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A cartada da China contra a Vale

A ameaça da China de suspender as exportações de minério de ferro da Vale é vista pelo mercado como mais um "round" na queda-de-braço aberta entre a companhia brasileira e suas clientes chinesas para repassar aumento residual de 11% no preço da matéria-prima, retroativo a abril. Nesta briga, os chineses têm uma carta na manga: compram um terço de toda exportação da Vale.

Em 2008, este percentual deve subir. A previsão da mineradora é enviar à China 110 milhões de toneladas do produto, cerca de 40% das 270 milhões de toneladas que prevê exportar.

O presidente da Vale disse na sexta-feira (dia 26) que se a China parar de comprar minério de ferro do Brasil sua siderurgia pára. Ele considera a China muito dependente do minério de qualidade da Vale para fazer mistura com o seu produto, cujo teor metálico é de apenas 25%, bem inferior ao de Carajás, com 66%.

Para cada tonelada importada do Brasil e Austrália, a China tem de processar três, o que leva os custos às alturas. Em 2006, enquanto processou 588 milhões de toneladas de minério próprio, com teor de 28%, importou 326 milhões de toneladas, segundo dados IISI, entidade da siderurgia. Neste ano, a previsão é importar quase 500 milhões de toneladas, mais de 60% das vendas transoceânicas.

Para analistas, a ameaça chinesa no curto prazo pode até ser bem sucedida, uma vez que dispõe de estoques de 70 milhões de toneladas de produto local nos pátios das usinas e nos portos. Isso pode representar um baque na receita da Vale: vendas à China representaram 17% de sua receita no segundo trimestre. "Muitas gente começou a estocar produto nos últimos tempos", informa um especialista do setor.

Mas, no médio e longo prazo a situação se inverte e a China pode enfrentar problemas, alertam os analistas. A perda de qualidade do aço chinês é um deles. Quem garante a qualidade do aço chinês é a mistura que as siderúrgicas locais fazem com o minério de teor elevado de Carajás. E não há como substituir as importações da Vale por outras fontes. Novos projetos de mineração no mundo só estarão operando a partir de 2010 e 2011. "Vale e China têm hoje dependência mútua e fica difícil definir quem perde e quem ganha neste confronto", observou uma fonte.

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