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Médico empreendedor de SP troca a aposentadoria pela lida no campo

O empresário bem sucedido, médico, sonhava em recuperar o rumo da própria vida, modificada por causa da vontade do pai. “Na verdade, eu queria ser padeiro. meu pai era padeiro, entregava pão e trabalhava como empregado numa padaria. eu falava: ‘pai, deixa eu trabalhar com você porque eu não estava indo bem na escola’ e ele falou:’ você está maluco, padaria é o pior ramo que existe’. Porque ele não conhecia a medicina”, conta Ayres da Cunha Marques.

Atualmente a fazenda de 20 hectares tem uma criação de tilápias, um frigorífico, uma graxaria e uma fábrica de ração. Abate 300 mil tilápias por mês e fabrica 580 toneladas de ração. Ayres teve que aprender muito para fazer a criação dar certo. Desde a fórmula exata da ração até o segredo do corte do filé que vai para o mercado.

A experiência de Ayres fez dele um empresário cheio de invenções. Na fazenda, ele bolou duas engenhocas para diminuir a mão-de-obra na despesca e a distribuição da ração.

“Meu princípio é o seguinte: o trabalhador não deve ter trabalho braçal tudo o que for trabalho braçal nós temos que substituir por processo mecânico”, conta.

Surgiu então o teleférico. A ração sai da fábrica e, em vez de ser carregada por trator, desce até a beira do rio por cabos de aço. Quando chega lá embaixo, a sacaria é descarregada e o saco vazio volta para a fábrica. Quem fala da vantagem do teleférico é o braço direito do doutor Ayres, o engenheiro Cláudio Mazocato.

“Eu tinha umas 12 pessoas envolvidas no processo. Hoje eu tenho duas ou três e não tenho o desgaste físico que tinha antes”, fala o engenheiro. A despesca também o incomodava. O modo tradicional de tirar o peixe da água é o pulsar, uma espécie de sacola com um cabo comprido, que o pescador usa para recolher manualmente os peixes. Ayres pediu ao Cláudio para construir algum equipamento que retirasse as tilápias de outra forma.

“Tira o peixe da água através da esteira e coloca já numa caixa com água e esse peixe é transportado vivo para o frigorífico. Se você tirar sem a água, o sofrimento é grande e causa um estresse antes do abate. Esse estreses antes do abate não é interessante para a qualidade do filé então com o nosso controle de qualidade, é preocupado nessa área de manter uma qualidade de filé e essa qualidade se inicia na forma da retirada do peixe da água”, explica Cláudio.

Aos poucos, com adaptações e muito trabalho, a fazenda ganhou estrutura. As tilápias se reproduzem naturalmente em bolsões. Atualmente a fazenda tem 1,5 mil fêmeas e 750 machos.

A desova ocorre a cada sete dias. As ovas coletadas vão para o laboratório de alevinagem. Ficam em incubadoras e, aos poucos, as larvas começam a eclodir. Depois de três dias, as larvas são levadas para os viveiros. São aproximadamente 15 mil larvas em cada tanque. Junto com a ração, as larvas recebem hormônio masculino para transformar todo o lote em machos. É a chamada reversão, como explica o biólogo Victor de Melo.

“A reversão é feita porque isso reflete na produção de engorda. Se eu tenho um lote com muitas fêmeas, a fêmea desenvolve menos que o macho”.

Durante 30 dias, as larvas recebem ração e hormônio de hora em hora. A fazenda é autossuficiente na produção de alevinos. São 750 mil por mês.

Eles serão divididos em tanques flutuantes de acordo com a idade e o peso e pode levar oito meses para a tilápia atingir o ponto certo de abate. Em dez hectares de lâmina d’água no rio foram instalados mil tanques-rede, dispostos em linha e sustentados por boias. Como eles estão distribuídos por fases, cada tanque recebe uma quantidade determinada de comida.

O peixe está pronto para ir para o frigorifico quando chega a 800 gramas. Antes do abate, elas ficam alguns minutos um uma bacia de gelo, etapa exigida por lei para garantir o bem estar dos peixes, como explica a veterinária Tainá Amarante.

“A gente joga o gelo e ele vai perder a sensibilidade, vai diminuir o metabolismo do peixe para que ele não sinta dor na sangria”. As tilápias são levadas pela esteira para a sala de abate. Passam pela sangria e por um banho com água e cloro, para fazer o controle microbiológico. Depois seguem para a sala de corte.

Cada tilápia rende dois filés. Todo o resto, ou seja, 70% do peixe, vai para a graxaria, local onde é feito o processamento das carcaças descartadas pelo frigorífico. O descarte vira matéria-prima para confecção da ração usada no criatório.

O frigorífico vende filés frescos ou congelados que podem ser encontrados em algumas grandes redes de supermercado de São Paulo. Depois de seis anos, as atividades ainda não cobriram os investimentos, o que deve acontecer em quatro anos.

O próximo passo do doutor Ayres é montar uma fábrica de processamento de alimentos, para vender tilápia empanada, tilápia defumada, sashimi de tilápia. Coisa para quem ainda tem muito o que realizar. “Eu estou achando que vou durar uns 200 anos. Porque se eu acreditar que não vou durar muito, não tem razão ficar aqui. Então eu acredito que eu vou conseguir ainda. Eu gosto de trabalhar e acho importante”, completa Ayres.

De acordo com o Ministério da Pesca, a produção de tilápia cresce em média 17% ao ano. O último registro oficial é de 2011, quando foram produzidas mais de 250 mil toneladas de tilápia.

 

Fonte: G1

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