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O ambiente e as lesões de cascos

O ambiente em que os bovinos são criados sofre influência do homem, que pode interferir positiva ou negativamente. Excluídos os componentes climáticos, o produtor rural deve estar sempre promovendo ajustes, de modo a proporcionar aos animais instalações confortáveis e seguras. Avaliando os locais por onde os animais caminham ou permanecem, estabelecidos pela rotina do sistema de produção, é possível identificar e corrigir possíveis fatores de risco para a saúde dos cascos dos animais. Importante frisar que o ambiente é apenas uma das potenciais causas das afecções podais, mas talvez a que apresente a maior possibilidade de correção.

Para investigar o ambiente, o primeiro passo é conhecer os locais por onde os animais passam, assim como os locais de permanência: piquetes, galpões, currais, trajeto pasto – ordenha, corredores. Observe a presença de pedras, degraus, buracos, lama. Os tipos de lesões encontradas também dão sugestões do quanto o ambiente pode estar envolvido com o problema: danos nas pinças, nas muralhas ou pequenas pedras incrustadas na linha branca são alguns exemplos. É comum que essas lesões evoluam e torne-se difícil determinar a origem delas – é quando as vacas já estão mancas e o tratamento é mais longo e oneroso.

Em galpões e currais, os pisos precisam ser planejados para evitar o risco de acidentes, assim como para propiciar eficiência na limpeza. Assim, o material utilizado não deve ser tão liso que provoque escorregões, nem tão áspero que cause desgaste nas unhas. Para possibilitar boa aderência e ao mesmo tempo impedir que o piso atue como uma lixa, o cimento liso pode ser “riscado” a intervalos regulares, dando um aspecto ripado. A umidade, além de deixar mais escorregadios os pisos lisos e potencializar a abrasividade de ambos os tipos, proporciona, junto com o acúmulo de matéria orgânica, um ambiente ideal para a proliferação de micro organismos. Na construção das instalações, planeje a declividade de cerca de 2%, para que haja drenagem espontânea da água e urina. Importante também determinar a frequência com a qual o ambiente será limpo. A sujeira é capaz de provocar problemas nos cascos e piorar os existentes.

Ainda nos currais, uma instalação que tem por objetivo “cuidar” dos cascos, mas por vezes acaba tendo o efeito contrário, são os pedilúvios. O primeiro erro passível de ocorrência é na própria construção desta instalação. O correto dimensionamento segue as seguintes indicações: de 2,0 a 2,5 metros de comprimento, a depender do porte da raça predominante, de 0,70 a 0,80 metros de largura, profundidade que permita uma lâmina d’água de 10 a 12 centímetros. Para que os animais passem por ele com segurança, é recomendado que a entrada e a saída sejam em formato de rampa, e não de degrau, como é comumente encontrado. Desta forma, os animais podem bater os cascos nas paredes, provocando lesões. Outras falhas relacionadas ao pedilúvio estão na frequência de limpeza do local e no tipo de solução a ser utilizada para cada situação. Sujeira dentro do pedilúvio, além de causar doenças, prejudica a ação dos produtos utilizados.

Ambiente e casco - Rehagro

Piso de cimento liso sulcado, perfeitamente limpo e seco

 

Pensando em áreas de pasto, a atenção deve estar voltada para a ocorrência de lama. Malhadouros, onde os animais bebem e descansam, são pontos de comum acúmulo de água e sujeira. Para evitar problemas, estas áreas devem estar localizadas de forma a propiciar maior drenagem. Por isso, pontos mais altos são preferidos. Além disso, estes locais precisam passar por manutenções constantes.

Ambiente e casco - Rehagro

Instalar cochos em pontos baixos do terreno favorece o acúmulo de barro e sujeira nestes locais

Nos trajetos entre piquetes ou até a ordenha, é frequente a ocorrência de buracos, pedras e barro. Nas épocas chuvosas, a situação tende a piorar, pois a deficiência na drenagem provoca o acúmulo de barro, que traz como consequência a formação de buracos, que o produtor tenta consertar jogando cascalho. Os cascos, por sua vez, amolecidos pela água, tornam-se mais sensíveis às pedras. Quando, logo após as chuvas, ocorre um período de sol quente, o barro seca, fica endurecido e cortante, podendo também causar lesões. Alternativas para solucionar estes problemas são a moldagem destes caminhos de forma que a parte central seja mais alta em relação às laterais e/ou a disposição de pequenos sulcos de drenagem feitos no chão. Caso seja necessário tapar buracos, use terra ou areia. Se houver a possibilidade, é interessante também a opção mais de um caminho, de modo que possa haver alternância de uso.

Ambiente e casco - Rehagro

Local de deposição de água e sujeira

Muito importante para a saúde dos cascos, mas por vezes esquecida, é a existência de locais para os animais se deitarem, sejam camas, no caso de freestall, ou locais limpos e secos, no caso de pasto. Os bovinos passam, em média, de 12 a 14 horas por dia deitados. Isso alivia a carga sobre os membros. No entanto, eles só se deitam se há um local confortável para isso ou quando já estão cansados, sendo, porém, por tempo insuficiente. Nos galpões, a quantidade de camas deve permitir que 80% dos animais alojados se deitem simultaneamente. Os materiais mais utilizados para este fim são a areia, serragem e borracha. Destes, a preferência é a areia, pelo maior conforto proporcionado. O dimensionamento correto, evita que as vacas defequem e urinem dentro das camas, prolongando a durabilidade desses materiais, que devem ser trocados quando não estiverem mais em condições de uso. Nos piquetes, deve haver locais secos, limpos e sombreados para o descanso dos animais. Se grande parte deles, estiver deitado e ruminando nas horas mais quentes do dia é sinal de conforto.

Ambiente e casco - Rehagro

Conforto no freestall

Ambiente e casco - Rehagro

Conforto no piquete – árvores com copa mais aberta propiciam conforto térmico, ao mesmo tempo que permitem a ação do sol sobre o chão

Em todos os casos, o planejamento é fundamental, mas a manutenção é imprescindível. A primeira por propiciar instalações eficientes e duradouras. A outra por demonstrar a atenção do produtor com o rebanho, lembrando que todo bem sofre depreciação. Assim, no planejamento do orçamento anual, de acordo com o histórico de anos anteriores, o pecuarista prevenido determina parte dos custos para a conservação da propriedade.

Por fim, partindo do raciocínio de que o homem estabelece aos animais a condição de vida às quais serão submetidos, servindo como fonte de renda, é obrigatório que o produtor ofereça-lhes bem-estar. Este conceito, que tem como parte de seus pressupostos a liberdade de desconforto, dor e doenças, reforça a necessidade de proporcionar aos animais um ambiente adequado. E bem-estar é sinônimo de produtividade, afinal, observe que se você der à vaca o que você quer, ela lhe dará o que ela quer, mas se você der a ela o que ela quer, ela lhe dará o que você quer.

 

 

 

 

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