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Leite em alta: Salvação na ordenha

No Norte de Minas, em grande parte do ano, diante da seca, o leite é uma espécie de “salvação da lavoura”, sendo a única fonte de renda que garante a manutenção de dezenas de propriedades rurais. Por isso, a melhoria do preço do produto trouxe um novo alento para os produtores, abrindo novos horizontes para a atividade. “No ano passado, os produtores praticamente não tiveram renda. Neste ano, houve uma melhoria da rentabilidade e a produção de leite voltou a ser atrativa, oferecendo condições para a convivência com a seca”, afirma o produtor Fábio Lafetá Rebello Filho, de 46 anos, que é também presidente da Cooperativa Agropecuária Regional de Montes Claros (Coopagro).

Segundo estimativas do próprio Rebello Filho, o Norte de Minas produz hoje em torno de 350 mil litros por dia, fornecendo o produto para cerca de 10 laticínios. A Coopagro recebe 15 mil litros por dia, fornecidos por 120 produtores. O produto é repassado para a Itambé. Outra empresa que adquire a produção norte-mineira é a Nestlé, que tem uma fábrica de leite condensado em Montes Claros. O preço pago ao produtor na região varia de R$ 0,99 a R$ 1,07, o litro.

Fábio Rebello Filho se dedica a produção leiteira na Fazenda Morro do São João, de sua propriedade, no município de Capitão Enéas, onde produz cerca de 300 litros diários e dispõe, atualmente, de 22 matrizes das raças Holandesa e Girolando em lactação. “Mas, a minha meta é chegar a 700 litros de leite com 40 vacas em lactação. Para isso, vou investir na qualidade genética do rebanho e na melhoria do sistema de alimentação”, afirma o produtor, que foi campeão do concurso de gado leiteiro da Exposição Agropecuária Regional de Montes Claros (Expomontes/edição 2012).

Ele conta que herdou “o gosto pela atividade” do pai, Fábio Lafetá Rebello, um dos pioneiros da produção de leite no Norte de Minas e ex-presidente da Coopagro e da Sociedade Rural de Montes Claros. De acordo com o Rebello Filho, devido ao baixo índice pluviométrico no último período chuvoso (novembro a abril), houve uma perda de 70% na produção de milho, sorgo e cana – as matérias-primas usadas para a silagem que serve para a manutenção do gado leiteiro no período crítico da seca – que vai de maio a outubro. Mesmo com o clima adverso, o presidente da Coopagro destaca que o Norte de Minas tem potencial para a pecuária leiteira. “A região conta com uma boa topografia (terreno plano), solo fértil e boa insolação.”

“Para produzir bem, o produtor deve investir em irrigação de capineiras e garantir uma alimentação adequada para as vacas”, observa o produtor. Ele mantém seu rebanho no sistema semi-intensivo: “Numa parte do ano, em torno de seis meses, durante o período das chuvas, o gado fica no pasto. Durante a seca, as vacas são mantidas em confinamento e são alimentadas com a silagem de sorgo e cana, produzida na própria fazenda”, explica o Rebello Filho. Na Fazenda Morro do São João é usado o sistema de ordenha mecânica, que envolve dois funcionários. “Hoje a mão de obra no campo está escassa. Por isso, os produtores de leite – mesmo os pequenos – se viram obrigados a recorrer à ordenha mecânica. A máquina é de fácil manuseio”, afirma o presidente da Cooperativa de Montes Claros.

Programas que ajudam

A primeira vaca de leite que chegou ao Brasil foi ainda nos idos do século 16. Desde então, a antiga atividade permanece entre as de maior importância da agropecuária no país e em Minas, gerando renda para milhares de estabelecimentos de pequeno a grande porte. O estado produz 8,3 bilhões de litros de leite por ano, o maior volume do país. São mais de 200 mil propriedades que sobrevivem total ou parcialmente da atividade, responsável por segurar no campo, só em Minas, cerca de 400 mil produtores de leite.

Coordenador do programa Balde Cheio, da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Wallisson Lara Fonseca conta que em média as propriedades assistidas pela iniciativa têm 100% de crescimento na produtividade no período de 12 meses. Ele explica que os investimentos são feitos de acordo com a capacidade do produtor e que a assistência técnica é oferecida por meio de convênios, gratuitamente. “O objetivo principal é resgatar a dignidade do produtor que sobrevive da atividade.” Desde 2007, 2 mil produtores foram atendidos em 260 municípios, de norte a sul do estado.

O Programa Minas Leite, da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (Seapa), foi lançado para melhorar a qualidade do produto e a capacidade de gestão das propriedades leiteiras mineiras, sendo voltado para pecuaristas com produção de até 200 litros/dia. As ações do programa são executadas pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-MG), com utilização de recursos encontrados em cada propriedade. Cada fazenda assistida tem o compromisso de funcionar como multiplicadora das boas práticas para outras 10. No programa existe também a qualificação gerencial e técnica dos sistemas produtivos do leite.

Segundo a Seapa, uma das práticas do Minas Leite, o pastejo intensivo rotacionado, tem contribuído para que mais de 200 propriedades mineiras inscritas na Emater-MG alcancem a coleta de 8,2 litros por vaca/dia, na comparação com a média de 7,5 litros por vaca/dia obtidos menos de um ano atrás.

Para participar do Minas Leite, o produtor deve encaminhar solicitação, por meio de associações comunitárias, aos escritórios da Emater-MG.

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