Agricultura

Lavouras mais produtivas

Tomando-se didaticamente o caso da soja, a diferença de 592 quilos por hectare pode parecer pouco, mas não é…

Os ganhos de produtividade na agricultura em Minas Gerais resultam de um conjunto de condicionantes tecnológicas, embora dependam também das condições de mercado e da tomada de decisão dos empreendedores rurais nas diferentes regiões produtoras do estado. Num contexto socioeconômico e ambiental bem mais amplo, a assistência técnica e extensão rural, executada em Minas pela Emater-MG, e a pesquisa agropecuária, entre outros atores, têm papéis indelegáveis na difusão das boas práticas de agricultura e sustentabilidade no campo, que devem fundamentar a oferta de grãos, cereais, agroenergia e oleaginosas para o abastecimento interno e para o mercado externo. A gestão da informação, em nível de fazenda, é indispensável na relação custo-benefício não somente nas culturas como também nas criações. O campo depende cada vez mais dos conhecimentos científicos e tecnológicos acessíveis e oportunos.

Os agricultores mineiros, adotando as inovações geradas pela pesquisa, produziram 6,5 milhões de toneladas de grãos em 2000 e cerca de 12 milhões de toneladas neste ano, segundo previsões, um crescimento expressivo de 84,6%. E a área cultivada? Ela passou de 2,5 milhões de hectares para 2,9 milhões no mesmo intervalo de tempo, variando apenas 16%. Porém, a produtividade média de grãos elevou-se de 2.568 quilos por hectare em 2000 para 4.076 quilos em 2012, ou seja, registrou um acréscimo de 58,7%. Depreende-se que não é a agricultura que anda desmatando, lembrando que a média histórica de plantio entre 2000 e 2012 é de 2,78 milhões de hectares anuais, apenas 4,72% do território mineiro. Em nível nacional, a safra de grãos foi de 68,4 milhões de toneladas em 1992, numa área de 38,5 milhões de hectares, e a deste ano deverá ficar próxima de 161,2 milhões em 51 milhões de hectares. Comparando-se 1992 com 2012, a área cresceu 32,4% e a produção 148,6%, refletindo os ganhos de produtividade.

A população estadual é estimada em 19,6 milhões de habitantes e com uma oferta de grãos de 12 milhões de toneladas, sem contar as perdas, a disponibilidade de grãos por habitante/ano atinge 612 quilos, sendo que o mínimo recomendado pela Organização das Nações Unidas (ONU/FAO) é de 500 quilos e o máximo 1 mil quilos. Pode-se crescer mais à medida que haja melhor distribuição da renda nacional, que promove o consumo de alimentos, e que os produtores obtenham lucros em seus negócios agropecuários. A questão alimentar em Minas, no Brasil e no mundo merece sempre avaliações de desempenho e políticas públicas convincentes. Segundo a ONU/FAO, a produção agrícola mundial tem que crescer 60% até 2050 e esse crescimento implica produzir mais 1 bilhão de toneladas de grãos e 200 milhões de toneladas de carnes a mais por ano em relação aos níveis de oferta de 2007 e esse avanço dependerá do desempenho agroeconômico do Brasil, China, Indonésia, Tailândia, Rússia e Ucrânia.

Considerando-se que o mundo tem 925 milhões de famintos, dos quais 55 milhões na América Latina e Caribe, a disponibilidade mínima de 500 quilos de grãos por habitante/ano exigiria a oferta anual de mais 462,5 milhões de toneladas de grãos e principalmente para abastecer os países subdesenvolvidos e os em desenvolvimento. Essa é uma realidade perversa. Para ter ideia, a população da Grande BH é estimada em 5,4 milhões de habitantes/consumidores e, se cada um consumir 100 gramas de arroz por dia, a demanda anual será de 194,7 mil toneladas, requerendo uma área de plantio de 97,35 mil hectares, ou três vezes maior do que o município de Belo Horizonte, tomando-se a média estadual de 2 mil quilos de arroz por hectare. A Grande BH é o sétimo maior aglomerado urbano da América Latina. É também fato marcante que a população rural mineira, que era da ordem de 70,1% em 1950 caiu para apenas 14,7% em 2010. Uma debandada geral e sem volta.

GRÃOS FORTES Nos ciclos infindáveis da agricultura, base das cadeias produtivas do agronegócio e dependendo também da chegada das chuvas, os empreendedores rurais mineiros já estudam os cenários para a safra agrícola 2012/2013 e cuja dobradinha histórica soja e milho, milho e soja, conforme os estímulos de mercado, domina a produção de grãos em Minas e no Brasil, ficando entre 80% e 90% da colheita total de grãos, cereais e oleaginosas. Faz-se necessário alertar para o caso do trigo, para o qual a dependência maior com a Argentina parece dificultar a expansão da triticultura nacional. A produtividade média mineira está acima de 4 mil quilos por hectare e é excelente a qualidade do produto. É quase um mistério essa dependência alimentar até certo ponto crítica, que pode ser minimizada, apesar dos acordos bilaterais no comércio internacional do agronegócio.

Produtores familiares, que laboram em 437.415 estabelecimentos rurais no estado, médios e grandes empresários somam esforços nessa tarefa recorrente e anual, lembrando-se que a agricultura familiar não deixa de ser um agronegócio em menor escala ao citar que o conceito de agronegócio foi proposto pela primeira vez em 1957 por John Davis e Ray Goldberg, professores de economia da Universidade de Harvard (EUA), como sendo “a soma total das operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas; as operações de produção na fazenda; e o armazenamento, processamento e distribuição dos produtos agrícolas e outros itens a partir deles”. Foi uma abordagem sistêmica, inovadora e sem fazer distinção do tamanho do negócio agropecuário e suas cadeias.

Num contexto tecnológico e socioeconômico em nível nacional, o governo disponibilizou R$ 115,2 bilhões para o Plano Agrícola e Pecuário 2012/2013 e R$ 18 bilhões do Plano Safra da Agricultura Familiar 2012/2013. Não deixa de ser um considerável volume de dinheiro, mas que necessita da assistência técnica e extensão rural, minimamente, para levar aos produtores, no que lhes compete, as inovações indispensáveis à produção agropecuária e à sustentabilidade dos recursos naturais. As boas práticas agropecuárias aumentam a produção e a produtividade, bem como ampliam os retornos do crédito rural por real investido. Além disso, não há como dissociar a adoção de inovações tecnológicas e custos diretos e indiretos. Produzir custa dinheiro.

Sem subestimar as outras culturas e criações, igualmente importantes, ressalte-se o crescimento médio da produtividade do milho e da soja no estado, embora pontuais, comparando-se a safra agrícola de 1999/2000 com a de 2011/2012, ou seja; a do milho passou de 3.412 quilos por hectare para 5.950 quilos, mais 74,3%; e a da soja elevou-se de 2.398 quilos por hectare para 2.990 quilos, um avanço de 24,6%. Tomando-se didaticamente o caso da soja, a diferença de 592 quilos por hectare pode parecer pouco, mas não é. No plantio de 1 milhão de hectares se colheriam mais 592 mil toneladas desse grão, ou mais 9,86 milhões de sacas no valor de R$ 641 milhões, em valores de meados do ano, e a soja está com o preço de mercado aquecido. Até o fechamento da safra 2011/2012, os dados podem sofrer discretas alterações no campo da produtividade.

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