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Carrapaticidas: dicas de uma correta pulverização

Os carrapaticidas são formulações químicas que pela sua natureza devem ser aplicados com manejo adequado para se obter bons resultados. Nas nossas atividades de campo temos registrado algumas situações que podem gerar reclamações de eficácia infundadas. Vamos citar e comentar algumas delas com o intuito de evitar desperdício de produto, perda e tempo, insatisfações e, sobretudo, para melhorar o controle dos carrapatos que tantos prejuízos causam a pecuária bovina. Senão, vejamos:

Falta de contato com a pele do animal

Na pulverização

Acontece quando a quantidade de calda carrapaticida é insuficiente para molhar todo o animal ou quando a pressão do pulverizador é inadequada. Ou as duas coisas juntas.

O bico do pulverizador deve ser apropriado para a aplicação de carrapaticida. Chamamos a atenção para o fato de que a maioria dos pulverizadores costais vem equipados com bico destinado a aplicações agrícolas, que produzem um tipo de pulverização em forma de halo cônico, propiciando a formação de gotículas minúsculas, como se fosse uma "neblina" que se assenta levemente sobre a superfície da parte superior das folhas das plantas. Quando este tipo de pulverização erroneamente é aplicado em animais, as micropartículas também se assentam suavemente sobre o pêlo do animal não alcançando integralmente o couro ou a pele do animal. Temos que considerar também que pela leveza destas partículas, e dependendo da intensidade do vento, boa parte do carrapaticida se perde.

O bico certo para a aplicação de carrapaticida é aquele que produz um jato em leque (nº 8002) e corresponde aqueles indicados para aplicação de herbicidas.

A pressão aconselhada pelos manuais de pulverização carrapaticida é de 5,5/6,5 kg/cm². Isto equivale a 950 ml de vazão da calda por minuto e pode ser medido através de um balde devidamente aferido.

Manejo incorreto – Outro detalhe importante e frequentemente observado é que, na maioria das vezes, só se faz a aplicação na parte traseira do animal. Isto é particularmente importante no rebanho leiteiro, especialmente quando as vacas estão no canzil ou no cocho, sendo racionadas. Na prática não há espaço nem condições ideais para que o operador transite entre elas e proceda a pulverização de todo o corpo do animal. Esta é uma grande falha. Se não for pulverizado todo o corpo do animal, os resultados não serão bons, uma vez que todo carrapaticida pulverizável age por contato.

Quantidade mínima de calda – Com bico certo, pressão adequada e liberdade de movimentos entre os animais, o criador gastará em média de 2 a 2,5 litros de calda por animal adulto e levará em média, 2,5 minutos para pulverizar todo o corpo do animal. Isto resulta em grande economia, uma vez que fora destas condições são necessários em torno de 5 litros de calda por animal que é a indicação da maioria dos fabricantes de carrapaticidas.

Aplicação com formulações "pour on"
O produto deve atingir a pele do animal na quantidade preconizada. Quando o animal é muito peludo (isto é muito comum em animais da raça holandesa), é recomendável diminuir a área de aplicação (± dois palmos no lombo a partir do cupim ou cernelha) e aumentar a quantidade a ser aplicada. A mesma coisa quando se tratar de animais muito pesados (acima de 500 quilos). Não se esquecer de que produtos com formulação "pour on" demoram de 4 a 5 dias para se espalhar por todo o corpo do animal.

Alta incidência de carrapato
Se a quantidade de carrapatos num pasto ou num piquete é alta, o criador precisa de um programa para controlar a infestação que implica em várias aplicações. Deparamos sempre com esta situação, especialmente quando as vacas são de alta produção e racionadas integralmente. Nestas propriedades, os criadores não estando muito preocupados com pastagens, colocam para pernoite grande quantidade de animais em piquetes pequenos. A infestação de carrapatos se torna insuportável e o controle muito mais difícil. Em situações desta natureza, observe que o criador está constantemente mudando de carrapaticida e alegando sempre que o problema está na ineficiência dos produtos. Recomendamos, nestes casos, três pulverizações a intervalos de 12 dias, independente de se ver ou não carrapatos grandes. As larvas de carrapato (micuins) certamente estarão lá ainda que você não as perceba. Em ambos os casos, seria importante deixar estes piquetes livres de bovinos pelo menos por 5 a 6 meses.

Concentração menor que a indicada
Frequentemente constatamos que o criador ou seu empregado dilui o produto abaixo da quantidade recomendada, seja por economia ou desconhecimento do assunto. Acontece também que se esquecem de mexer a mistura adequadamente. Muitas vezes a própria água contida nas mangueiras do pulverizador sequer é removida, resultando daí que os primeiros animais recebem "água pura". É óbvio que a eficiência ficará comprometida nos primeiros animais, exatamente aqueles que o criador nos mostra para provar que o produto "falhou". Introduzir o cabo do pulverizador no reservatório, acionar o aparelho até que se substitua toda a água da mangueira pela solução carrapaticida, é uma boa prática, servindo, inclusive, para agitar a solução.

O produto não se conserva no animal
É comum o criador aplicar o produto e pouco depois cair uma chuvarada que remove todo o carrapaticida do corpo do animal. Pode acontecer também que os animais sejam lavados para ordenha ou logo após a pulverização, sejam reconduzidos ao pasto passando por um riacho. O resultado é igual ao da chuva. Outras vezes, em dias quentes, os animais vão se refrescar num açude pouco tempo depois de pulverizados. Tudo isto resulta em "pouca ou nenhuma eficiência" do produto.

Erro de avaliação
A constatação da eficiência dos carrapaticidas à base de piretróides é um pouco diferente quando comparamos a outras bases (fosforados, amitraz, clorados, etc). O "knock down", ou seja, a morte e queda do carrapato com piretróide é mais lenta, levando de 2 a 3 dias para matar e "derrubar" o carrapato, embora a espoliação cesse logo após a aplicação. Como já afirmamos, isto acontece particularmente com a formulação "pour on", que leva alguns dias até atingir todas as partes do corpo do animal. Em compensação, a água não removerá o produto, o qual permenecerá muito mais tempo atuando contra os carrapatos e retardando as reinfestações pelas larvas.

Resistência
Pode acontecer com qualquer base carrapticida. Este fato é revelado através de um teste – o biocarrapaticidograma, que deve ser realizado por veterinário especializado no assunto.

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