No Brasil, encontra-se distribuída em quase todos os Estados, variando de intensidade de acordo com as condições climáticas. No Mato Grosso do Sul, está presente durante o ano todo com picos populacionais em setembro/outubro e, em números consideráveis, durante todo o período chuvoso.
O berne, uma vez presente nos animais causa a chamada miíase furuncular ou dermatobiose, que se caracteriza pela formação de nódulos no hospedeiro, com a presença de uma ou mais larvas no interior. Ocasionalmente, podem ocorrer infiltração bacteriana e formação de abcessos subcutâneos, além de postura de ovos pela Cochliomyia hominivorax, mosca da bicheira, o que determinaria o estabelecimento de uma miíase primária.
Nas propriedades rurais, a D. hominis ataca preferencialmente os bovinos, entretanto, outros animais domésticos poder ser parasitados como; o cabrito, o cão, o eqüino, o búfalo, o porco, enfim, todos os animais de sangue quente, inclusive o homem.
Biologia
A D. hominis possui um aspecto curioso no hábito de oviposição, pois ela, precisa de um outro inseto, geralmente outra mosca, como vetor de seus ovos, para levar o berne até o hospedeiro e iniciar assim, seu ciclo biológico.
O ciclo de vida da mosca do berne é estritamente rural e nele devem-se distinguir as chamadas fase doméstica e fase selvagem. A fase doméstica se realiza entre os bovinos e os vetores de seus ovos, onde observa-se um grande número de animais com alto grau de infestação. A fase selvagem ocorre em áreas de bosques com bovinos em volta, onde, tanto o número de animais infestados, quanto o grau de infestação, são baixos.
O homem desempenha um papel importante na sua manutenção e disseminação, pela convivência com o parasitismo, pelo comércio de animais infestados, pela transferência de animais com berne para regiões livres deste e, pela manutenção de invernadas sujas e de animais infestados na propriedade.
Prejuízos
Os prejuízos econômicos à pecuária se traduzem pela redução na produção de carne, de leite, retardo do crescimento, pré disposição à enfermidades diversas e, danos parciais ou totais nos couros, os quais, ainda acarretam prejuízos às indústrias calçadistas e produtos afins.
Não se têm os valores exatos dos prejuízos causados pelo berne, mas sabe-se que são de grande monta. Para se ter um exemplo, basta citar que animais com 20 a 40 bernes, chegam a perder entre 9 a 14% de peso. Vacas leiteiras infestadas por 50 bernes, reduzem de 18 a 25% suas produções de leite. Peles com 10 a 20 perfurações em sua região nobre, perdem de 30 a 40% de seu valor comercial.
Comparativamente aos Estados Unidos, o Brasil perde anualmente U$ 505,02 milhões na produção de couro, onde o berne contribui com 18,01% dos defeitos apresentados. Prejuízos atribuídos a D. hominis são citados para a América Latina em U$ 200 milhões anuais e, para o Brasil valores superiores a U$ 36 milhões anuais.
O berne só não causa maiores prejuízos, porque sua presença em grande número nos animais, leva ao surgimento de lesões abertas de extensões variadas, com a presença de sangue ou secreção purulenta e atraindo outras moscas, o que leva o produtor a tratá-la, ainda que de forma empírica. Neste caso, o tratamento mais usual tem sido a aplicação de organofosforado (Neguvon) diluído em óleo queimado, resolvendo assim, somente o problema da lesão, não atuando de forma preventiva.
Controle
É difícil estabelecer normas para erradicar a D. hominis, pois haveria a necessidade de se controlar não só os hospedeiros domésticos, mas também os silvestres e os vetores. A esterilização química ou física seria a única possibilidade, ainda que a longa prazo.
Em relação ao controle biológico pode-se afirmar que ainda não foram encontrados, bactérias, vírus, parasitas, predadores eficientes e aplicáveis na prática.
O controle desta mosca se faz quase que exclusivamente por meio de produtos químicos, visando o estágio larval (berne) que se realiza no hospedeiro, ocasião em que a maior parte dos danos já não têm mais como ser revertida. Este controle diminui os prejuízos da produção, porém, pode deixar resíduos no animal e no ambiente. Os prejuízos no couro persistem pelas seqüência deixadas.
A aplicação dos produtos químicos é realizado por meio de banhos de aspersão, dorsal, nas formas parenteral, subcutânea ou oral. Atualmente, entre os inseticidas mais usados estão os organofosforados, as salicilanilidas, as avermectinas (endectocidas), os piretróides e outros, entretanto, os resultados obtidos nem sempre são satisfatórios, devido as variações e peculiaridades de cada propriedade.
Para se ter melhor resultado, o produto deve ser aplicado de forma estratégica e racional. A aplicação deve ser feita, nos animais, ao início da estação chuvosa (setembro/outubro), seguindo mais dois tratamentos com intervalos de 21 dias. O tratamento ao berne pode ser associado ao tratamento de outras parasitoses, neste caso, utilizar produtos que tenham ação sobre os diversos parasitas, ao mesmo tempo, observando as recomendações de tratamentos para cada um.
Considerações Finais
Dentre os ectoparasitos de gado de corte nos cerrados, atualmente a D. hominis é, sem dúvida, um dos mais importantes, sendo responsável pela infestação de muitos animais, não só os bovinos, com consideráveis prejuízos ao animais e a economia nacional. Seu ciclo de vida é complexo, o seu controle é realizado quase que exclusivamente sobre a fase larval, quando os danos e prejuízos já estão instalados. As alternativas de controle disponíveis são dirigidas, principalmente, aos insetos veiculadores (portadores de ovos), e não à própria Dermatobia. Estas alternativas são pouco eficientes e incluem o manejo de esterqueiras, a remoção de carcaças, a remoção de bosques e a limpeza de pastagens as quais visam a redução do número de habitats dos insetos veiculadores e da própria mosca. Os bosques têm função benéfica no meio ambiente do rebanho, embora, isto não tenha sido quantificado quanto aos zebuínos. Para os taurinos existem evidências de que a manutenção de bosques tem a sua importância, entretanto, os prejuízos causados pelo berne são altos e devem ser levados em consideração.
A manutenção do sangue zebu no rebanho, também é importante, no caso de berne, uma vez que os zebuínos são animais mais resistentes a este octoparasito. As informações aqui prestadas, não dispensam a assistência técnica, necessária ao bom desempenho de qualquer sistema de produção.