Adubação, Solos e Pastagem

Fosfatagem como medida corretiva

 

No início da ocupação dos cerrados, muitos desafios comprometiam a produção de grãos na região. A alta acidez e o baixo teor de nutrientes eram talvez os problemas mais frequentes. Dentre todos os nutrientes, o fósforo (P) era o que chamava mais atenção, pelos teores nativos incipientes e pela capacidade de adsorção dos solos.

Hoje em dia, o entendimento da capacidade de adsorção de P pelos solos do cerrado e a necessidade de elevar a disponibilidade desse nutriente é um conhecimento difundido. Embora para algumas propriedades agrícolas a disponibilidade de P no solo não seja mais um problema, o assunto ainda é atual e pede discussões.

Em algumas regiões de abertura de novas áreas para plantio de grãos, seja de vegetação nativa ou de pastagens, a disponibilidade de P é um empecilho para a produção. Em muitos casos, inclusive em regiões já consagradas na produção agrícola, o manejo do P é um dos pontos chave para aumento da produtividade.

É possível sistematizar um programa de manejo da fertilidade do solo para um determinado nutriente, conforme a maturidade do sistema de produção e o estágio em que o solo se encontra no processo de construção da fertilidade. Assim se os teores de um nutriente se encontram abaixo do nível crítico, com disponibilidade “baixa” a “muito baixa”, a estratégia de manejo é a correção dos níveis de fertilidade do solo com o emprego da adubação corretiva. O gráfico abaixo traz uma recomendação de interpretação dos níveis de P no solo.

 

Para o manejo do P, uma das primeiras recomendações técnicas é do começo da década de 1980. Como forma elevar o teor de P para solos com disponibilidade muito baixa, Lopes (1984) estimou as doses de P2O5 solúvel conforme a relação:

Kg de P2O5/ha = 4x(% de argila)

Com a mesma finalidade Souza (1989) propôs a seguinte recomendação:

 

 

As doses recomendadas são dependentes do teor de argila no solo. Na realidade, a capacidade de adsorção de P do solo está ligada a mineralogia da fração argila. Essa propriedade é característica de argilas de baixa reatividade, como os óxidos de ferro e alumínio, muito comuns nos latossolos. Sendo assim, quanto maior o teor de argila de um solo, maior sua capacidade de adsorção e maior a demanda de fertilizante para elevar o teor do nutriente.

As recomendações acima preveem que os fertilizantes sejam aplicados a lanço, em área total, e incorporados com gradagem, sobretudo para doses superiores a 100 kg/ha de P2O5. Nota-se, nesse caso, que as recomendações são genéricas, propondo o emprego de altas doses de fertilizante, visando “saciar” a avidez do solo pelo P. Esse é o conceito de fosfatagem clássica.

Recentemente, surgiram outras propostas de recomendação, mais criteriosas, bem como outros indicadores para interpretação da disponibilidade de P no solo, como o P remanescente (P-rem).

Sousa et al. (2002) recomendam a correção dos níveis de P conforme o sistema de produção, utilizando para o cálculo das doses o teor de argila ou o valor de P-rem.

 

Em um estudo sobre a calibração da adubação fosfatada para grãos em solos do Paraguai, Andrada (2005) verificou que a elevação dos teores de P no solo pelo uso de fertilizantes variou com o teor de argila e também conforme o histórico de uso da área. Assim, o pesquisador estratificou a recomendação de fosfatagem corretiva, conforme estas duas características (teor de argila e histórico de uso). A tabela abaixo, “com histórico”, equivale a áreas em que há um histórico de manejo da fertilidade, com o uso criterioso de fertilizantes, rotação de culturas, adubos verdes, e outras práticas conservacionistas.

 

O mesmo pesquisador propõe uma recomendação de fosfatagem corretiva parcelada em três cultivos, com as doses para correção (valores cheios na tabela) acrescidas da adubação de manutenção.

 

 

Martha Júnior et al. (2007) visando a fosfatagem em pastagens, utilizam para recomendação de doses a capacidade tampão do solo (CT), seguindo a fórmula abaixo:

 

Os valores de CT variam conforme o teor de argila do solo e o extrator utilizado em análise de solo.

 

 

As recomendações de fosfatagem atuais estão inseridas em um contexto de produção diferente daquele em que se propôs a fosfatagem clássica. O revolvimento intensivo no solo e a incorporação de fertilizantes não se adequam ao sistema de plantio direto, hoje a forma de cultivo preponderante nas regiões produtoras de grãos. Em razão disso, e de outros aspectos a serem discutidos, o parcelamento da correção de P ao longo de diferentes safras e aplicação em sulco de semeadura parece ser a melhor alternativa técnica para a fosfatagem.

A magnitude e a velocidade dos processos de indisponibilização de P nos solos com grande capacidade de adsorção torna questionável a prática da fosfatagem na forma clássica. Para solos com um perfil-dreno (alta capacidade de adsorção), a solução para o manejo do P parece ser minimizar o contato da fonte de nutriente com o solo, pela aplicação localizada, pela granulação do fertilizante, pela diminuição do tempo de contato do fertilizante com o solo (como pelo parcelamento da adubação). A situação ideal seria aquela em que a fonte de P teria o menor contato com o solo e o maior contato possível com o sistema radicular da cultura. Assim, estará sendo favorecido, preferencialmente, o dreno-planta em relação ao dreno-solo (SBCS, 2007).

A tabela abaixo ratifica as afirmações do último parágrafo. Neste caso, o parcelamento e a adubação no sulco de plantio aumentaram a produção acumulada e a recuperação do P.

 

O aumento da produtividade de grãos depende, entre outros fatores, da construção da fertilidade do solo. De todos os nutrientes, para as condições brasileiras o P é aquele que mais restringe a produtividade e que pede o mais criterioso manejo como forma de elevar sua disponibilidade no solo. Sendo assim, é fundamental que o responsável técnico tenha o devido conhecimento das recomendações agronômicas de fosfatagem e o entendimento sobre a dinâmica deste nutriente no sistema de cultivo.

 

Clique aqui para Comentar

Você precisa fazer o login para publicar um comentário. Logar

Deixe sua Resposta

Mais Lidas

Topo