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Inimigo oculto – Fasciolose

Fasciola hepatica é popularmente conhecida na região sul do Rio Grande do Sul por "saguaipé" e "baratinha do fígado". Os vermes adultos se assemelham a folhas, são planos ou chatos de cor avermelhada, cobertos por minúsculos espinhos, medindo de 2-3cm de comprimento por 1-1,5cm de largura e são hermafroditas. Estes localizam-se nos ductos ou canais biliares enquanto que as formas jovens são encontradas migrando pelo parênquima hepático. Mamíferos em geral podem ser parasitados, inclusive o homem, porém os hospedeiros definitivos mais importantes dos pontos de vista epidemiológico e econômico são ruminantes, bovinos e ovinos.

Os parasitos utilizam como hospedeiros intermediários caramujos de água doce do gênero Lymnaea, com as espécies L. viatrix e L. columella no Rio Grande do Sul. Estes moluscos apresentam concha cônica, são pequenos, medindo no máximo 6-8mm na natureza, coloração cinza escuro e encontrados em locais úmidos, lodosos, na beira dos canais de irrigação no caso de L. viatrix, e L. columella dentro da água, em açudes, lagos, córregos e canais de águas rasas e pouca correnteza, fixados na vegetação submersa.

Biologia e transmissão

Ciclo biológico: os parasitos fazem a postura nos ductos biliares do bovino (em média 10 mil ovos/dia/parasito), os ovos são levados com a bile para o intestino e eliminados com as fezes, na água dão origem aos miracídios que saem dos ovos, locomovem-se na água e penetram nos caramujos (hospedeiros intermediários) originando esporocistos, rédias e cercárias, que abandonam o caramujo, fixando-se na vegetação aquática e pequenos detritos dentro da água, transformando-se em metacercárias, que são as formas infectantes. Os bovinos ingerem pastagem ou água contendo metacercárias, as quais no intestino delgado originam formas jovens, que atravessam a parede intestinal, penetram no fígado, migrando pelo parênquima hepático por 4-6 semanas até chegar aos ductos biliares, onde tornam-se adultos fazendo postura novamente. O ciclo se completa em 2-3 meses e os saguaipés vivem 1-2 anos nos bovinos.

Patologia

A fase aguda da doença ocorre quando as formas jovens estão migrando pelo parênquima hepático, destruindo as células e causando focos hemorrágicos difusos, no entanto, esta fase raramente se manifesta em bovinos, ocasionalmente em terneiros (bezerros), porém dificilmente causando morte. Os bovinos desenvolvem resistência à Fasciola.

A fase crônica da fasciolose é a mais importante em bovinos. O fígado apresenta-se pálido, com lobo ventral atrofiado, calcificação das lesões tissulares, fibrose e acentuado engrossamento da parede dos ductos biliares (hiperplasia) de maneira que estes se tornam visíveis na superfície do órgão. Nas infecções maciças, com anemia e hipoalbuminemia, os terneiros podem apresentar edema submandibular.

A migração de fascíolas para o pulmão, formando abscessos, é relativamente comum em bovinos.

Diagnóstico

O diagnóstico clínico da fasciolose é difícil, podendo ser confundido com outras doenças, tornando-se necessário o diagnóstico laboratorial através do exame de fezes. Outro método de diagnóstico é o exame do fígado por ocasião do abate ou necropsia.

Controle

O tratamento preconizado para a região Sul do Rio Grande do Sul consta de três medicações estratégicas anuais:

• 1ª – no final do outono (maio), com fasciolicida que atue nas formas jovens e adultos;

• 2ª – no início da primavera (setembro), com fasciolicida que atue em adultos; e

• 3ª – no verão (dezembro ou janeiro), com fasciolicida que atue nas formas jovens e adultos.

Prejuízos diretos

A região Sul do Rio Grande do Sul é a maior área endêmica de fasciolose do Brasil. Segundo o médico veterinário Valmor Lansini, Supervisor CISPOA/DPA/SAA* Regional Pelotas, que atende 23 municípios,  delimitados por Tavares, Camaquã, Santana da Boa Vista, Pinheiro Machado, até o Chuí, onde são abatidos 60 mil bovinos/ano, destes 28,56% tiveram os fígados condenados por fasciolose em 2003, para o consumo humano.

Levando-se em consideração que um fígado bovino pesa cerca de 5 Kg e que o Kg custa R$ 3,00, isso resulta em  perda de R$ 15,00, para o frigorífico, por fígado condenado.

Nos frigoríficos Mercosul (Extremo Sul, Bagé, Alegrete e Mato Leitão) são abatidos 460 mil bovinos/ano, em 2003 foram condenados 43,5% dos fígados por fasciolose e hidatidose, resultando num prejuízo de R$ 3 milhões.

Prejuízos indiretos

A fasciolose, em si, não mata os bovinos, induzindo os pecuaristas a não considerá-la um problema. No entanto, como um inimigo oculto, lesa o fígado e interfere no metabolismo, comprometendo a performance produtiva e reprodutiva do rebanho. Além disso, as lesões hepáticas servem de porta de entrada para infecções por Clostridium haemolyticum, cuja doença  Hemoglobinúria baciliar (HB) é letal.  A alta incidência de HB em regiões baixas e alagadiças está relacionada à fasciolose. Com isso, fica evidenciado que Fasciola hepatica é problema.

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