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De olho na água para o futuro

Tomando apenas como referência uma demanda potencial de 200 litros de água por habitante/dia numa cidade de 2,375 milhões de habitantes, como é o caso de Belo Horizonte, essa oferta teria que ser de 475 milhões de litros diariamente e 171 bilhões de litros por ano, ou 171 milhões de metros cúbicos anuais, para o abastecimento doméstico com seus múltiplos usos. Um pequeno exemplo diante dos 7 bilhões de consumidores que vivem neste planeta atualmente, que fica ainda menor frente a previsão de 9,2 bilhões em 2050. Pode-se afirmar que sem água não há vida como a conhecemos e nem economias sustentáveis que dependem dela nos continentes. Estima-se que 2 bilhões de pessoas têm acesso limitado à água.

Embora o volume de água doce seja o mesmo há milhões de anos, esse recurso hídrico vital e insubstituível está mal distribuído na Terra, incluindo os desertos e as regiões semiáridas. Segundo os cientistas, o Deserto de Atacama, no Chile, tem áreas específicas que podem passar até 4 mil anos sem chuvas e o Brasil abriga regiões menos beneficiadas pelas chuvas regulares, como o Nordeste do país e o semiárido mineiro. Um milímetro de chuva significa um litro de água por metro quadrado. Em Minas, a agricultura familiar ocupa uma área potencial para coleta de água de 8,84 milhões de hectares em 437.415 estabelecimentos rurais e no total as fazendas mineiras somam 32,6 milhões de hectares, se adotadas as práticas conservacionistas.

A questão da água doce transcende a abordagem econômica, como insumo, e se projeta para além de discussões acadêmicas ao exigir dos governos e da sociedade consumidora ações objetivas num horizonte curto de tempo. Nascem anualmente na Terra 60 milhões de seres humanos e entre 1950 e 2012 sua população aumentou em 4,5 bilhões de habitantes. Vai-se continuar discutindo o quê? Por quanto tempo mais haverá essas rodadas internacionais discursivas? Lembre-se que a poluição das águas se processa em milhões de quilômetros quadrados no campo e nas cidades em suas bacias coletoras e hidrográficas.

CONTA DESIGUAL É compreensível, mas não aceitável, que os protocolos internacionais custem a sair do papel e os países ricos, que dilapidaram parte substantiva de seus recursos naturais em nome do desenvolvimento não sustentável, queiram liminarmente que os países mais pobres e os em desenvolvimento sejam quase forçados a pagar essa conta que deve ser solidária. Por muitas razões que se associam, não se devem subestimar os conflitos mundiais que se prenunciam pela posse e uso dos recursos hídricos até por questões de sobrevivência humana, incluindo-se as águas fronteiriças. É uma questão de tempo.

Além disso, deve-se banir a tese da abundância dos recursos naturais e as pesquisas tecnológicas precisam avançar mais à procura de inovações que reduzam os desperdícios de água em todos os cenários e consigam também plantas mais resistentes ao estresse hídrico, sem comprometer suas produtividades médias e seus esperados resultados socioeconômicos e ambientais. O potencial de irrigação no estado é de 2,3 milhões de hectares, contra os atuais 500 mil, e a agricultura irrigada, conciliada com as chuvas, permite dois ou mais plantios numa mesma área.

No uso do solo agrícola, se houver uma perda de 10 toneladas por hectare, em l milhão de hectares cultivados teria-se 10 milhões de toneladas de terra erodida, ou 200 mil vagões com capacidade unitária de 50 toneladas. Estima-se que a perda anual do Brasil seja de mais de 1 bilhão de toneladas de solo agrícola, apesar dos avanços do plantio na palha em 70% da agricultura brasileira. Os manejos do solo e da água devem andar juntos, e haja dinheiro para adotar essas inovações no campo. Os produtores precisam ser pagos por serviços ambientais prestados.

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