Agronegócio

Carrapatos: Cuidados com “superparasitas”

Nenhum fazendeiro precisa entender a fundo os ensinamentos do cientista britânico Charles Darwin (1809-1882), autor da teoria sobre a seleção natural das espécies, para constatar que o uso incorreto e exagerado de carrapaticidas torna os artrópodes mais resistentes às fórmulas químicas, criando uma espécie de “superparasita”. “O controle está sendo extremamente afetado em razão do longo processo de seleção natural. Criamos, dessa forma, um superparasita”, reforça o médico-veterinário Romário Cerqueira Leite, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Ele aconselha aos pecuarista a busca de conhecimento para um controle correto contra os parasitas. “O que falta ao produtor é conhecimento suficiente, investindo no treinamento de seus funcionários e em tecnologia”, acrescentou Romário.

Seu ex-aluno de doutorado e funcionário da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), o médico-veterinário Daniel Sobreira reforça o alerta do mestre: “É necessário observar que o problema deve ser enfrentado de forma consciente e organizada. O uso de medidas inadequadas geralmente agrava a situação, promovendo aumento dos prejuízos econômicos e riscos para a saúde pública e para o ambiente”.

Especialistas no assunto avaliam que o poder público precisa rever sua inércia diante do assunto. “Mesmo os parasitas sendo responsáveis pelo consumo de 34% de todos os insumos veterinários do Brasil, não temos uma política pública”, lamenta Romário. Pesquisas como a que calculou o prejuízo causado pelo carrapato-do-boi no rebanho de leite do estado, da ordem de US$ 216 milhões, são importantes para mostrar às três esferas de governo – União, estados e prefeituras – a importância do assunto.

SEM INÉRCIA

“A partir desse tipo de levantamento, temos argumentos técnicos para que o Estado brasileiro pense em fazer alguma coisa. Estamos fundamentando as razões técnicas e os valores econômicos para que o governo abrace a causa”, completou o professor da UFMG, que assinou a pesquisa juntamente com o pesquisador da Epamig. Uma das estatísticas que serão apresentadas ao governo é a perda com a arrecadação de impostos.

Levando-se em conta que a carga tributária no país é de 36,27%, segundo o último balanço divulgado pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) e que se refere ao ano de 2012, significa dizer que o poder público – União, estado e municípios – deixou de arrecadar US$ 75,6 milhões em impostos por causa das perdas na produção leiteira. O leite que não chega ao mercado, não é vendido. Com isso, o governo arrecada menos.

Antônio Ferreira, fazendeiro na área rural de Sabará, ficou surpreso com a cifra: “O governo precisa olhar mais para o homem do campo”. Para Romário, o imposto que o governo deixa de arrecadar poderia ser uma das fontes no combate a parasitas.
 

Controle estratégico é o recomendado
 
Morador da área rural de Sabará, na Grande Belo Horizonte, Ailton Antônio Pinto, de 67 anos, não descuida do seu pequeno rebanho, formado pelo garrote Adão e as vacas Fortuna, Estrela e Boneca. O controle químico contra carrapatos, bernes e verminoses lhe toma tempo, mas garante uma boa saúde aos animais e, claro, qualidade no leite: “Se não tratarmos corretamente a criação, ela sente. E nosso bolso também”. Seu vizinho Antônio Ferreira, de 71, também fica atento contra parasitas que atacam suas quatro mestiças: “Aproveito o tratamento contra carrapatos para eliminar bernes e verminoses”.

Sem saber, Ailton e Antônio fazem o que os médicos-veterinários Romário Leite, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e Daniel Sobreira, da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), chamam de “controle estratégico integrado de parasitas em rebanho de leite”. É importante o fazendeiro tratar o animal contra todos os parasitas. Muitos produtores só enxergam o carrapato e o berne, mas precisam lembrar que a verminose causa grande prejuízo ao rebanho”, comenta o professor da UFMG.

A fêmea do carrapato-do-boi se desprende do gado no 21º dia de vida para desovar, no pasto, de 3 mil a 4 mil ovos. “A fêmea vai passar por um período de dois a três dias de pré-postura, seguido de um período de postura de até duas semanas. Os ovos passam um intervalo de incubação médio de 28 dias para a aclosão, sendo capazes de se fixar em um (novo) bovino (hospedeiro) após dois a três dias”, informa o professor Cláudio Mafra, do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da Universidade Federal de Viçosa (UFV).

O pesquisador da unidade Gado de Corte da Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa) Renato Andreotti, em parceria com o médico-veterinário João Batista Catto e o biólogo Wilson Werner Koller, ambos da mesma entidade, elaboraram o artigo “Atualização sobre o controle estratégico ao carrapato-do-boi”. Eles recomendam que “o animal deve estar contido por ocasião da aplicação do produto (carrapaticida)” e que “a pulverização deve ser realizada no sentido contrário ao da direção dos pelos, com pressão suficiente para molhar a pele (não somente os pelos) e que o banho deve cobrir homogeneamente toda a superfície do corpo dos animais”. (PHL)

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