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Manejo eficiente do pasto rotacionado

As pastagens constituem a base fundamental da exploração pecuária no Brasil central. Algumas revisões de literatura, apresentadas por diferentes autores, mostraram que a produção das plantas forrageiras concentra-se no período quente e chuvoso, ou seja, de outubro a março (cerca de 75 a 85% da produção total), e apenas 15 a 25% da produção total ocorre no período de “inverno” (abril a setembro) (NUSSIO et al. 1999). Dentro dessa ótica, o conceito de pastejo intermitente, ou rotacionado, tem sido uma das formas de utilização mais estudadas e indicadas deste recurso.

 Esse tipo de manejo tem como objetivo tornar o consumo mais eficiente das folhas produzidas, proporcionando o fornecimento de alimento de boa qualidade para os animais e fazendo com que a rebrota do capim ocorra de maneira uniforme. Dentro deste raciocínio, formas ainda mais eficientes de manejar um pasto rotacionado estão sendo estudadas. Inicialmente pensava-se em rotação de pastagens como uma simples mudança entre piquetes de tamanhos iguais, de forma contínua, um seguido pelo outro e em tempos fixos. Porém, este conceito tem sido mudado, pois se percebe que os ganhos são muito maiores para ambas as partes, capim e animal, quando este manejo for feito de modo mais observador, a partir da avaliação das condições de cada piquete antes de colocar os animais em pastejo.

Vários pesquisadores estudaram o crescimento de pastagens e verificaram que, depois que a planta atinge certa altura, quando o capim já cobriu todo o solo e está fazendo sombra nas folhas mais baixas da touceira, há diminuição no crescimento da planta e morte das folhas mais velhas, denominadas senescentes. O ideal é que a planta seja consumida pelas vacas antes que as folhas mais velhas comecem a morrer, de forma a tornar mais eficiente o aproveitamento da forrageira (Lima et al., 2009). Um exemplo é o capim Tifton, cuja recomendação atual é que consumo ocorra quando as plantas apresentarem 25 cm de altura, quando se observa 95% de interceptação luminosa. Portanto, o ideal é avaliar as alturas de entrada e saídas dos piquetes, que poderão ser feitas com o auxílio de uma régua ou trena, para, só então, determinar o piquete que será o próximo a ser pastejado.

Manejo pastagem

Foto: Medição da altura do capim

Uma vez definido o fluxo de pastejo, outros fatores importantes também precisam ser considerados, de forma a promover eficiência no sistema. Um deles é a taxa de fotossíntese da gramínea após a passagem dos animais, que pode ser prejudicada quando o pastejo for excessivo ou quando for reduzido, com muitas sobras. Quando a planta for pastejada de forma excessiva, seja pela altura de entrada ter sido abaixo da indicada ou por excesso de carga animal, a fotossíntese fica prejudicada pela pequena quantidade de folhas pós-pastejo para realiza-la. Em contrapartida, o excesso de folhas também é prejudicial à estrutura do pasto, devido à deficiência na interceptação luminosa, anteriormente citada, assim como à queda no consumo e no aproveitamento da forragem por parte do animal, já à qualidade da forragem é inferior em uma planta mais velha.

 Pensando no anteriormente exposto, é um equívoco tentar reparar um erro de manejo mantendo animais por mais tempo no piquete até que o pasto rebaixe na altura ideal. Esta atitude pode provocar erros em cascata. O primeiro deles é o risco de os outros piquetes também passarem da altura ideal, prejudicando, assim, a eficácia do sistema. Adicionalmente, estudos apontam que, após a redução da pastagem a 50% da sua altura de entrada, tem-se uma redução de 30% do consumo de pasto pelos animais, pois, neste momento, a qualidade da forrageira já está ruim, com muitos talos, e o animal passa a selecionar mais. Um agravante seria manter animais em lactação, principalmente lotes com maiores médias, neste piquete, com o objetivo de rebaixar a pastagem. Esses animais iriam pastejar menos a partir de certa altura do pasto e perder em produção.

Caso queira reduzir a altura de determinada pastagem, opte por colocar lotes de repasse, vacas secas ou novilhas prenhes. Ou seja, lotes com menores exigências. Porém, ainda assim, o tempo de recuperação deste pasto será mais longo, devido à redução da interceptação luminosa nas folhas da base da planta.

 Além dos fatores citados, o clima também pode ser um desafio ao pastejo intermitente. O primeiro ponto é a disponibilidade de água, que, por sua vez, depende da pluviosidade local. Além do mais, a temperatura da região também influencia no desenvolvimento da gramínea, pois muitas delas têm um crescimento muito lento em temperaturas inferiores a 15°C. Portanto, é preciso avaliar a pluviosidade e temperatura local ao se optar pelo sistema de pastejo, a fim de definir a gramínea mais adequada de acordo com o clima, solo, relevo.

Manejo Pastagem Rehagro

Foto: Piquetes irrigados para pastejo rotacionado

Por fim, talvez o maior gargalo para um sistema de pastejo intermitente eficaz seria o manejo da pastagem em si, que depende de uma equipe devidamente treinada e empenhada no projeto. Depois de certo, tempo a tendência é que o funcionário fique capacitado, de modo que este manejo vai se tornando cada vez mais rápido, automático e eficaz. Assim, de forma quase somente visual, o responsável conseguirá definir o melhor piquete a ser pastejado, quantidade de animais, necessidade de repasse, etc.

 

 Caso a implantação do sistema de manejo intermitente, com relação ao tipo de gramínea, tamanho dos piquetes e manejo adequado, seja eficaz, o sistema poderá ter muitos ganhos com relação ao desempenho dos animais. Com pastagens de qualidade, a economia com concentrados proteicos pode ser considerável, já que muitas gramíneas possuem boas quantidades de proteína. Este sistema de produção é um entre muitos outros dentro da pecuária e a escolha por ele dependerá dos desafios e características de sua propriedade.

 

 

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