Artigos

Estresse de calor em aves

Definição de estresse

A definição de estresse em alguns dicionários refere-se a: ação inespecífica dos agentes e influências nocivas (calor ou frio excessivos, infecção, intoxicação, emoções violentas, tais como, inveja, ódio, medo, etc) que causam reações típicas do organismo, tais como a síndrome de alarma e a síndrome de adaptação. Nesse sentido o estresse pode ser entendido como alteração das funções orgânicas que buscam trazer o organismo para o estado de equilíbrio, mantendo o meio interno e suas atividades vitais.

Muitas das alterações relativas ao estresse estão associadas a mecanismos rápidos, ou seja, que envolvem o sistema nervoso central, especialmente, o sistema nervoso autônomo, que através dos sistemas simpático e parassimpático preparam o organismo para as reações de alarma. Assim, pilo ou ptiloereção, aumento da pressão arterial e freqüência cardíaca, taquipnéia (aumento da freqüência respiratória) e outras respostas ocorrem quando o animal está submetido ao estresse.

Por outro lado, caso o estresse seja crônico, além das atividades neurais, respostas hormonais são ativadas, estas de ação lenta, e têm, como conseqüência, mudança na atividade de síntese protéica, interferindo de forma marcante no desenvolvimento do animal. Dessa forma, as respostas ao estresse podem ser encaradas de duas maneiras: na primeira, os animais tentam de forma aguda manter o equilíbrio do meio interno através do sistema nervoso, e a Segunda, um processo adaptativo crônico, que envolve a síntese de proteínas e ajustes anatofisiológicos.

Por isso, na definição de estresse, alguns autores invocam os dois síndromes: de alarme (envolvendo o sistema nervoso) e o adaptativo (envolvendo o sistema endócrino ou hormonal).

Estresse de calor em aves
As aves são animais denominados de homeotermos, e nesse sentido mantêm a temperatura corporal (ou dos órgãos vitais, como: cérebro, pulmões, coração, trato digestório) estável, ou seja, 41o C, com variação de mais ou menos 0,5o C. A temperatura das extremidades, como patas, crista, barbela e demais áreas superficiais apresentam grande variação de temperatura, pois dependerão do fluxo de energia (calor) que ocorre entre as partes internas e a superfície da pele, considerando que a ave está inserida no meio ambiente, com o qual troca energia (calor).

Nas temperaturas ambientais consideradas como de conforto térmico para as aves (ao redor de 25 a 28o C), a temperatura média da superfície da pele é ao redor de 33o C, e a temperatura interna de 41o C ; assim, como existe uma diferença de temperatura entre a superfície da pele e o ambiente, ocorrerá um fluxo de energia (calor) do local mais quente (pele – 33o C) para o mais frio (ambiente – 25 a 28o C). Este processo de transferência de energia é denominado de troca sensível de calor, pois a ave perde a energia através de mecanismos radiativos, condutivos ou convectivos.

Considerando a diferença de temperatura de 5o C, a ave tem muito pouco gasto de energia para ativar os mecanismos de alarma, e com isso, manter a homeotermia. Contudo, quando essa diferença aproxima-se de zero, ou seja, temperatura do ambiente igual a temperatura de pele, a ave não consegue perder energia (calor) através desses mecanismos sensíveis, e entra em estresse pelo calor, pois ocorrerá acumulo de energia no organismo, com aumento da temperatura interna. As aves, de forma similar, aos mamíferos, nessas circunstâncias ativam os processos evaporativos de perda de energia (evaporação cutânea e respiratória), os quais não dependem da diferença de temperatura (pele – ambiente), mas da diferença de pressão de vapor. Esse processo denomina-se de perda de energia (calor) latente.

Para tanto, haverá necessidade da presença de gotículas de água, ou sobre a pele, ou mais comumente, sobre a superfície das mucosas. Como nas aves não há sudorese, pois as mesmas não têm glândulas sudoríparas, o processo de perda de energia (calor) dependerá da perda evaporativa respiratória, por isso, quando a temperatura interna das aves aumenta, a mesma é acompanhada de taquipnéia (aumento da freqüência respiratória), retirando calor do organismo. Fisicamente, nesse processo, para cada 1 grama de água que é evaporado elimina-se 550 cal . No entanto, esse processo de alto custo, com aumento da atividade dos músculos respiratórios, o que poderá induzir alteração do pH do sangue (alcalose respiratória). Dessa forma, o estresse pelo calor estará alterando parâmetros sangüíneos relevantes, os quais podem causar a morte da ave.

Manejo da temperatura do galpão

O manejo da temperatura do galpão objetiva, em condições de verão, manter, e principalmente, aumentar o gradiente de temperatura entre a superfície da pele da ave e a temperatura do ambiente. Para tanto, procedimentos como: ventilação, aspersão, forramento, pintura de telhado, sistemas adiabáticos, sombreamento natural, telhas especiais e demais procedimentos físicos, somente terão sucesso se, o diferencial de temperatura for aumentado.

Caso contrário, todo processo será inócuo para reduzir o estresse pelo calor. Um dos procedimentos mais eficazes de perda de energia (calor) é a condução, ou seja, o contato direto da ave com uma lâmina de água com baixa temperatura (perda de energia pelo processo sensível – condução), ma na avicultura de corte, esse tipo de manejo não é, ainda, possível, considerando que as aves são alojadas sobre cama, e aumento da umidade da cama está associada à doenças e prejuízos de desempenho.
Dessa forma, o manejo da temperatura do galpão tem como objetivo aumentar o gradiente entre temperatura de pele e ambiente, a fim de propiciar maior perda de energia (calor) para o meio ambiente, reduzindo o desconforto (estresse) na ave.

Estresse pelo calor e desempenho (ganho de peso e conversão alimentar)
O aumento da temperatura interna provoca nas aves ( e mamíferos) redução do apetite, e consumo de ração. Esse fato ocorre devido ao fato de que a digestão e absorção de nutrientes tem custo energético elevado, representando de 10 a 15% da taxa metabólica basal (custo metabólico para manter o animal vivo) do animal. Assim, como durante a digestão e absorção a produção de calor aumenta, o animal diminui o consumo, a fim de reduzir a quantidade de energia gerada, internamente, pelo organismo.

A redução do consumo, disponibiliza maiores quantidades de enzimas (do pâncreas e mucosa intestinal) para digestão, bem como maiores proteínas transportadoras de membrana para a absorção dos nutrientes. O resultado líquido desse processo é a melhoria da conversão alimentar, mas como a ingestão é baixa, o ganho de peso dos animais em condições de estresse pelo calor é bem abaixo daquela dos animais criados em condições de temperatura de conforto, ou mesmo, de frio. No caso do frio, o ganho de peso é maior, mas as custas de maior consumo, e pior conversão.

Termômetro celular

Todas as células do organismo das aves são suscetíveis ao aumento da temperatura interna, e podem sofrer a morte celular, ou apoptose. Nesse sentido, existe nas células processos que detectam o aumento da temperatura, e tentam protegê-las – é o chamado termômetro celular. Esse é representado pela capacidade que a célula tem de sintetizar uma proteína, chamada de proteína de estresse (Hsp – sigla derivada do termo inglês, heat shock protein), a qual protege as proteínas celulares, a fim de que as mesmas não percam suas estruturas tridimensionais, e por conseqüência, suas funções.

Durante o estresse pelo calor, quando a temperatura interna começa a aumentar, ocorre o aumento da síntese dessas proteínas, e as células suportam melhor o aumento da temperatura. É sugerido que, quanto maior a quantidade dessas proteínas nas células, mais tolerante ao calor é o animal. Dessa forma, muitas investigações tem sido realizadas objetivando aumentar a quantidade das Hsps nos tecidos dos frangos, e dessa forma, tornando-os mais tolerantes ao calor.

Clique aqui para Comentar

Você precisa fazer o login para publicar um comentário. Logar

Deixe sua Resposta

Mais Lidas

Topo