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A febre do leite

A febre do leite em vacas leiteiras, também conhecida como febre vitular, paresia puerperal, hipocalcemia puerperal ou síndrome da vaca caída, é causada por hipocalcemia aguda (deficiência de cálcio no organismo dos bovinos). Pode ocorrer em vacas leiteiras de média a alta produção em até 72 horas após o parto ou ao longo da lactação. As causas dessa enfermidade, em vacas leiteiras, têm sido associadas ao baixo consumo de cálcio, ao aumento significativo da demanda desse mineral ou à incapacidade do animal em manter os níveis de cálcio no organismo.

Entenda o que ocorre
O cálcio é um mineral de grande importância estrutural e funcional para os animais. Além de essencial para a formação do esqueleto (ossos e dentes), entra na composição do leite, coagulação do sangue, regulagem dos batimentos cardíacos e manutenção e excitabilidade neuromuscular.

A hipocalcemia nas vacas leiteiras ocorre quando há aumento súbito da necessidade do cálcio, na glândula mamária, no período pré-parto, para produção de colostro e de leite. Durante a gestação ocorre o deslocamento de cálcio do organismo da vaca para o do feto, para o processo de crescimento dele, principalmente, no período final da gestação. Nessa fase, o organismo das vacas também pode apresentar uma incapacidade de compensar a perda de cálcio pelo leite. Em algumas fêmeas, a fisiologia neuromuscular não acompanha essa demanda: elas deitam por fraqueza e não consegue se levantar.

Causas
Alguns fatores podem predispor a vaca a um quadro de deficiência de cálcio: idade, raça, superalimentação, consumo inadequado de cálcio, ordenhas de colostro, uso de antibióticos aminoglicosídeos no pós-parto. As vacas de raças especializadas para produção de leite são as mais predispostas a um quadro de hipocalcemia puerperal. Vacas mais velhas (entre três e sete partos) são mais susceptíveis a hipocalcemia devido à menor capacidade de utilizarem o cálcio dos ossos e também pela menor absorção de cálcio intestinal. O manejo nutricional e a composição da dieta alimentar no pré-parto são significativos para a ocorrência da febre do leite.

O fornecimento de alimentação muito rica em cálcio no pré-parto pode favorecer o aparecimento da hipocalcemia puerperal, uma vez que a ingestão excessiva do cálcio pode alterar a forma correta de utilização desse mineral no organismo da vaca. Animais consumindo mais de 100 gramas de cálcio por dia apresentam elevado nível de cálcio no sangue, mas são incapazes de manter esses níveis próximo ao parto. Ou seja, o organismo estaria adaptado a aproveitar o cálcio disponível na alimentação e no momento de grande demanda, no parto, ele não consegue absorver ativamente o mineral no intestino nem nas reservas corporais (ossos).

Como detectar
O diagnóstico dessa enfermidade se baseia nos sinais clínicos e no histórico dos animais e é confirmado pela resposta positiva ao tratamento. Os sinais clínicos da hipocalcemia se iniciam com o aumento da sensibilidade. O animal encontra-se em pé com tremor muscular da cabeça e dos membros, evita andar e não se alimenta. Pode ocorrer agitação e paralisia da cabeça, com ranger de dentes e, posteriormente, ocorre rigidez das patas traseiras. O animal cai e permanece deitado por longo período, com a cabeça voltada para o flanco. Ocorre diminuição do estado de consciência, desaparece a rigidez das patas e os membros ficam flácidos com as extremidades frias. Alterações digestivas, como parada ruminal e timpanismo (produção intensa de gases na barriga) são frequentes. Caso não sejam tratados com medicamentos específicos, esses animais podem morrer.

O tratamento
Quando a vaca apresentar sintomas de hipocalcemia, o tratamento deve ser rápido. A recomendação é a administração intravenosa de gluconato de cálcio. Como o cálcio é cardiotóxico, a sua aplicação deve ser lenta e acompanhada de auscultação cardíaca. Na maioria dos animais a recuperação acontece imediatamente após o tratamento ou até duas horas depois. Os sinais indicativos de melhora clínica durante o tratamento são: tremores musculares finos, aumento da intensidade dos batimentos cardíacos, o pulso se torna evidente, retorno da defecação e eructação e tentativa do animal em se manter em pé. Quando o diagnóstico é feito corretamente e as vacas são tratadas em tempo hábil, a maioria se recupera.

Os custos do tratamento da hipocalcemia puerperal são relativamente baixos, porém os maiores prejuízos são em decorrência de uma série de complicações associadas, como retenção de placenta, prolapso uterino, partos complicados e mastite clínica. A febre do leite pode trazer prejuízos à produtividade porque afeta o desempenho animal, podendo reduzir em 14% a produção de leite na lactação e também reduzir a vida útil da vaca em três a quatro anos.

Como prevenir
A melhor prevenção da febre do leite é a alimentação correta, uso de mineral adequado e as boas práticas de manejo adotadas no pré-parto e pós-parto imediato. Um manejo nutricional adequado, iniciando-se cerca de 30 a 40 dias antes do parto, e alguns cuidados entre 48 horas antes e 48 horas após o nascimento do bezerro reduzem a incidência de hipocalcemia puerperal e suas complicações. Também são recomendadas dietas com altos níveis de fósforo durante a gestação e dietas com baixos níveis de cálcio no pré-parto.

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