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Inseminação eficiente

Com o crescimento da população mundial superando cada vez mais o crescimento da produção de alimento, principalmente pela diminuição das áreas agricultáveis, torna-se evidente e necessária a demanda por uma maior produtividade, não só no setor agrícola como pecuário. Existem quatro meios para uma maior produtividade de animais de interesse econômico: a) melhoramento dos sistemas produtivos; b) melhoramento genético; c) desenvolvimento de técnicas para aproveitamento de todo o potencial reprodutivo de reprodutores superiores e maior número de reprodutrizes; d) redução de desperdícios dos produtos de origem animal, principalmente o material genético preservado e estocado. O manejo reprodutivo animal é, sem dúvida, uma das atividades de maior importância para o sucesso da bovinocultura e deve objetivar a utilização de técnicas economicamente viáveis que otimizem o desempenho produtivo e reprodutivo do rebanho. Dentre as tecnologias de reprodução assistida, a Inseminação Artificial (IA) é uma das mais importantes, sendo a que promove maior ganho genético, além de ser acessível e economicamente aplicável em rebanhos comerciais.

O sucesso de um programa de IA depende de vários fatores, entre eles o mais importante é a correta orientação durante a implantação de novos programas e a condução dos já existentes. Entre as causas de baixa fertilidade em programas comerciais de inseminação artificial podem ser citadas, entre outras, a falha na detecção de estro, inseminação em momento inapropriado, mortalidade embrionária, influências climáticas, fatores ligados ao manejo de cada propriedade e qualidade do sêmen. A baixa porcentagem de animais detectados em estro, em alguns casos, deve-se à ausência de atividade ovariana, mas, na grande maioria dos casos, o principal fator é a ineficiência na detecção de estro, sendo esta um dos maiores entraves para a obtenção de índices satisfatórios em programa de IA.

O reflexo de imobilidade à monta de rufiões ou de outras fêmeas é o mais importante sinal de estro, associado aos sinais secundários (vulva edemaciada e hiperêmica, descarga de muco cérvico-vaginal, diminuição do apetite, queda na produção) que não são desprezíveis, mas de menor confiabilidade quando comparados com a imobilidade à monta.

As interações que podem exercer influência sobre o comportamento de estro são estresse, adaptação, ambiente físico, clima, interação humano-animal, manejo, condição nutricional, idade, genética e a presença ou ausência do touro no lote. Desta forma, a movimentação do animal para mudança de pasto como qualquer movimentação agitada, chuvas, pode influenciar de forma negativa na manifestação clínica de estro, principalmente na verificação do comportamento de monta.

Vários autores distinguem o período do início do estro como em diurno ou noturno, podendo terminar no mesmo período ou no próximo período.

Vários métodos têm sido utilizados para detecção de estro, dentre eles a observação visual da atividade de monta por funcionários treinados, pedômetro, radiotelemetria, sistema que indique a ocorrência de monta (tail-paint ou chalk), resistência elétrica do muco cérvico-vaginal, métodos bioquímicos, rufiões e cães treinados para detectar odores, todos com resultados variáveis. Estes métodos podem ser utilizados isoladamente ou em conjunto, dependendo do sistema de criação e produção.

Observação visual

A identificação visual dos sinais de estro, por pessoas treinadas, baseia-se na observação das alterações de comportamento do animal e em modificações na genitália externa. O melhor período e a freqüência para se realizar a detecção de estro ainda é muito discutido, mas a observação duas vezes ao dia, pela manhã e ao fim da tarde, ainda é a mais utilizada, com acréscimos variáveis nos índices de detecção de acordo com aumento no número de observações diárias.

Para uma adequada detecção de estro pelo método visual, o observador precisa dispor de tempo suficiente durante as observações para assegurar que verifique os sinais de estro, inclusive aqueles mais discretos, que podem ocorrer no início ou no fim do mesmo. Pode ser utilizada uma escala de escore para classificar os sinais de estro.

Quando somente este método é empregado, por volta de 20 a 40% dos estros não são identificados, e de 15 a 20% são falso positivos. Cada programa reprodutivo tem suas características próprias, considerando-se a raça, o número de animais, o grau de treinamento dos funcionários e o manejo adotado, o que estimula a utilização simultânea de mais de um método, para assegurar maior eficiência na identificação do estro, pois existem animais que mesmo em estro não manifestam imobilidade à monta, não devendo ser somente este o critério para detecção do estro.

Ocorrência de monta

Os métodos que indicam a ocorrência de monta, utilizados para auxiliar a detecção de estro são Tail chalk que consiste na aplicação de giz e Tail paint, a aplicação de tinta, ambos colocados na região da inserção da cauda do animal que, quando pressionados durante a monta deixam marcas no animal em estro. Entretanto, a eficiência destes métodos também depende de boa dedicação do responsável pela observação. Adesivo contendo tinta (Kamar®), aderido no posterior do animal próximo à inserção da cauda que rompe quando montada, também pode ser utilizado.

Dispositivo eletrônico detector de monta, como o (Heat Watch®), aderido na região da inserção da cauda do animal, ativado pela pressão feita pelo rufião ou por fêmeas durante a monta, emite um sinal por meio de freqüência de rádio (Radiotelemetria) para um receptor que registra hora e dia da monta que são marcados por um software que armazena os dados e monitora o comportamento do animal por 24 horas contínuas. Uma desvantagem deste método é que seu alcance máximo é de 400 metros entre animal e o computador que armazena as informações, além de seu custo elevado.

Outro método disponível para marcar o animal montado é o buçal, que pode ser utilizado no touro ou no rufião ou mesmo em uma fêmea preparada para rufiação.

Os métodos que sinalizam a ocorrência de monta são comumente utilizados em rebanhos leiteiros, tendo sua viabilidade questionável em rebanhos de corte, principalmente devido ao seu custo elevado e às peculiaridades na criação de animais de corte, como distância das instalações em relação aos pastos e geralmente ao grande número de animais deste sistema de criação.

Pedômetro

Pedômetros, sensores colocados nas patas do animal para registrar o deslocamento do mesmo em um determinado período, pois animais em estro são quatro vezes mais ativos quando comparados com animais em outra fase do ciclo estral. Entretanto, cada animal tem de ter seu padrão individual de atividade pré-estabelecido. Este método também necessita de verificação dos sinais secundários para confirmar o comportamento típico de estro, portanto não é adequado para ser utilizado isoladamente. Ele pode ser comercialmente utilizado em rebanhos leiteiros de alta produção, porém com ressalvas em relação ao seu custo benefício, pois cada unidade colocada no animal custa em média US$ 100, enquanto o software custa de US$ 1 mil a US$ 4 mil. Este método, por suas características, não é aplicável em rebanhos de corte comerciais.

Métodos bioquímicos

Os métodos bioquímicos consistem em mensurar progesterona no sangue ou leite com kits comerciais, uma vez que a elevada concentração de progesterona indica que o animal está fora do período de estro, enquanto a baixa de progesterona pode indicar que o animal está em anestro, ou estro. Os métodos bioquímicos são pouco utilizados tanto em bovino de corte como de leite, principalmente pelo seu elevado custo e baixa eficiência.

Resistência elétrica

A mensuração da resistência elétrica de fluido vaginal pode auxiliar na detecção de estro, pois a condutibilidade deste fluido aumenta durante o estro, principalmente pela maior quantidade de sais. A leitura da resistência deve ser diária, porém não deve ser somente este o critério para detecção do estro, pois existem outros fatores que podem confundir com resultados semelhantes da resistência, como infecções vaginais e uterinas, doença ovariana, o que também sinaliza para a necessidade de sua associação com visualização do comportamento e sinais secundários de estro para confirmação do mesmo. Adicionalmente, vale ressaltar que é um método que demanda muito tempo para sua realização, o que o torna de pouca aplicabilidade em criações comerciais de bovino de corte.

Rufião

A utilização de rufiões é o método amplamente empregado para detecção de estro em rebanho de corte e leite, podem ser preparados por diferentes métodos cirúrgicos, bem como podem ser utilizadas vacas e novilhas androgenizadas. O emprego de rufiões com ou sem buçal marcador na detecção de estro em programa de IA deve necessariamente ser associado à visualização pelo inseminador, mas a eficiência na detecção aumenta quando os rufiões são utilizados com buçal marcador. Uma seleção e classificação dos animais para serem utilizados como rufiões deve ser feita avaliando principalmente aprumos, dominância social e libido.

Outros

Cães treinados para detectar odor característico de estro no muco vaginal ou no leite também já foram utilizados para detectar a fase do ciclo estral, porém com sua eficiência questionada.                               

O mais utilizado

Dentre os métodos disponíveis para a detecção de estro, o mais utilizado é a associação da observação visual com auxílio de rufiões. Pesquisas mostram que existe um percentual considerável de animais que manifestam estros curtos, noturno e/ou diurno, que os mesmos ocorrem entre os períodos de observação de estro, podendo representar até 25% do total de animais liberados para o programa ou um acréscimo de 18% em estro detectado. Desta forma, inúmeros estros passam desapercebidos durante uma estação de monta quando o método de detecção de estro utilizado é somente o de observação visual ou até mesmo com auxílio de rufiões, duas vezes ao dia.

Entretanto pesquisadores sugerem observações adicionais diurnas, por volta do meio do dia e noturnas, o que no entanto torna o programa mais oneroso. As observações adicionais noturnas e diurnas podem ser evitadas, com a associação de três métodos de detecção, observação visual duas vezes ao dia (manhã/tarde) com auxílio de rufiões munidos com buçal marcador. Para tal, devem ser considerados os animais que forem encontrados com o dorso tingido com a tinta do buçal marcador, porém não mais aceitando a monta. Estas matrizes possivelmente manifestaram estro durante a noite, se encontradas pela manhã, ou durante o dia, se identificadas à tarde.

Pesquisas recentes mostraram ser viável a IA imediata das reprodutrizes encontradas sem receptividade sexual (não aceitando a monta), porém com o dorso tingido pela tinta do buçal marcador. O que representa um ganho na taxa de detecção de estro com menor custo de mão de obra. Lembrando que em inúmeros programas de IA, o maior entrave está no baixo número de animais detectados em estro e não a resposta destes à inseminação artificial. Isto deve ser muito bem ponderado no momento de avaliar a escrita zootécnica de programas distintos. Exemplificando dois rebanhos A e B, ambos com 300 matrizes, o rebanho A com uma taxa de gestação de 90% e o B com 75%, com estes dados qual será o melhor programa? Mas se acrescentarmos que o rebanho A teve uma taxa de detecção de estro de 70% e o rebanho B uma taxa de 90%. Agora, qual teve o maior número de matrizes gestantes ao final da estação de monta? O A com 202 e o B com 189, uma diferença de 6%, o que não é desprezível quando levada em consideração a característica econômica do programa de IA.

Por isso, quando falamos que é importante a correta orientação durante a implantação de novos programas de IA e a condução dos já existentes, referimo-nos principalmente em esclarecer ao produtor todas as peculiaridades e dificuldades que serão enfrentadas durante o programa e que o fruto desta tecnologia não se colhe da noite para o dia ou já na próxima desmama, mas sim quando este estiver em reprodução ou quando for para a balança.

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