O primeiro aspecto a ser levantado é o efeito da presença do bezerro durante a ordenha sobre a produção de leite da vaca. Em rebanhos puros da raça Zebu, ou mesmo naqueles de gado mestiço com predominância de "sangue" azebuado, não há outra alternativa que não a de ter os bezerros mamando nas vacas, para garantir a "descida" do leite.
Caso contrário, a produção de leite poderá ser menor, a duração da lactação ser encurtada ou interrompida com a apartação dos bezerros. Mesmo nesses casos, há de se considerar a possibilidade de, após os 60 dias de idade, levar o bezerro para junto da mãe somente para estimular a "descida do leite", reservando ao bezerro apenas o leite residual. Nesta situação, o fornecimento de alimento concentrado e volumoso para os bezerros é imprescindível, para garantir o crescimento deles.
Infelizmente, ainda é comum observar-se o "mal de cuia" em muitas propriedades, caracterizado por bezerros extremamente subnutridos, em função de não disporem de qualquer alimento além do leite residual que eles conseguem mamar. Em rebanhos onde se adota o aleitamento artificial, isto é, onde os bezerros recebem o leite no balde, o desaleitamento precoce é mais fácil de ser feito. O aleitamento artificial é indicado para rebanhos de gado puro de raças especializadas para leite, ou com predominância de "sangue" de raças especializadas, com médio a alto potencial para produção de leite, e onde as vacas "descem" o leite na ausência do bezerro.
Outro ponto importante a ser considerado na discussão da validade do uso do desaleitamento precoce é a questão de preço e a qualidade dos dois alimentos: leite e concentrado. O leite tem cerca de 12% de matéria seca (ou 88% de água), onde se encontram em média 3% de proteína bruta e 15,6% de nutrientes digestivos totais – NDT (uma medida de energia do alimento). Isto significa dizer que, em cada litro de leite bebido, o bezerro ingere 30 g de proteína bruta e 156g de NDT.
Os concentrados para bezerros variam em sua composição, mas normalmente apresentam 92% de matéria seca (8% de água), 16% de proteína bruta e 70% de NDT. Em cada quilograma de concentrado consumido, o bezerro está recebendo 160 g de proteína bruta e 700 g de NDT. Segundo Oriel Fajardo, se levarmos em consideração somente a composição dos dois alimentos, conclui-se que o bezerro precisa beber 5,3 litros de leite para ingerir a mesma quantidade de proteína bruta de 1 kg de concentrado, e de 4,5 litros de leite para ingerir a mesma quantidade de energia fornecida por 1 kg de concentrado.
Por outro lado, sabe-se que os nutrientes (proteína e energia) do leite são aproveitados duas vezes mais eficientemente pelo bezerro que os alimentos sólidos. Portanto, a vantagem do concentrado, que era de 4,5 vezes, passa a ser de 2,25 vezes, ao se considerar, também, a eficiência da utilização desses dois alimentos.
Concluindo, ao se considerar a composição química e a eficiência com que esses alimentos são utilizados, pode-se afirmar que será economicamente vantajoso usar o concentrado em substituição ao leite, após a sexta-oitava semana de idade, sempre que o preço de 1kg de concentrado for igual ou menor que 2,25 vezes o preço de 1 kg de leite.
Cuidados sanitários na criação dos bezerros
Alguns cuidados são essenciais para que os bezerros possam crescer sadios e livres de problemas. O produtor deve fazer o bezerro ingerir ou mamar o colostro imediatamente após o nascimento, isto porque o bezerro nasce sem proteção contra as infecções e o colostro possui substâncias (anticorpos) que vão protegê-lo. Quanto maior a quantidade de colostro consumido, maior será a proteção proporcionada e menor a taxa de mortalidade.
Um cuidado importante é fazer o corte e a cura do umbigo, durante três a quatro dias, mergulhando-o em um vidro pequeno, porém de boca larga, contendo solução de álcool iodado a 6%.
Na criação de bezerros devem ser evitados locais onde os animais permaneçam e recebam correntes de ar constantes. Isso ocorre com certa freqüência nos bezerreiros de alvenaria feitos com ripas de madeira, onde o ar penetra por baixo, provocando ventos frios constantes. Ao fornecer medicamentos pela boca do bezerro, ou principalmente o leite, deve-se ter o cuidado para que o líquido não vá para o pulmão, o que facilitaria ao bezerro pegar uma pneumonia. Para evitar que isso ocorra, não deve ser dado de uma só vez, mas aos poucos, em intervalos espaçados, deixando que o animal engula bem devagar.
Outra medida importante é "vermifugar" os bezerros a partir dos quatro meses de idade; em meados de abril, junho e setembro. Este esquema deve ser feito até os dois anos de idade. As diarréias infecciosas e os problemas respiratórios são as doenças que mais causam mortes em bezerros jovens (de 0 a 3 meses de idade). Na maioria dos casos, decorrem das condições de criação, tais como instalações e manejos inadequados e alimentação deficiente.
Os três primeiros meses de vida são os mais críticos para o bezerro, porque ainda não tem o seu sistema imunológico (defesas contra os agentes causadores de doenças) completamente desenvolvido. De acordo com o médico-veterinário do CNPGL, Antônio Cândido Ribeiro, para evitar diarréias em bezerros é importante que eles permaneçam em ambientes adequados, secos, com água e comida de boa qualidade. Nos locais que estejam permanentemente com umidade elevada, com poças de água ou mesmo com barro, onde os bezerros bebam água, a chance de contaminação aumenta.