Estima-se que a produção anual brasileira alcance 21 milhões de unidades, e ainda tem que importar 80% de suas necessidades. Cerca de 70% deste couro apresenta algum tipo de defeito. Comparativamente aos Estados Unidos, o Brasil perde anualmente U$ 505,02 milhões na produção de couro.
O problema começa no campo; com os parasitas (carrapato, berne, mosca-do-chifre, etc); no manejo inadequado como a utilização de ferrões, arames farpados que, sem dúvida, causam danos irreparáveis.Outro problema são as sucessivas marcações com os mais variados tamanhos e em regiões nobres do animal como o cupim, paleta, quarto, anca, etc, que, apesar de facilitarem a lida com os animais, danificam as peles. Associados a estes, têm-se as incisões ocorridas no transporte, além dos furos devido a esfolas incorretas, até a má conservação da pele após o abate.
Decretos-lei (nº 4.854 de 12/10/42 e nº 4.714 de 29/06/65) disciplinam o tamanho (11 cm de diâmetro) e a região corpórea (articulações perna/coxa, perna/paleta e cara) do animal, onde as marcas ou símbolos são permitidos. Talvez por desconhecimento da lei ou por não auferirem lucro com o couro, é que proprietários conduzem aleatoriamente seus trabalhos de manejo, contribuindo assim, para desqualificação do couro e a sua desvalorização.
Porque o produtor não produz animais com couro de boa qualidade?
A falta de incentivos financeiros (é) seria uma boa resposta. No abate, os frigoríficos pagam ao produtor o preço da carcaça bovina e o couro, considerado subproduto, não lhe garante nenhuma remuneração. Os frigoríficos vendem o produto aos curtumes e recebem por quilo. As peças são classificadas de acordo com seus defeitos e os prejuízos econômicos são evidenciados.
Ainda que o produtor consiga produzir um couro de boa qualidade, pela diminuição dos defeitos verificados nas propriedades, por meio de controle efetivo das parasitoses, adequação das marcas, etc, os benefícios serão anulados em virtude das injúrias que estes sofrem durante o transporte, esfola, armazenamento, conservação e no próprio curtimento. Isso evidencia que, para melhorar a qualidade do couro produzido no Brasil, há necessidade do engajamento de todo o sistema produtivo num trabalho de conscientização.
O criador deve adotar tecnologias e treinar seus funcionários na melhor forma de manejar os animais. O cuidado no transporte dos animais deve ser redobrado, evitando-se acidentes no percurso. Na esfola e no armazenamento, as tarefas devem ser realizadas corretamente evitando-se perdas.
Com um aumento na produção de couro de melhor qualidade e a sua melhor remuneração em todos os segmentos da cadeia produtiva, sem dúvida, ter-se-á menor evasão de divisas (importação), melhor desempenho do setor produtivo. Ganhará, desde o produtor ao trabalhador, passando pelos empresários e o governo.
Produção do couro brasileiro:
- 15% são de primeira categoria, 40% de segunda. 30% de terceira e 15% de refugos. Em Mato Grosso do Sul, estado detentor do maior rebanho bovino de corte brasileiro, o couro de primeira categoria não ultrapassa os 10%
- O couro pesa entre 7 e 7,5% do peso vivo do animal. Independente da sua qualidade tem o valor comercial estimado em 10% do animal ao abate e 25% do animal em pé.