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Você sabe os custos da produção de gado de corte a pasto?

A produtividade animal em pastagem depende do desempenho animal (ganho de peso vivo), que está associado à qualidade da forragem e a capacidade de suporte da pastagem (número de animais por unidade de área). Tal capacidade é função da produtividade de massa de forragem. Embora as gramíneas forrageiras tropicais não sejam de excelente qualidade permitindo ganhos de peso vivo na faixa de 0,6 a 0,8 kg/animal/dia, a produtividade animal pode ser elevada pelo seu grande potencial de produtividade de massa, principalmente no período das águas (CORRÊA, 1997).

Esta publicação, objetiva relacionar e quantificar os custos de produção de gado de corte envolvendo cria, recria e terminação em pastagem submetida à adubação de manutenção, desde a implantação da espécie forrageira até a venda dos animais.

Para tanto, cabe ressaltar que alguns cálculos foram realizados por docentes e discentes da área de Forragicultura e Pastagens do curso de Pós-Graduação em Zootecnia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da UNESP – Campus de Botucatu, incentivados pelos constantes questionamentos referentes à viabilidade dos sistemas de produção de gado de corte em pastagem. Os itens e os custos utilizados para tal cálculo foram adaptados para o Estado de São Paulo, com base em trabalhos de custos de produção de gado de corte realizados por pesquisadores da Embrapa Gado de Corte (Campo Grande/MS). Para o cálculo, considerou-se a média histórica da @: R$ 72,00 e R$ 62,00 para boi e vaca, respectivamente.

O módulo mínimo para produção de gado de corte em pasto deve ter 145 ha, sendo 108,7 ha para a fase de cria e 36,3 ha para as fases de recria e terminação, considerando uma taxa de lotação média de 6 e 3 UA por ha, respectivamente (UA = 450 kg de peso vivo). O investimento inicial é alto (R$ 674.725,32), sendo que os principais desembolsos são com a aquisição das matrizes (R$ 232.800,00) e a formação de 145 ha de pastagem (R$ 217.500,00), as quais representam 34,50 e 32,24% do investimento inicial para implantação do sistema para produção de gado de corte em pasto (Tabela 1).

Tabela 1. Custos de implantação do sistema para produção de gado de corte a pasto

No caso em estudo, computou-se a depreciação da pastagem, considerando que quando se adota o correto manejo e adubação de manutenção, a mesma não se degrada, mantendo-se produtiva por infinito período de tempo, depreciando apenas benfeitorias, máquinas e animais, diluídos para 10 anos de utilização (Tabela 2). Assim, os maiores custos com depreciação foram sobre as matrizes (50,10%), as quais apresentam 10 anos de vida média produtiva. Ressalta-se a importância de tais custos, pois muitos produtores não os consideram e no momento de reposição dos mesmos, não possuem o capital, prejudicando a atividade.

Tabela 2. Custos anuais com depreciação (10 anos)

Dentre os custos anuais variáveis, a adubação da pastagem é o item que apresenta o maior valor, representando 46,66% deste custo (Tabela 3). No entanto, tal custo reflete a intensificação do sistema, visto que a adubação de manutenção da pastagem permite maior taxa de lotação e maior produtividade animal em relação a sistemas extensivos de produção, além de que, quando aliada ao correto manejo, evita a degradação da mesma. Outro item com representatividade considerável nos custos anuais variáveis é a compra de matrizes para reposição (21,42%). Porém, a venda das matrizes de descarte compensa tal custo de aquisição de novos animais (Tabela 4). O desempenho animal do presente sistema é de aproximadamente 16,2@/ha/ano, corroborando com as 8,0-18,0 @/ha/ano citadas por Martha Júnior et al. (2006) em sistema pastoril com adubação moderada na região do Cerrado. De acordo com tais autores, o desempenho animal em pastagem degradada e em pecuária tradicional é de 0,8-2,0 e 2,5-7,0 @/ha/ano, respectivamente, demonstrando que o correto manejo e a adubação de manutenção da pastagem proporcionam ganhos em produtividade.

Tabela 3. Custos anuais variáveis

Tabela 4. Produção e receitas anuais

A lucratividade do sistema foi de 12,63% e considerando renda mensal para o produtor de três salários mínimos (R$ 1.635,00), a renda mensal da propriedade é de R$ 342,14 (Tabela 5). No entanto, vale ressaltar que foi considerada a média histórica da @ do boi. Se fosse considerado os valores do dia 14/03/2011 divulgados pelo BeefPoint (R$ 103,00 e R$ 95,00 para @ de boi e vaca, respectivamente), a lucratividade aumentaria para 39,46%, com elevação da renda mensal da propriedade para R$ 7.278,19, além dos mesmos três salários mínimos como renda mensal para o produtor. Portanto, melhores resultados do sistema também são dependentes do preço pago pela @ em determinada época. Assim, pode-se afirmar que no momento, a pecuária de corte é uma atividade bastante lucrativa. Porém, a médio/longo prazo tal situação pode ser alterada.

Tabela 5. Margens econômicas anuais e renda mensal do produtor e da propriedade

No contexto da interação dos aspectos econômicos e ambientais, o presente sistema desponta como uma opção viável com potencial para a intensificação da produção agrícola e aumento da lucratividade. Também é possível a redução dos riscos de degradação do solo e melhor aproveitamento das áreas agrícolas durante todo o ano, o que consequentemente diminui a necessidade de abertura de novas áreas, principalmente advindas do desmatamento. A diversificação da produção desse sistema também traz benefícios sociais, gerando empregos diretos e indiretos, além da distribuição mais uniforme da renda, o que favorece a fixação do homem no campo.

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