O aumento da população e o desenvolvimento industrial propiciaram a descoberta de novos compostos orgânicos, que são sintetizados em laboratórios e continuamente introduzidos em grande quantidade no meio ambiente. A maioria destes compostos são persistentes, ou seja, difíceis de serem degradados, podendo se bioacumular ou serem transformados em produtos tóxicos, causando assim, sérios transtornos ecológicos. Entre os compostos sintéticos mais poluentes podemos citar os organoclorados, os quais entram na composição química de vários herbicidas, plásticos, solventes e desengraxantes. Os produtos mais intensivamente estudados são DDT, 2,4-D, hexaclorobenzeno, pentaclorofenol e tricloroetileno, pois suas moléculas são altamente tóxicas, insolúveis em água e resistente ao ataque de microrganismos. E são estes últimos que estão sendo minuciosamente estudados por pesquisadores, com o objetivo de se descobrir como se comportam no meio ambiente ao degradarem estes compostos.
O estudo sobre biodegradação no Brasil é recente. Foi iniciado há apenas cinco anos. Mas é um primeiro e grande passo para replicar e lançar no meio ambiente microrganismos capazes de degradar os agrotóxicos e outras substâncias tóxicas. Como a maioria dos agrotóxicos utilizados na agricultura é resistente em sua decomposição e provoca alterações no equilíbrio ecológico, pesquisadores da Embrapa-Meio Ambiente em Jaguariúna, SP desenvolveram meios para multiplicar estes microrganismos (fungos, bactérias e actinomicetos) em laboratório, utilizando fermentadores, para depois inoculá-los em áreas contaminadas, acelerando assim o processo de biodegradação.
O pesquisador Itamar Soares de Melo, coordenador da pesquisa, explica que este processo de biodegradação já ocorre normalmente na natureza, mas é um processo demorado. "No solo existem alguns fungos e bactérias que absorvem naturalmente as substâncias químicas. O que estamos fazendo é descobrir espécies mais resistentes às moléculas dos agrotóxicos e que sejam rápidas em sua decomposição", diz. Com este procedimento, Itamar pretende gerar concentrações de dez a cem vezes superiores à ocorrência natural destes microrganismos multiplicando-os em laboratório. Para se ter uma idéia, um produto químico demora anos ou meses para ser biodegradado. Contudo com a utilização destes microrganismos é possível reduzir este tempo para apenas alguns dias. Um dos testes, por exemplo, permitiu degradar 60% do fungicida Benomil em apenas dois dias.
O próximo passo é fazer a peletização destes microrganismos, quando eles são transformados em um produto granulado, de fácil aplicação. De acordo com Itamar, a produção atual da Embrapa-Meio Ambiente é apenas para estudo, mas a tecnologia de produção deste produto já tem condições de ser repassada para empresas privadas, com o objetivo de comercialização. O projeto de pesquisa recebeu recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – Fapesp e do Conselho Nacional de Pesquisa – CNPq.
Os oito pesquisadores da equipe estão trabalhando também com biodegradadores para o herbicida Diuron, utilizado na cultura de cana de açúcar. No Centro de Energia Nuclear da Agricultura – Cena em Piracicaba, SP, outro parceiro no projeto, a equipe coordenada pela pesquisadora Regina Teresa Rossim Monteiro estuda biodegradadores para o Propanil, aplicado em culturas de arroz irrigado, além de acompanhar os estudos com marcadores radioativos também efetuados pela Embrapa Meio Ambiente.