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Implicações e estratégias na secagem de vacas com alta produção

Dentre as inúmeras ações recomendadas para reduzir a incidência da mastite em rebanhos leiteiros, está a utilização de antibióticos de longa duração no momento da secagem das vacas, ou seja, ao final do período de lactação. O tratamento de vacas secas visa prevenir a multiplicação de agentes na glândula mamária que teve sua ordenha interrompida, assim como combater infecções subclínicas desenvolvidas no período da lactação.

Um dos principais fatores que influencia na ocorrência de casos clínicos de mastite durante a lactação é a infecção intramamária que se desenvolve ou persiste no período seco que antecede o caso.Estudos, como o de ANDERSON & CÔTÉ (2001), indicam que 35% das novas infecçõesintramamárias, frequentemente, ocorrem nos primeiros dias após a secagem (figura 1), o que já indica a importância da atenção com os animais neste momento. A terapia de vaca seca e o cuidado com o ambiente onde os animais irão ficar no período seco são medidas básicas para se evitar a mastite.

 

Rehagro

Figura 1: taxa de novas infecções durante o período seco. As duas semanas pós-secagem e as duas semanas pré-parto são os momentos críticos para a aquisição de novas infecções

Devido ao prazo necessário para a glândula mamária recuperar-se da lactação anterior, é recomendado que as vacas sejam secas cerca de 60 dias antes do próximo parto previsto. Neste momento, é comum que a produção de leite já esteja baixa. No entanto, alguns animais, muito produtivos, podem chegar aos 10 meses de lactação com altas produções. A preocupação, nestes casos, é com a maior predisposição destas vacas em desenvolver mastite neste período.

  Isso ocorre porque os quartos mamários com maior volume de leite demoram mais tempo para fechar o canal do teto e formar o tampão natural de queratina, o que facilita a entrada de patógenos na glândula mamária. E, como não há ordenha e nem desinfecção do teto, ocorre menor eliminação destas bactérias da glândula mamária. Nessa situação, caso a vaca já esteja nos 60 dias que antecedem o parto, é aconselhável que seja procedida à secagem normalmente.Dingwell, et al. (2004) mostraram que vacascom produção de leite um dia antes dasecagem acima de 21kg tiveram 1,8 vezes menos chances de formar o tampão dequeratina. Como consequência, 35,6% destes animais desenvolveram infecção intramamaria durante o período seco, comparado com 18% das vacas queproduziam menos do que 21kg de leite um dia antes da secagem.

  Para tentar minimizar a possibilidade de infecções durante o período seco, o produtor pode utilizar tampões artificiais de queratina como ferramenta para auxiliar na formação de uma barreira no canal do teto impedindo a entrada de microrganismos para o interior da glândula mamária. Estes produtos são introduzidos no canal do teto posteriormente à aplicação do antibiótico para período seco.Importante ressaltar que o tampão não atua em infecções pré-existentes, ele tem o papel de impedir que novos microrganismos entrem na glândula mamária. Lembre-se que após a aplicação do selante, não deve-se massagear o teto, como é realizado na aplicação do antibiótico de vaca seca, pois o selante deve permanecer no canal do teto.

  A melhor medida, porém, seria evitar que vacas chegassem ao momento da secagem com elevadas produções de leite. Uma boa estratégia para se evitar isso é separar os animais em lotes, sendo um deles com animais em final de lactação, recebendo uma dieta menos energética e proteica, o que auxilia na redução da produção de leite gradativamente. A divisão de lotes e a alteração da dieta devem ser feitas de forma consciente e por um profissional da área, para que os animais não sejam prejudicados nutricionalmente, afetando o seu escore corporal e a gestação. A recomendação é que os animais sejam secos com escore corporal em torno de 3,5. Para vacas mestiças, considerar sempre 0,25 pontos de escore a mais.

  Para que o desafio da secagem ocorra uma vez só, é recomendado que a vaca seja seca de forma abrupta, ou seja, de uma única vez. O processo deve ser realizado da seguinte forma:

1 –Ordenhar a vaca completamente;

2 – Desinfetar a ponta do teto com toalha desinfetante ou algodão embebido em álcool 70%, sendo um para cada teto;

3– Aplicaro antibiótico intramamário de vaca seca, em todos os tetos (uma bisnaga para cada teto). Para bisnagas de cânula longa, inserir parcialmente a cânula;

4– Massagear o teto no sentido do úbere para que o antibiótico alcance mais facilmente o interior do úbere;

5 – Aplicar o selante interno de teto – não realizar a massagem;

6 – Realizar o pós-dipping;

7– Identificar o animal como seco e direcionar ao grupo dos animais que não estão em lactação;

8– Nas 3 primeiras semanas após secagem, estes animais devem ser monitorados pelo menos 3 vezes por semana, para avaliar se há presença de mastite clinica.

 

  Por fim, é preciso ter em mente que além dessas medidas citadas para o período seco, a melhor forma de se evitar mastite, seja nessa fase ou durante a lactação, é agir de forma preventiva. Um simples treinamento da equipe sobre as boas práticas de manejo durante a ordenha, quais tratamentos utilizar e como fazê-los pode reduzir consideravelmente a ocorrência desta enfermidade. Com isso, as perdas econômicas e produtivas se tornam menores, melhorando a eficiência do sistema como um todo, que deve ter por objetivo produzir leite de forma econômica, produtiva ecom qualidade.

 

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