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Nova geração assume e intensifica atividade leiteira

Um sangue novo revigora a pecuária de leite na região dos Campos Gerais, no sul do Paraná. Bem preparados, qualificados, com visão empreendedora, os jovens que vêm assumindo a atividade leiteira na expressiva bacia leiteira de Castro, referência de qualidade e produtividade no país, dão provas de que a produção de leite tende a crescer muito. E se renovando na lida e na forma de administrar e avaliar as ações da atividade.

A exploração leiteira na Agropecuária 4D faz parte desse perfil. E conta com uma mulher à frente do negócio: Ana Paula Dinies, uma jovem zootecnista, que coordena um time de sete funcionários na leiteria e compartilha a administração do setor pecuário com os irmãos Carlos e Raul, agrônomos, que cuidam da agricultura na propriedade. Atentos, dedicados, os três irmãos tocam a atividade adotando o máximo de eficiência, mas com simplicidade e muita harmonia entre eles.

A visão profissional pode ser obtida através dos investimentos que vêm sendo feitos em tecnologia, infraestrutura e aquisição de animais. O acerto na condução do empreendimento fica evidente no crescimento constante experimentado ano a ano: iniciada há 5 anos, atualmente a pecuária de leite já responde por 20% do faturamento da fazenda, com 3.200/3.300 litros/dia de produção num crescimento calculado em 20% ao ano.

Produção atual é de 3.300litros/dia, com crescimento anual de 20%

Historicamente, a Agropecuária 4D (sigla para 4 irmãos Dinies) iniciou em 1965, quando Raul Galetto Dinies, patriarca da família, adquiriu 18 alqueires na localidade de Colônia Maracanã, na época um fundão de difícil acesso, com péssimas estradas, sem luz elétrica. Advogado de profissão, durante a semana ele administrava a fazenda se comunicando por rádio com o capataz. E nos fins de semana vencia os 25 km entre a cidade de Castro e a propriedade, sacudindo a bordo de uma Rural Willys com o rodado equipado de correntes.

Até 1978 a propriedade se manteve apenas com gado de corte. Mas a partir dessa data, quando a agricultura entrou forte na região e as pastagens então abundantes cederam suas áreas para as lavouras de trigo e soja, a adesão aconteceu praticamente ao natural, com a exploração agrícola se incorporando definitivamente às atividades da fazenda. Em 2008, foi, então, que a pecuária leiteira desalojou a de corte, depois de dois anos de preparação.

A família Dinies: Carlos, Ana, Raul e a mãe Marisa

Entre as razões da mudança aparecem fatores como: baixa valorização da pecuária de corte na época, menor espaço utilizado, melhor lucratividade do leite, existência de uma bacia leiteira estruturada na região, facilidade para adquirir animais de qualidade e o forte incentivo da Cooperativa Castrolanda, com apoio técnico e a compra garantida do leite.

 

Mas a lavoura se manteve íntegra, não perdeu área. O gado de leite passou a ocupar áreas de baixada, impróprias para agricultura mecanizada, e até terrenos em área de reflorestamento, que viraram piquetes para o descanso dos animais. Além disso, passou a fornecer adubo orgânico distribuído regularmente nas lavouras.

Investindo em gado mais apurado – O começo se deu com a compra de sete vacas para parir mais 20 novilhas (algumas prenhas) e produção de 120 litros de leite/dia. Hoje, são 115 vacas em lactação, 242 cabeças no rebanho e produção de 3.200 litros/dia. Trata-se de um gado jovem, com média de três partos e genética apurada. Em sua maioria, são animais de genética norte-americana e canadense, adquiridos de produtores tradicionais da região de Castro.

A escolha de um gado mais apurado, segundo Ana Paula, objetivou a futura venda de animais e a reprodução via transferência de embriões que pretendem implantar. Desde o início também definiram trabalhar com animais de produção, e não de pista. “A gente só quer tirar leite”, acentua Carlos Dinies, observando que o ritmo e as exigências da atividade leiteira, mexeram com a cultura da propriedade, exigindo adaptação de todos, família e funcionários.

Daí veio a necessidade de separar os negócios em setores distintos, cada qual com sua equipe de trabalho, organização e controle próprios. “Quem é do leite trabalha no leite; quem é da agricultura, faz agricultura, o que inclui a comida para o gado”, detalha Raul, que cuida do setor agrícola na propriedade. “O começo não foi fácil. Colocar leiteiro em cima de trator para fazer um plantio ou puxar alguém da lavoura para a leiteria, esqueça! Não dá certo”, lembra Ana Paula. “E intercambiar funcionário também não funciona”, completa Carlos.

No manejo empregado na Agropecuária 4D, as bezerras mamam até os 90 dias. Nesse período ganham silagem, mistura mineral e ração até que estejam com bom peso e boa saúde. “Quanto mais leite ingerirem as novinhas, melhor será a lactação delas no primeiro parto”, garante Ana Paula. Depois elas são desmamadas quando atingem o peso considerado ideal (cerca de 120 kg) e vão integrar um novo lote, que durante 60 dias fica recebendo ração e ganhando mais peso. Daí, então, seguem para um lote coletivo.

Galpões abrigam vacas em lactação e dão apoio ao rebanho dividindo em nove lotes

A propriedade trabalha com inseminação, protocolos de reprodução e recorre a touros quando necessário. Busca alcançar taxa de concepção de 55% no primeiro serviço, índice considerado satisfatório. O índice de prenhez se situa em torno de 1,5 a 2 doses por animal. Ana Paula destaca alguns parâmetros reprodutivos críticos: taxa de detecção de cio, número de dias para o primeiro serviço, dias abertos e número de vacas descartadas por falha reprodutiva.

As novilhas vêm sendo inseminadas com 14/15 meses. O que define o melhor momento, entretanto, é o peso, que gira em torno de 350 kg, acompanhado pelo monitoramento. A opção pela recria em casa, ao invés da terceirização, como vem sendo praticada na região, deve permanecer, segundo eles, porque há espaço suficiente na propriedade. Os Dinies estão começando a trabalhar com transferência de embriões) e já planejam o uso de ultrassom na fazenda.

No leite, cada um com sua função – A fazenda trabalha com nove lotes de animais: bezerras mamando, bezerras recém-desmamadas, gado juvenil (entre oito meses e um ano), novilhas inseminadas e confirmadas, vacas secas, lote de pré-parto, lote de baixa produção, lote de alta produção, lote de pós-parto. “A existência de muitos lotes é uma maneira de chegar o mais perto possível do máximo potencial produtivo de animais”, explica Raul.

Os tratadores cuidam de todos os lotes. Os leiteiros fazem a ordenha e alimentam as bezerras e ainda cuidam da parte sanitária, casqueamento, medicação, partos. O gerente participa de todos os processos. “Procuramos manter cada um no seu setor para favorecer a continuidade dos processos. Por exemplo, quem maneja vaca se mantém no manejo, quem faz trato cuida dos alimentos”, explica Ana Paula.

Novilhas têm sido inseminadas de acordo com o peso em torno de 350 kg

A propriedade registra taxa de crescimento médio de 20% ao ano na produção de leite. Para 2013, a meta é investir ainda mais na atividade, inclusive, adquirindo mais animais. Razões: com maior volume de produção poderão alcançar melhor bonificação sobre os preços pagos e melhor diluição do custo fixo, representados pelos gastos recentes com maquinários e estruturas. Para atingir a faixa pretendida de 6.000 litros/dia, calculam a necessidade de 220/230 animais em lactação e um plantel perto de 450/500 cabeças.

 

A lactação média atualmente é de 29/30 litros/vaca/dia. No inverno, chega a 32 litros/vaca/dia, em duas ordenhas. A produtividade é considerada boa para o sistema de semiconfinamento praticado. Ana Paula reconhece que poderia exigir mais do gado, mas sabe que, em contrapartida, isso iria lhe custar mais estrutura, tempo e funcionários. Além disso, pretende que as vacas tenham maior longevidade no plantel.

Os índices médios de qualidade de leite apontam no último ano: contagem de células somáticas, média de 87.000/ml; contagem bacteriana total, 3.000 UFC/ml; gordura, 3,52%; proteína, 3,10%. Graças a esses índices, nos últimos anos a propriedade tem figurado sempre entre os cinco primeiros colocados na faixa de 2.000 a 3.500 litros/dia, na classificação da cooperativa.

Como a maioria dos agricultores da região dos Campos Gerais, no verão, os Dinies cultivam soja, milho e feijão. E no inverno plantam trigo, azevém e aveia, como coberturas de solo e que podem servir de pastejo. No caso deles, entretanto, o azevém se destina à suplementação no cocho, uma vez que o gado é mantido em sistema de semiconfinamento, utilizando piquetes apenas para descanso e pernoite, mas não tira dali a alimentação. Em bolas ou como silagem normal, o azevém é fornecido no verão e inverno com um pouco de milho.

A produção de alimentos para o gado de leite ocupa apenas 6% da área agricultável. É quanto basta para alimentar todo o rebanho. Basicamente, é milho no verão e pré-secado de azevém no inverno. A colheita e ensilagem dos materiais é terceirizada por empresas especializadas. Para atender às necessidades, a fazenda produz cerca de 4.200 t/ano de silagem de milho ou 70 t/ha de matéria verde. Essa produção, segundo os Dinies, já prevê sobras para atender ao crescimento planejado.

Máquinas e equipamentos misturam produção própria de alimentos para o rebanho

 

Conjugação da agricultura e dieta do gado – Aproveitando sua capacidade de máquinas e equipamentos, desde o ano passado, a 4D vem produzindo bolas de pré-secado para consumo próprio e, agora, pretende abrir um canal de comercialização para o excedente gerado, bem como a prestação de serviços neste setor, que possui alta demanda na região. No caso da produção para o comércio, a preferência fica com o azevém, cujo potencial de agregação é bem mais atraente. Além de proporcionar dois cortes, a cultura detém demanda crescente em função da bacia leiteira e permite escapar do alto risco do trigo, sempre sujeito a geadas e chuvas na colheita.

Os irmãos Dinies buscam produzir o máximo de alimentação para o gado no inverno, visando disponibilizar as áreas para a produção de grãos no verão. Dentro dessa filosofia de trabalho tem sido ofertada silagem de trigo para os animais, uma alternativa interessante que pode suplementar a silagem de milho. Em termos nutricionais, explica o nutricionista Huibert Janssen, do quadro da Castrolanda, o trigo possui uma composição energética mais baixa e uma composição proteica mais alta do que a silagem de milho.

De acordo com o técnico, animais de baixa produção ou de recria podem ser suplementados apenas com silagem de trigo, sem necessidade de silagem de milho, em função da baixa necessidade energética. Mas nas vacas de maior produtividade, segundo ele, não é aconselhável tirar 100% da silagem de milho. Orientador de nutrição do rebanho da 4D, Janssen diz, que na dieta do plantel, os Dinies querem simplicidade, com a menor variação de alimentos possível. E a base, que constitui o grande ganho deles, é a alta qualidade da forrageira, o que exige apenas uma suplementação energética de fubá, casca e farelo de soja e polpa quando necessário.

Isso torna as coisas logisticamente simples e ao mesmo tempo induz a menos erros, porque há menos ingredientes envolvidos”, cita o técnico. O fato de a propriedade contar com carreta misturadora para o preparo das dietas é classificado como “muito importante” pelo nutricionista. Segundo ele, a ferramenta proporciona maior precisão na mistura, maior controle do processo pelo peso exato e dificulta o animal selecionar o alimento mais saboroso, desbalanceando a dieta. Toda a estrutura de apoio e de produção de alimentos já está dimensionada de acordo com a meta de dobrar a produção.

Dieta precisa e controlada garante produção média de 29 litros de leite/vaca/dia

 

Na 4D, a agricultura tem seus custos controlados pelo agrônomo Raul. No setor pecuário, esse controle cabe a seu irmão Carlos. A independência dos setores, entretanto, não impede que troquem serviços e se ajudem quando necessário. “E nós procuramos investir sempre de acordo com nosso teto de produção, sem ultrapassá-lo. Mesmo agora quando se dispõe de linhas de crédito favoráveis, com até 10 anos para pagar, com carência de 2/3 anos, por parte do governo, a gente nivela os investimentos pela produção. Procuramos não ultrapassar 20/25% do faturamento bruto”, detalha Carlos.

Até agora, segundo Ana Paula, se priorizava o crescimento visando estabelecer volume. Com a propriedade já estabilizada, articulam o ingresso da fazenda no serviço de controle leiteiro, uma vez que já atingiram o ponto considerado ideal: o mínimo de 100 animais. Com isso, poderão dispor de dados relativos à quantidade de ureia no leite e verificar o quanto de proteína eventualmente está sobrando. Paralelamente, buscam apurar o padrão genético para melhorar o teor de sólidos.

 

Os Dinies consideram que o atual sistema de exploração leiteira montado, com o gado mantido em semiconfinamento, tem sido eficiente para remunerar o capital investido (calculado em 14% ao ano) e pagar os compromissos gerados. Para eles, toda tecnologia empregada vem proporcionando retorno, considerando-se aí equipamentos e animais de boa qualidade. “O investimento em tecnologias compensa em nossa região”, garante Ana Paula.

 

 

 

 

 

 

 

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