As exportações de carne in natura para a União Européia (UE) foram temporariamente canceladas, uma vez que os burocratas locais não aceitaram a lista de 2.681 fazendas apresentadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) do Brasil.
Em tese, essas fazendas foram auditadas e credenciadas a exportar para a UE, mas ainda assim os europeus deverão escolher, aleatoriamente, apenas 300 propriedades. E só depois de 15 de fevereiro.
Em termos de faturamento, a União Européia responde por 32% das exportações brasileiras de carne bovina, algo em torno de US$1,4 bilhão. Nesse quesito, é o maior cliente. O preço médio da tonelada de carne bovina exportada para UE supera em 60% a 80% o preço pago por outros clientes. É um ótimo cliente, não dá para negar.
Logicamente, o “embargo temporário” da UE deixa o mercado do boi gordo especulado e abre espaço para pressões baixistas. Ontem, de acordo com levantamento da Scot Consultoria, a maior parte dos frigoríficos exportadores estava fora de mercado. No entanto, aqueles que estavam operando, derrubaram entre R$1,00/@ e R$5,00/@ as ordens de compra.
Por enquanto, os negócios estão travados. Porém, após o Carnaval, espera-se que a oferta de animais terminados melhore um pouco, o que pode facilitar a imposição de recuos para o boi gordo por parte das indústrias frigoríficas.
De toda forma, é preciso destacar, primeiro, que do total exportado para a UE, cerca de US$300 milhões referem-se à carne industrializada, que não sofre embargo (aliás, as vendas desse tipo de produto para o bloco devem aumentar). Segundo, que a pecuária brasileira atravessa um período de ajuste produtivo, ou seja, o rebanho está em retração. Terceiro, que os frigoríficos têm trabalhado com capacidade ociosa bastante elevada (e escalas curtas) e, quarto, que a demanda por carne bovina brasileira fora da UE, inclusive no mercado doméstico, se mantém aquecida.
Posto de outra forma, o mercado interno não está sobre-ofertado e a carne bovina brasileira pode (e deve) encontrar outros canais de venda, em substituição à UE, sem muitos problemas. Aliás, os próprios frigoríficos acreditam piamente nisso, tanto é que têm emitido comunicados otimistas ao mercado, inclusive com perspectivas de aumento de faturamento.
Vale lembrar, ainda, que a partir de meados de fevereiro as negociações com a UE devem ser retomadas. Inicialmente, do lado dos produtores, apenas 300 bem aventurados deverão participar desse negócio. Mas a lista de fazendas pode aumentar, desde que a cadeia produtiva e o governo brasileiro acertem os ponteiros tanto no atendimento das exigências, quanto na negociação com europeus.
Por hora, a “pendenga” européia pode até ameaçar a sustentação dos preços do boi gordo, principalmente se a oferta de animais terminados realmente aumentar logo após o feriado. Porém, ao longo de 2008, a tendência ainda é de mercado firme, com preços bem acima dos patamares praticados em 2007. (FTR)