soluções para o problema

Todo bom produtor investe na qualidade da sua produção, das sementes à infraestrutura nas lavouras, mas o lucro que viria desse esforço pode cair drasticamente com a ação de aves aparentemente inofensivas. Em Minas, o caso mais grave se refere ao ataque de maritacas, também conhecidas como cocotas, em culturas de frutas e milho na Região do Campo das Vertentes. Cerca de 100 produtores, instalados em uma área de 250 hectares, registram um prejuízo que chega a 40% da safra. Na Zona da Mata, um estudo em fase final tem acompanhado as perdas causadas por aves no município de Paula Caetano, que obrigou alguns agricultores a abandonarem suas plantações.

Um dos principais afetados – no ano passado, ele perdeu 1,5 mil caixas de maçã e cerca de 6 mil caixas de pêssego –, o produtor Luís Gava explica que os ataques das maritacas ocorrem de acordo com os ciclos das lavouras. Na produção de milho, eles são frequentes entre janeiro e março. De maio até junho, as goiabas e os caquis são os alvos preferidos, substituídos de setembro a dezembro por pêssegos, maçãs e nectarinas. “Já cheguei a comprar todo o estoque de foguetes de Barbacena e coloquei quatro motoqueiros, cada um em um pomar, para sair fazendo barulho e espantá-las. Isso não está adiantando mais”, queixa-se Luís.

Outra alternativa é cobrir a produção com sombrites, mas, segundo o produtor, se ele fizesse isso nos 120 hectares de sua propriedade, precisaria de quase R$ 5 milhões. “É claro não tenho esse dinheiro. Decidi cobrir os 6 hectares referentes à área do caqui. Produzo 100 toneladas da fruta e se perdesse teria um prejuízo de R$ 200 mil. Não posso deixar isso acontecer. Tenho uma folha de pagamento mensal de R$ 60 mil.”

Vizinho de Luís, o produtor José Ângelo Rissi conta que teve boa parte da sua produção de milho perdida na última colheita por ataques de maritacas. “Elas rasgam a palha do milho, bicam as espigas e as deixam expostas à chuva. Quando entra água, as espigas mofam e o milho fica todo estragado. Uso espantalhos e até pipas com formato de gavião, para tentar assustá-las, mas não adianta.” José Ângelo reclama também da ação dos sanhaços, mas aponta a diferença de que eles comem a fruta toda, ao contrário das maritacas, que só beliscam uma parte dos frutos e os deixam expostos a doenças, que se espalham pelos que não foram atacados. “Temos que apelar algumas vezes para agrotóxicos mesmo sem querer usá-los, mas não podemos deixar as frutas que restaram adoecer.” Além disso, o produtor alerta que as maritacas estão chocando em nichos em cima das casas. “Elas comem o plástico em volta dos fios de energia elétrica e isso é um perigo que pode resultar em curto-circuito e até incêndio.”

Com o agravamento da situação no último ano, os produtores do Campo das Vertentes procuraram o Sindicato Rural de Barbacena em busca de ajuda. Renato Laguardia, presidente do sindicato, explica que eles tentam afugentar as aves de várias maneiras, como foguetes e espantalhos, mas as maritacas se acostumam às estratégias e voltam a agir. “Alguns produtores perderam mais de 60 toneladas de frutas, como maçãs, pêssegos, goiabas e caquis”, conta Renato.

DEFESA
O sindicato enviou um ofício ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e recebeu orientações. De acordo com o instituto, primeiro é preciso fazer um estudo de plano de manejo, acompanhado de um parecer técnico do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA). O estudo será coordenado pela bióloga Michelle Barbosa Mateus, mestranda em biologia animal pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) – com dissertação sobre aves-pragas orientada pelo professor Rômulo Ribon – e executado por alunos da iniciação científica do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais, sob a coordenação do professor Fernando Costa Martins.

A ideia é fazer um mapeamento da situação, desde levantamento da área afetada até a extensão do prejuízo causado pelos ataques, passando pela identificação das espécies de maritacas. Segundo Renato, já foi realizada uma reunião com cerca de 20 produtores para definir as estratégias para dar início ao estudo. Os resultados serão encaminhados ao Ibama, que vai decidir se autoriza as propostas.

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