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Leite em alta: Suspiro na pecuária

O produtor rural e médico-veterinário Alexandre Rezende não se lembra quando sua família começou a trabalhar com a pecuária leiteira. Ele sabe que aprendeu a técnica com o pai, que aprendeu com o avô, que herdou do bisavô. Depois de formar-se na universidade, Alexandre assumiu a tradição da família e a propriedade em Igarapé, na Região Central de Minas. Com o uso de técnicas avançadas de manejo, ele pretende no prazo de dois anos dobrar sua produção de leite, que hoje gira em torno de 200 litros/dia. O bom momento do alimento no mercado, cujo preço para o produtor rural atingiu R$ 1 o litro, tem animado pequenos e grandes, velhos e novos na atividade. Pecuaristas de Minas estão investindo na infraestrutura, na dieta do gado e em técnicas de manejo para garantir a sustentabilidade do negócio, que coloca o estado no topo do ranking brasileiro. Por ano são 8,3 bilhões de litros de leite, ou 25% do volume nacional.

O produtor de leite não é apenas um especialista em pecuária, tradicionalmente é também um conhecedor dos solavancos do mercado, que se caracteriza por fortes altos e baixos. O vaivém costuma derrubar os preços do leite, apertando bastante o custo da produção. Para isso, diversos programas ligados ao poder público, entidades de classe e universidades têm levado mais conhecimento ao campo, garantindo boa produção, seja na seca ou na safra. A intenção é que a atividade seja mais resistente à instabilidade dos preços. Os resultados esperados passam pelo aumento da produtividade e da qualidade. “Para permanecer na pecuária de leite é preciso em primeiro lugar gostar muito, e depois usar mais tecnologia”, diz Rezende.

Willian Dornelas é produtor em Senhora dos Remédios, na Região Central do estado. A tecnologia, aliada ao bom momento do leite, renova a esperança do produtor que há 10 anos entrou para a atividade. Ele conta que sua pequena propriedade foi uma herança de um avô. Ele decidiu tocar o negócio, que há quatro anos ganhou novos ares. Isso porque ele entrou para o programa Balde Cheio, da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), em parceria com associações e prefeituras. O programa, que leva conhecimento à atividade leiteira revolucionou a produção. O negócio deslanchou e dessa vez foi o pai, José Guido Dornelas, que decidiu acompanhar a atividade do filho, trocando a construção civil pela fazenda.

Em quatro anos a produtividade do sítio cresceu 300%. “Hoje conseguimos tirar cerca de 200 litros de leite por dia e a meta é nos próximos quatro anos chegar a 300 litros”, calcula José Guido, que conta com o apoio do técnico veterinário Daniel Fonseca.

Segundo José Guido, suas vacas, que antes produziam de 12 a 13 litros diariamente, com técnicas corretas de alimentação e manejo passaram a produzir 20 litros/dia. Outro dado importante é que no período da seca a produtividade, que antes chegava a despencar, 35% hoje se mantém no mesmo nível do restante do ano. Willian diz que com a boa fase do leite – em sua região o preço pago ao produtor chega a R$ 1 por litro –, eles têm conseguido cobrir os custos. “Há três anos investimos perto de R$ 60 mil na propriedade e agora estamos começando a reaver esse valor. ”

MELHORAMENTO Clésio Melo é extensionista da Emater em Coroaci, no Leste de Minas. A pequena cidade, de 10 mil habitantes, conta com cerca de 50 pequenos produtores, que juntos somam volume de 30 mil litros de leite por dia. “Dentro do programa Minas Leite divulgamos tecnologia no campo, o que já trouxe resultados positivos tanto no manejo quanto no melhoramento genético do gado”, diz.

O acesso a novas técnicas garante melhores resultados, seja para pequenos, médios ou grandes produtores. Pecuarista de grande porte no Norte de Minas, Ailton Barral Santiago também acredita nos bons resultados. Em sua propriedade, na região de Alto Belo (município de Bocaiúva), ele produz em torno de 1,6 mil litros por dia, sendo fornecedor da Associação dos Produtores de Leite do Norte de Minas (Asproleite). Ele conta com 125 vacas mestiças. Para superar as dificuldades impostas pela seca, Ailton recorre a alimentação suplementar, dispondo de capineira irrigada. “O preço do leite está bom. Mas, acredito que ainda há espaço para novas altas, o que ajudaria a cobrir os custos que estão crescendo.”

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